segunda-feira, dezembro 03, 2012

Cartola FC 2012 – Fhc Futebol Club

Encerra-se mais um ano de Cartola FC. Este ano dei uma melhorada significativa com relacao ao ano passado. Em 2011, eu terminei com a pifia pontuação de 1180.14, ficando em 855.772º lugar da liga nacional, de um total de 2.005.049 participantes. A média que tive foi de 31.05 pontos por rodada. 

No ano de 2012, terminei com a pontuação de 2292.48, ficando em 52.720º da liga nacional, de um total de 2.258.172 participantes. A media que obtive foi de 60.32 por rodada. Meu objetivo foi alcançado, que era de ficar entre os 100 mil do país. O sujeito que ganhou a liga nacional teve a pontuação 2865.95, ou seja, média de 75.41 por rodada.

A liga do big dog, liga essa criada por mim e que pagava 100 reais de prémios pro segundo turno, terminou assim a classificação geral do segundo turno.

1º - Fhc futebol club (eu) – 1320.29 (média de 69.48, o que se manter, estarei bem no torneio todo)
2º - Real de Natal FC – 1217.21
3º - S.C.Coperos Paulista – 1143.05
4º - Tapura Futebol Clube – 1123.36
5º - Moma F.C – 1115.72
6º - Luckybarr FC – 1014.58
7º - Fodao2012 – 901.19
8º - Phortoes FC – 891.79
9º - Flu Mecão RN – 882.76
10º - Passaros Raivosos – 835.06

Vamos tentar aumentar o numero de participantes da liga, pra dar mais emocao e aumentar o valor do prêmio.

sexta-feira, novembro 30, 2012

Royal Bank Stocks - Nov 2007 to Nov 2012



Bem, saindo um pouco da minha estratégia de investimentos, que é comprar e manter pelo longo termo ações que paguem dividendos, vendi hoje minhas ações do Royal Bank of Canada. Apos tê-las por cinco anos, pois comprei-as em novembro de 2007, achei que estava na hora de vende-las.

Cada ação do RBC, incluindo ai os custos de $29,00 dólares de comissão pra comprar, e $29,00 dólares de comissão pra vender (que desde 2007 permanece inalterado) e os dividendos recebidos nesses cinco anos, saiu pra mim por $43.37 dólares.

O preço final de venda que obtive foi de $58.50 dólares por ação. Ou seja, em cinco anos, obtive um lucro de $15.13 dólares por ação. Ou seja, ganhei $3.07 dólares em cada ação por ano. Nada mal quando sabemos da crise mundial que tivemos e ainda não nos recuperamos ainda.

Em termos de percentagem, que é o que conta quando pensamos em investimentos, tive uma valorização de 34.89% em cinco anos, ou seja, uma valorização de $6.97 ao ano. Valeu RBC, até a próxima.

quinta-feira, agosto 02, 2012

A moça de Patu


A moça de Patu nunca casou. Até hoje. E naquela época também nunca havia casado. Zilene Tavares Meira tinha duas irmãs. Uma era Zileide Tavares Meira e a outra era Evandra Holanda de Oliveira. Eram as três filhas de Gonçalo Meira e de Dona Nazinha Holanda. Evandra era a minha avó Vanda e Zileide é outra tia muito querida, mas que até esse momento não havia entrado nessa historia ainda.

Como não tinha uma dicção muita boa naquela idade, eu não conseguia pronunciar o nome Zilene, então automaticamente encurtei para o som que eu conseguia pronunciar. Assim, rebatizei-a de “N” ou “Ene”. Explicando para os poucos observadores, são as três ultimas letras do nome dela. Hoje em dia tem uns primos mais novos que teimam em chamá-la de “Nena”, uma coisa tao sem lógica que eu nem tecerei comentários. Uma pessoa pode até ter dois nomes numa mesma vida, três não dá, é impossível. Será o chacal? 
    
Ene e as duas irmãs fazem parte daquele time de pessoas tao doces que ficamos até com vergonha de existir perto delas. Aquele time de pessoas que já tem o lugar garantido no céu. Já maiorzinho, minha mãe ia trabalhar e eu ficava o dia na casa dela, sempre com muita atenção, sendo alimentado com uma boa carne de sol com arroz de leite, brincando no quintal da casa dela, lá em Nova Descoberta, bem perto do cemitério.

