Certa vez, durante ainda meu curso de graduacao no
Brasil, tive a oportunidade de ler o famoso livro de Dale Carnegie, “Como fazer amigos e influenciar pessoas”.
Uma cópia me chegou às maos através do meu amigo Gustavo Sousa. Logo no inicio,
tinha uma historinha chamada “Father forgets”, de W. Livingston Larned, escrita ainda na década de 20 do século passado.
Me deparei com essa historia novamente há pouco
tempo atras e acho que todos os pais deveriam dar uma lida, pelo menos uma vez.
Eu já reli várias vezes. O texto se dá com o pai sentado ao lado da cama,
falando ao filho enquanto este dorme. Ele diz:
“Escute, filho, eu estou falando isso pra voce
enquanto voce dorme, com uma maozinha embaixo do seu rosto e seus cabelos pregados
na sua testa úmida. Eu entrei no seu quarto sem ninguem ver. Essa vontade surgiu
enquanto eu lia meu jornal na bilbioteca, e uma forte onda de remorso me tomou
de assalto. Cheio de culpa, vim para cá.”
“Tem umas coisas que eu estava pensando, filho. Eu
tenho sido muito bruto com voce. Eu gritei com voce enquanto voce se vestia pra
escola porque voce não tinha lavado bem o rosto. Fiquei irritado porque não
havia limpado bem os seus sapatos. Eu fiquei ainda mais bravo quando voce
deixou cair algumas das suas coisas no chao, por acidente”.
“Na hora do café da manha, novamente fiquei com
raiva, porque voce deixou cair comida no chao. Engoliu a comida sem mastigar e
colocou seus cotovelos na mesa. Voce colocou manteiga demais no pão. Quando
voce comecou a brincar, eu, com toda raiva, parti pro trabalho. Voce parou de
brincar e comecou a ir atras de mim pra se despedir, pulando de alegria,
dizendo “Tchau, papai!” e eu com a testa franzida, disse em resposta, “Mantenha
seus ombros eretos” e saí sem dizer mais nada”.
“Tudo comecou novamente à tarde. Quando eu vinha
chegando em casa, o vi de joelhos jogando bolas de gude. Tinham furos nas suas
meias. Eu humilhei voce na frente dos seus amigos, fazendo com que voce
marchasse na minha frente até a nossa casa. Meias são caras e se voce tivesse
que comprá-las, voce iria ser mais cuidadoso. Imagine isso, filho, vindo de um
pai?”
“Voce se lembra um pouco mais tarde, quando eu tava
lendo o jornal na biblioteca, da forma timida que voce chegou, como que com o
olhar magoado? Entao eu olhei por sobre o jornal, irritado com a interrupcao que
voce tava me causando, voce hesitou na porta e entao eu perguntei “O que você
quer?”, em tom rispido?”
“Voce nao disse nada, mas apenas correu pra mim, e
num mergulho, jogou seus bracos em torno do meu pescoco, me abracando e me
beijamdo, e seus bracinhos apertados traziam todo o amor que estava no seu
coracao e que mesmo minha falta de atencao e afeto não conseguiu matar. E de
repente, voce foi embora, subindo as escadas pro seu quarto, alegre”.
“Bem, filho, foi apenas uns segundos depois disso
que o jornal caiu das minhas maos e um sentimento terrivel de medo caiu sobre
mim. O que o habito tem feito comigo? O habito de procurar culpa, de criticar
tudo. Essa era a minha recompensa pra ti por seres crianca. Não era porque eu
não te amava, o problema é que eu esperava demais de voce, um menino. Eu estava
avaliando voce comparando com meus proprios anos de vida”.
“E tinha tanta coisa que era tao boa e perfeita no
seu carater. O teu pequeno coracao era tao grande quanto à alvorada que se
levanta por detras das montanhas. Isso foi demonstrado pelo seu impulso
espontaneo de correr e me beijar antes de ir dormir. Nada mais importa esta
noite, filho. Eu vim pra sua cama agora no escuro e me ajoelhei aqui,
envergonhado”.
“É uma tentative fraca de desculpa, eu sei. Mas sei tambem
que voce não entenderia essas coisas se eu dissesse pra voce enquanto voce está
acordado. Mas amanha eu serei um pai de verdade. Vou ser teu companheiro, e
irei sofrer quando voce sofrer e rir quando voce rir. Irei morder minha lingua
quando palavras de impaciencia insistirem em sair da minha boca. Vou repetir
pra mim mesmo como se tivesse dizendo um mantra: “Ele é apenas um garoto, um
pequeno garoto”.
“Eu receio que te olhei como um homem. Mas como
posso ver agora, filho, enrolado e fragil na sua caminha, vejo que ainda és um
bebê. Ontem, voce estava nos braços da sua mae, sua cabeça no ombro dela. Eu te
cobrei demais, demais…”
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