José Dirceu de Oliveira nunca dormia na mesma casa todas as noites, andava
sempre armado e com seguranças. Ele era o presidente da UEE, União Estadual dos
Estudantes, de São Paulo. Isso era na época em que concorria a presidência da
UNE, uma vez que o seu companheiro, Vladimir Palmeira, que seria o candidato
natural do seu grupo, se encontrava preso e tinha ficado muito conhecido.
O DOPS queria prender José Dirceu antes dessa eleição da UNE, que iria
ocorrer no 30º Congresso Nacional dos estudantes, marcado para o fim de Outubro
de 1968. Por causa desse congresso, as lideranças estudantis ficaram mais
cautelosas e suspenderam as passeatas e evitaram qualquer choque com a polícia.
Vladimir Palmeira, presidente da UME, havia sido preso em 3 de agosto, no
Rio de Janeiro. A UME era a União Metropolitana dos Estudantes, do Rio de
Janeiro. Franklin Martins era o seu substituto na presidência da UME enquanto
Palmeira estava preso. Quando Palmeira foi preso, a sua área de atuação se
dividiu em duas. Uma comandada por Martins, que era favorável a luta dos
estudantes dentro das universidades e a outra linha era comandada por Marcos Antônio
Nascimento, que defendia uma luta mais direta contra o governo.
Já o presidente da UNE de então, Luís Travassos, defendia uma linha ainda mais
agressiva e seu lema era: “O povo unido derruba a ditadura”. Honestino
Guimarães, da Universidade de Brasília, era um dos candidatos fortes à presidência
da UNE, mas também se encontrava preso junto com Palmeira. Também presa estava
Catarina Meloni, também presidente da UEE juntamente com Dirceu, pois a UEE
havia também se dividido em duas alas.
Outro líder estudantil preso era Atos Magno da Costa e Silva, presidente do
DCE de Minas. Atos Magno deixou em seu lugar o ex-presidente do DCE mineiro Jorge
Batista, que também era forte candidato à presidente da UNE. Preso também
estava Bernardino Figueiredo, presidente do Gremio da Faculdade de Filosofia da
USP. Havia sido libertado pouco antes do 30º Congresso o estudante Edson
Soares, um dos vice-presidentes da UNE, que tinha muito prestígio entre os
estudantes, mas que aparecia menos do que Dirceu e Travassos. Esses nomes
compunham a alta cúpula do movimento estudantil brasileiro em 1968.
Com uma manobra jurídica, Vladimir Gracindo Soares Palmeira foi solto em
setembro de 1968, mas ao ser solto, já haviam emitido uma outra prisão
preventiva pra ele. Com isso, todas as delegacias do DOPS e regiões militares
do país recebiam ordem para prende-lo novamente e encaminha-lo pra Marinha. Por
causa disso, Vladimir Palmeira decidiu não concorrer a nenhum cargo de
diretoria da UNE. Também porque seu rosto era muito conhecido e como a UNE era
ilegal, o presidente precisava ser locomover sempre na clandestinidade.
Fora da disputa, Vladimir Palmeira passou a apoiar a então candidatura de
José Dirceu de Oliveira. Franklin Martins havia vencido a disputa com Marcos Antônio
Nascimento e passou a ser o presidente do DCE da Universidade Federal do Rio de
Janeiro. Nascimento esse que era apoiado por Luís Travassos, que era o presidente
da UNE em 1968. Franklin Martins era filho do senador Mário Martins.
A linha de Travassos perdeu da linha de Palmeira no Rio. Travassos, como já
foi dito, pregava a radicalização do movimento estudantil. Queriam lutar nas
ruas, lutar à frente do povo contra a ditadura e o imperialismo. A luta de
Palmeira pregava a luta dos estudantes dentro das universidades, para
reforma-las e assim contribuir na sua luta contra o governo.
Tudo se encaminhava pra eleição de José Dirceu no 30º Congresso da UNE,
afinal restavam poucos nomes pra concorrer ao cargo. Honestino Guimarães, de Brasília,
e Atos Magno da Costa e Silva, de Minas, estavam presos. Para Travassos só
restava Jean Marc, da UFRJ, para concorrer com Dirceu. Edson Soares apoiava
Dirceu, assim como Carlos Alberto Muniz, presidente da UME, que sucedeu
Vladimir Palmeira.
A UNE passou a se chamar Ex-UNE desde a lei 4.464, de 9 de novembro de
1964, que a considerou extinta. Para substituir a UNE, foi criado o Diretório
Nacional de Estudantes. Então a UNE, já Ex-UNE, promoveu um plebiscito
perguntando aos estudantes se apoiavam a Lei 4.464, também conhecida como Lei
Suplicy Lacerda, nome do então ministro da Educação. Os estudantes votaram em
92,5% contrários a lei.
Em fevereiro de 1967, o então presidente Castelo Branco decidiu revogar a
lei, assinando o decreto-lei 288, extinguindo também o DNE. Com isso, os
estudantes não podiam ter uma associação nacional de forma alguma. O decreto-lei
288 dizia que as associações estudantis deviam se ater a cada universidade. Mas
isso não parou que a UNE continuasse se encontrando, em congressos
clandestinos.
Em junho de 1964, se encontraram no restaurante Calabouço, no Rio de
Janeiro. Restaurante esse que foi fechado em 1968 pelo então presidente Costa e
Silva. Em 1965 também se reuniram no Rio de Janeiro, elegendo o carioca Alberto
Abissamara pra presidente. A reunião de 1966 foi no convento dos padres
Franciscanos, em Belo Horizonte, e elegeram o mineiro Luís Moreira Guedes. Em 1967,
reuniram-se no convento dos Beneditinos, em Vinhedos, São Paulo. O eleito foi o
paulista Luís Travassos.
O Congresso de 1968 ia ser em Ibiúna, São Paulo, mas foi abortado antes mesmo
de começar pelas forças militares. Falaremos mais em detalhes sobre esse evento
um pouco mais tarde.
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