Quando eu já podia sair sozinho de bicicleta, ia sempre lá, visitá-la e saborear do seu sorriso e de sua alegria sincera por estar me vendo por ali. Nunca, eu repito, nunca recebi um carão de Ene, de Zileide ou de Vovó Vanda. De minha parte digo que também nunca fiz por onde demais. Sempre as tive na mais alta estima e nunca admiti sequer levantar a voz para nenhuma delas. Grande parte das minhas fotos de infância tem a presença de uma das três, constantemente.

Zileide trabalhava na Datanorte, a empresa de processamentos de dados do Estado do Rio Grande do Norte, que meu pai fez parte da equipe fundadora. Trabalhou a vida inteira por lá, pelo que sei, até se aposentar. Por isso enquanto Zileide trabalhava, eu passava o dia inteiro com Ene. Daí meu contato ter sido maior com Ene. Mas Zileide também sempre foi uma figuraça.

Pensando bem agora, a coisa que eu acho que elas mais gostam de fazer na vida é sorrir. Sempre com um sorrisão estampado no rosto. Quando me encontrei com Ene agora em Salvador, pois em 2010 elas foram passar o Natal comigo, e disseram que eu estava gordo, ela disse: “Ele está parecido com Oliveira!”, despistando o comentário elegantemente. Oliveira era meu avô materno.

Lá pra meados de 2001 ou 2002, Ene teve um aneurisma cerebral e quase veio a óbito. Ficou muito mal, todos davam como fatal ou que pelo menos ia ficar com sérias sequelas. Mas eis que a sertaneja não só não morreu, como não teve sequela alguma. Mas digo que foi um dos momentos mais angustiantes que tive aqui nesse Canadá. Só lembrava do sorriso e do abraço dela.

Ah, lembrei quando ela perdia o sorriso. Quando meu bisavô Gonçalo, o pai dela, por puro sadismo, me dava um beliscão de soldado e não soltava mais, dessa vez ele rindo ao invés dela. Ria aquele riso de psicopata ao me ver pular pra um lado e pro outro de dor, preso somente pela mão forte daquele octogenário que trabalhou a vida toda no campo.

Ene chegava e acabava com a farra dele. Mas, apesar de levar os beliscões, eu era muito burro. Todo dia caia na conversa dele e chegava perto de novo, pois ele me dava os beliscões sem nem levantar da cadeira de balanço em que estava sentado. Uma coisa surreal. E no dia seguinte, ele dizia baixinho: “Vem cá!” e eu ia de novo. Ene nunca disse: “Você é burro, hein? Porque vai pra perto dele?” Ela apenas ficava passando a mão na marca que o beliscão deixava no meu braço.    

Minha bisavó Nazinha era outro doce de criatura. Comigo. Não sei com os outros. Era muito pequeno pra avaliar o relacionamento que ela tinha com os outros.  Eu gostava muito de conversar com ela. Passava horas e horas.

Bem, meu bisavô Gonçalo, o pai da moça de Patu, foi a primeira pessoa da minha família que morreu. Eu fiquei por bastante tempo triste, apesar de não dizer nada. Lembro que ele tava doente, deu uma melhorada e morreu. Acho que eu devia ter uns 12 anos de idade. Eu tinha ido visita-lo de dia de bicicleta e me disseram que ele tinha morrido. Tive que voltar sozinho de bicicleta pra casa, já de noite, com a imagem e a sensação da morte perto de mim.

Pedalei o mais rápido que podia e cheguei logo em casa. Nunca mais esqueço disso. Descobri ali que realmente as pessoas morriam. E se meu pai morresse? E se minha mãe morresse? O que eu iria fazer?

Vovó Nazinha morreu quando eu já morava no Canadá, nos anos 2000 e poucos, com quase 95 anos. Me parece que já não reconhecia ninguém e falava como se estivesse na infância. Minha Vó Vanda (Evandra) morreu quando eu já estava aqui também, no final de 2005, acho que Novembro. Quando vovó Vanda morreu, passaram-se 7 dias e nós descobrimos que minha mulher estava grávida. Minhas filhas nasceram em Junho de 2006.

Sobraram, graças a Deus, Zileide e Ene, lutando bravamente nessa vida às vezes tao difícil. Na minha mente, só quem morreu foi Vovô Gonçalo, pois o vi morto e sendo enterrado. Vovó Nazinha e Vovó Vanda eu não vi, e penso que estão sentadas agora nesse momento, cada uma em uma cadeira de balanço, dando risadas de alguma presepada feita por algum neto. Eita que privilégio da porra ter herdado alguns genes desse povo maravilhoso. 

terça-feira, julho 03, 2012

Mirassol


Antes de pegar o beco geral, eu fiz dois pit stops, sendo um curto e um longo. O primeiro pit stop foi em Mirassol. Fiquei por lá entre 1975 e 1978. Não, não é a cidade paulista, é um conjunto de Natal, parte do bairro de Capim Macio. E foi justamente nesse Mirassol que meus pais haviam adquirido a casa que eu iria tao logo que saí da Januário Cicco. Eles haviam tomado posse da casa em 6 de dezembro de 1973, um dia após o casamento deles.

O conjunto de Mirassol foi fundado no ano de 1973, ou seja, meus pais fazem parte dos primeiros moradores de lá. O conjunto tem 26 hectares de área total e aproximadamente 900 residências. Conta com apenas 16 ruas e 6 praças.

O conjunto é situado entre a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e a BR-101. No começo, as ruas eram denominadas por letras, ou seja, eram ruas A, B, C, D e daí por diante. Só depois é que mudaram para nomes de flores. A casa foi financiada pela COHAB. Na época, meu pai trabalhava no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o INPE. Como o bairro foi erguido para abrigar os professores e funcionários da Universidade e como o INPE era ligado à Universidade, meu pai estava dentro da lista. Só depois é que foi aberto à população.

Em 1978, com a construção de uma nova casa, meus pais venderam a casa ao meu avô paterno, vovô Oliveira, que depois repassou-a à uma irmã da minha mãe, minha tia Nalba, que até hoje habita na mesma residência, no número 830 da rua dos Antúrios. A diferença é que depois de 2 mil reformas, a casa não lembra nada a que eu nasci, somente as coordenadas globais de latitude e longitude.

Hoje em dia Mirassol possui um dos mais novos cartões postais da cidade, uma gigantesca arvore de Natal, que fica acesa todos os dias do ano. Mas, na época em que minha família se mudou para lá, Mirassol era o fim de Natal pro lado da zona sul. Ninguém queria morar por lá.

A nossa casa tinha um jardim na frente e era cercada por um muro baixo, que atingia a altura da cintura de um homem de estatura mediana. O portão era de ferro, da mesma altura. Os tempos eram outros. Ah, como eu queria ter vivido naquele tempo. Eu vivi, é verdade, mas queria ser adolescente naquela época.

A rua dos Antúrios tem uma parte que faz um “U” invertido e a nossa casa era mesmo no cume desse “U”. Certa feita fui levado para passear com uma babá e a mesma se deparou com um cachorro. O cão não gostou da jovem ou gostou demais, e pôs-se a correr atras dela. Ela por sua vez não sabia das intenções do cachorro com ela e correu também, tentando proteger suas próprias vísceras.

Acontece que no meio disso tudo, estava eu. Dentro de um carrinho de bebe, daqueles que ficamos deitados e lógico, naquela época ninguém pensava nem em cinto de segurança pra carro, imagine então pra carrinho de bebê? A moçoila correndo pra salvar-se, e eu descendo a ladeira dentro desse caixão de rodas, sem tampa, solto, sem freios e sem motorista.

Não se sabe o que ocorreu depois disso, pois a ré nunca irá contar tudo, uma vez que já notamos que ela não era besta. Mas o fato é que, de acordo com o psicólogo da família (minha mãe), com certeza é por isso que até hoje eu tenho ojeriza por cães.

Da minha memoria, eu lembro de alguns vizinhos. Do lado esquerdo era Dona Rodes e seu Nico e seus zilhões de filhos, todos adultos já. Do lado direito era a casa dos amigos André e Iran. André passou uma temporada nos Estados Unidos e Iran tocava bateria na noite natalense, inclusive chegando a tocar na banda Arapuca, que tinha também como integrante Thennius Britto, amigo do Jiu-Jitsu. Acho que a família deles ainda mora lá.

Foi nessa casa de Mirassol que tive o primeiro contato com minha maravilhosa tia Zilene Tavares Meira. Na verdade ela não é minha tia, ela é tia da minha mãe, pois ela é irmã da minha avó materna, Vovó Vanda.

A minha vizinha Dona Rodes perguntou quem era aquela senhora que tinha vindo para tomar conta de mim. Com a espontaneidade infantil, eu respondi que não sabia quem era, só sabia que era uma mulher de Patu. Evidentemente que eu não sabia o que era Patu e nem sabia que Patu era uma cidade. Eu devo ter ouvido ela falar que veio de Patu e decorei isso. Eu só sei que essa resposta foi piada interna daquele trecho de rua e da família por muito tempo. 

Na foto, papai e mamãe na nossa casa de Mirassol, no final dos anos 1970s.

segunda-feira, junho 18, 2012

Januário Cicco


Foi na Maternidade Escola Januário Cicco que eu passei pro lado de cá do mundo. Ela ficava e ainda fica localizada no bairro de Petrópolis, em Natal, no estado do Rio Grande do Norte. Apesar de dar nome a uma cidade fluminense, Petrópolis também é um bairro de Natal. Assim, tecnicamente, eu e grande parte da população que nascia naquela época, somos todos oriundos do bairro de Petrópolis, pois como diz minha mae, a Januário Cicco era a maternidade da moda.

Olhando ao redor, a Januário Cicco fica em uma excelente localização, uma verdadeira área nobre da cidade. Está cravada no número 259 da Nilo Peçanha, que vem a ser uma continuação da Prudente de Morais, uma das maiores avenidas da cidade. O último suspiro da Prudente indo na direção leste é a Praça Pedro Velho, também conhecida como Praça Cívica. Logo depois, a Prudente se torna Nilo Peçanha, que segue num pequeno trecho que vai até a Getúlio Vargas.

A geografia é mais ou menos essa. A Januário fica quase na junção entre as duas maiores avenidas da cidade, que são paralelas por ofício. Como se juntam se são paralelas? Ora, a Prudente tinha sua verruga chamada Nilo Peçanha, como se tivesse criada somente pra encontrar com a Hermes da Fonseca. Então a Hermes pra não perder a pose, também criou uma verruga entortada pra esquerda, logo após o Mercado de Petropolis, chamada Coronel Joaquim Manoel. O Joaquim Manoel só liga a Hermes e a Nilo Peçanha.  

A Januário Cicco foi fundada em 19 de março de 1928 e inaugurada em 2 de fevereiro de 1950. Meu pai, que nasceu em 1948, não nasceu lá. Minha mãe, que nasceu em 1954, não nasceu lá. Meu irmão, que nasceu em 1978, não nasceu lá. Mas minha irmã que nasceu em 1982, nasceu lá. A Maternidade se chamava Maternidade de Natal, e foi idealizada por Januário Cicco, que recebeu seu nome em 1961.

Januário Cicco foi um médico norte-rio-grandense, nascido em São José do Mipibu em 30 de abril de 1881. Formou-se na Bahia em 1906 e veio pra Natal e construiu o Hospital de Caridade Juvino Barreto, hoje chamado Hospital Onofre Lopes, localizado no encontro da Getulio Vargas e da Nilo Peçanha. Como não tinha autonomia, pois o hospital era do estado, o doutor Januário Cicco criou a Sociedade de Assistência Hospitalar com a finalidade de administrar o hospital como serviço terceirizado. Logo fundou a Maternidade de Natal, que teve início das obras em 1932.

No início de 1940, a Maternidade estava pronta pra funcionar, mas o esforço de guerra, representado na capital do estado pela construção do campo de aviação de Parnamirim, com uma base americana, fez com que a maternidade fosse ocupada como quartel-general das forças aliadas e hospital de campanha. Se pensarmos bem, essa foi a minha mais próxima ligação com a guerra. Nasci num hospital que tinha sido hospital de campanha. Nada como os heroicos bombardeios em Liverpool quando do nascimento de John Lennon, em outubro de 1940, mas já é alguma coisa.

Com o final da Segunda Guerra Mundial e após intensa campanha do doutor Januário Cicco, eles conseguiram recuperar o prédio, restaurá-lo e recolocaram-no para funcionar, o que ocorreu somente em 1950. O doutor Januário Cicco morreu em primeiro de Novembro de 1952. O doutor Onofre Lopes passou a ser o seu sucessor na Sociedade de Assistência Hospitalar, e deu continuidade ao sonho do seu fundador.

A maternidade é um belíssimo casarão, cujo terreno foi doado pelo então prefeito O’Grady. O prédio tem características neoclássicas, de elevado valor arquitetónico e histórico. Hoje em dia é uma das raras exceções, pois permanece até hoje desenvolvendo as atividades para as quais foi planejado.

No início do século 20, Natal tinha cerca de 20 mil habitantes e a cidade inteira compreendia basicamente os bairros da Ribeira e Cidade Alta, que também não são os bairros baianos, mas os potiguares. Estavam ainda em formação os bairros do Alecrim, Tirol e o próprio Petrópolis, mas Tirol e Petrópolis eram chamados de Cidade Nova.

Somente com a construção da ponte metálica sobre o Rio Potengi, em 1916, é que foi instalado o assentamento de Igapó, habitado por pescadores, roceiros e ferroviários. Existia somente um hospital e era uma bagunça, só servia de abrigo para os pestilentos. Foi aí que entrou a figura salvadora e esclarecida de Januário Cicco.

Quando Cicco voltou à Natal, instalou o seu consultório na casa dos pais, na Rua Duque de Caxias, na Ribeira. Até a chegada de Cicco, apenas dois médicos atendiam a toda a população natalense, e eles eram Segundo Wanderley e Afonso Barata, ambos no velho hospital da cidade. Cicco veio pra revolucionar a cidade e a sua medicina.

Ele construiu o que é hoje o Onofre Lopes em 1909, a Maternidade em 1950, o primeiro banco de sangue e serviço de pronto socorro do Rio Grande do Norte em 1945 e uma escola de auxiliar de enfermagem também em 1950. O centro de estudos da sociedade de assistência hospitalar que ele criou em 1951, que foi o embrião da Faculdade de Medicina do Rio Grande do Norte. O seu discípulo predileto, o medico Onofre Lopes, consolidou a Faculdade em 1955, 3 anos após a morte do seu mestre, Januário Cicco.

Também deu origem a um sistema de proteção à maternidade e à infância. Januário Cicco foi o responsável pela primeira operação de cisto de ovário em Natal. Um dos grandes políticos do estado, Aluízio Alves, certa vez disse sobre Cicco: “Era uma força da natureza, despertada para o bem da coletividade. Dele, pode-se dizer que morreu de sonhar. Deve dizer-se que tombou lutando”.

Para a construção do primeiro hospital decente da cidade, Januário Cicco convenceu o então governador Alberto Maranhão a adquirir uma casa de veraneio no Monte Petrópolis, em 1909, para adaptá-la ao funcionamento do Hospital de Caridade Juvino Barreto, que passou a se chamar Miguel Couto, em 1936, e somente depois de Onofre Lopes.

Januário assumiu a direção do estabelecimento, que a princípio tinha apenas 18 leitos divididos para os pacientes do sexo masculino e feminino, que eram atendidos exclusivamente pelo próprio Januário Cicco. Somente em 1917 o médico Otávio Varela foi nomeado como seu ajudante.

Para viabilizar o funcionamento do hospital, o governador José Augusto aceitou passar a administração à sociedade civil criada por Cicco, que já citei anteriormente, a SAH, criada em 1927. No mesmo ano foi que ele recebeu o terreno doado pelo prefeito Omar O’Grady e iniciou a luta pela construção da maternidade. Luta essa que envolvia quermesses, bingos, rifas e até depois da guerra, a exigência de uma indenização do governo apos a guerra, para custear as reformas.

A inauguração da maternidade foi um dos grande acontecimentos sociais de Natal naquela época. O Bispo de Natal, dom Marcolino Dantas e o intelectual Luís da Camara Cascudo lideraram uma campanha para batizar a maternidade de “Casa da Mãe Pobre”, pois era esse o apelido que Januário Cicco gostava de chamar a maternidade. Em 12 de fevereiro de 1950, nascia o primeiro bebê da maternidade, que recebeu o nome de Ivette. O nome foi uma homenagem à filha que Januário Cicco teve com a pernambucana Isabel Simões. Mãe e filha morreram em 1937. Quinze anos depois, morria do coração, o próprio Januário, aos 71 anos. 

Pois bem, se um sujeito saísse da Januário e virasse à esquerda na Nilo Peçanha e logo depois à direita na rua Coronel Joaquim Manoel e seguisse até a Hermes da Fonseca, que vira Salgado Filho e logo depois vira BR-101, poderia ir até o Rio Grande do Sul, se acaso desejasse.

Se esse mesmo sujeito decidisse sair da Januário, entrar à esquerda e ir até a Coronel Joaquim Manoel e em vez de entrar nela à direita, fosse nela pra esquerda, que aí já seria a Rua General Gustavo de Farias, chegaria até o bairro da Ribeira, reduto boemio da cidade e onde se localiza também o Iate Clube. Mas antes de chegar la e se viesse rápido, daria um salto gigantesco na famosa ladeira de Marpas, onde se fosse macho, sentiria os testículos esfriarem.

De fato, esse cruzamento entre Nilo Peçanha, General Gustavo de Farias e Coronel Joaquim Manoel era mesmo confuso. Deve ser por isso e pelas três ruas que existia lá, que era o único sinal de três tempos da cidade, pelo que eu me lembre. Todos os outros eram normais.

Mas, se esse mesmo sujeito decidisse sair da Januário e virar à direita na Nilo Peçanha, ele iria dar na Prudente, que iria dar na Delegacia de Candelária. Candelária também não é a igreja carioca, é outro bairro de Natal. Pouco depois da delegacia, a rua se acabava em umas dunas, que separavam o bairro de Candelária de Cidade Satélite, outro bairro de Natal e não no Distrito Federal.

Se o sujeito tomasse o caminho da Nilo e fosse seguindo em frente, encontraria à Getúlio Vargas e logo em seguida a Ladeira do Sol, que daria mesmo em frente ao Chaplin-Hooters. Poderia ficar ali ou continuar a esquerda que também encontraria algo pra fazer.

A historia conta que, 49 anos depois do primeiro bebe nascido na Januário, em 1999, eu tomaria o caminho da Nilo, Joaquim Manoel, Hermes, Salgado Filho, BR-101, Aeroporto Augusto Severo, São Paulo, Newark, Montréal. Por muitos anos tomei o caminho pra Ribeira e para a Praia do Meio, mas como eu sempre gostei da direita, foi por lá que vim e continuo aqui. 

           Na foto, a maternidade nos dias atuais.

segunda-feira, maio 14, 2012

Nascia Moçambique


Moçambique nascia em 25 de junho de 1975, 18 dias depois que eu nasci. Assim eu poderia dizer que somos da mesma idade, com a diferença de poucos dias. Era o quadragésimo terceiro país africano. Moçambique se tornava independente de Portugal e virava uma República Popular. 
Portugal encerrava assim 470 anos de dominação de Moçambique. Isso foi resultado de uma revolta armada iniciada 11 anos antes pela Frelimo, com apenas 250 guerrilheiros do norte do país. No final, a rebelião, de orientação comunista, além de contar com um número muito maior de soldados, tinha apoio da Zâmbia e da Tanzânia também. 

Na época da independência, Moçambique tinha 9 milhões de habitantes. Hoje em dia tem algo em torno de 20 milhões de habitantes. O país tem 800 mil quilômetros quadrados de território, encravados no litoral oriental da Africa austral.

Maputo, que é a capital do país, só recebeu esse nome em 13 de março de 1976. Na época da independência se chamava Lourenço Marques e tinha 500 mil habitantes, e tinha altos e modernos prédios, luas largas e com traçado retilineo, onde os carros trafegavam à mão inglesa.  

O presidente da nova Republica era Samora Machel, que era também o chefão da Frelimo. O maior parceiro comercial de Moçambique era a Africa do Sul. Setenta por cento de todo o movimento do porto da capital de Moçambique dependia das importações ou exportações sul-africanas. A Africa do Sul também empregava 150 mil moçambicanos nas suas minas de ouro. Esses empregados ganhavam uma renda anual de 175 milhões de dólares e traze-los de volta à Moçambique naquele momento não era nada interessante, por isso as relações com a África do Sul tinham que ser levadas nas pontas dos dedos, apesar de nao serem muito amigos.

O novo país já começou com um deficit de 4,5 milhões de dólares e o parque industrial moçambicano estava quase paralisado. Não existiam técnicos capazes de gerir as industrias. Aliás, em todos os setores faltava mão-de-obra. Existiam somente 100 médicos no país pra uma população de 9 milhões de pessoas. E mesmo assim, eles estavam localizados somente nos grandes centros urbanos. Na província de Zambeze, de 1,8 milhões de habitantes, existiam somente 3 médicos.

Noventa por cento da população moçambicana quando da sua criação vivia da agricultura. Alem disso, apenas 5% das terras aráveis do país estavam cultivadas, o que evitava problemas de desapropriação e confusões  

segunda-feira, abril 30, 2012

Reabertura do Canal de Suez


Dois dias antes de eu nascer, em uma quinta-feira, dia 5 de junho de 1975, reabriam o Canal de Suez. O Canal havia sido fechado desde a guerra de junho de 1967. Foi construído pelo engenheiro francês Ferdinand de Lesseps, e inaugurado em 1869 pela imperatriz Eugénie.

O Canal é situado no Egito e até 1966, rendia ao país uma média de 240 milhões de dólares anuais em pedágios. Porém, somente pra desobstrui-lo, os egípcios gastaram mais de 300 milhões de dólares, pagos à equipes americanas, soviéticas, britânicas, francesas e até mesmo egípcias para retirarem 8525 explosivos, 127 pedaços de pontes, 16 caminhões, 8 tanques, 104 pequenas embarcações, 10 cascos de grandes navios, 15 aviões, alem de barris de óleo, ancoras, latas e 685 mil minas que estavam espalhadas nas duas margens.

O fechamento do Canal de Suez causou grandes transtornos. Como não dava pra usa-lo, o Oceano Índico voltou a ser ligado ao Oceano Atlântico através do contorno do Cabo da Boa Esperança. Por causa disso, e pra compensar as maiores distancias, foram construídos super petroleiros de mais de 300 mil toneladas.

Com isso, Suez perdia um pouco a sua importância. Em 1967, 74% da frota mundial usava o canal. Já em 1975, a percentagem da frota mundial que passava por lá era de apenas 27%, pois o canal só suportava navios de até 70 mil toneladas.

Mas isso não era motivo de desânimo, pois a reabertura iria ajudar muitos países. Por exemplo, a distância entre Marselha e Japão caia pela metade e as frutas do rico litoral oriental da Africa voltaram a ser vendidas na Iugoslávia e na Turquia.  

quinta-feira, março 22, 2012

Conhecendo a realidade


Ao chegar no aeroporto de Montréal, Celso estava lá no seu Honda Civic Hatch preto. Já senti uma enorme diferença quando comparei com a minha ultima chegada ali. Os avanços eram medidos em centímetros. A viagem transcorreu sem transtornos, mas novamente tive que ficar em uma salinha em Newark, pois ainda não tinha o visto americano.

Para obtenção do visto canadense também não tive problemas, uma vez que usei o sistema YMCA de visto de estudante. Era mais ou menos assim: o cara se inscrevia num curso de 6 meses no YMCA, mas só dava uma entrada que cobria um mês de curso. Enviávamos a carta do YMCA corroborando com a nossa história e então, ao término de um mês de curso, cancelávamos o resto do curso, alegando falta de recursos e ficava tudo bem, pois o YMCA não telefonava pra imigração pra dizer isso. Com o pagamento de um mês, tínhamos um visto de estudante de 6 meses. Promoção boa.

Evidentemente, logo essa mamata acabou, pois o YMCA começou a descobrir um alto número de pessoas fazendo isso e passou a liberar a carta somente com o pagamento do curso completo.Quando cheguei, ainda se amarrava cachorro com linguiça.

Voltando ao aeroporto. Celso perguntou se eu queria já começar a trabalhar naquele dia. Me assustei com a rapidez das coisas e também cansado, pedi pra começar no dia 06 de Setembro. Então ele me deixou na casa dele e foi pro trabalho. Dormi o dia quase todo e no outro dia comecei o meu primeiro dia de trabalho no Canadá.

Naquele final de semana, era o feriado do Labour Day e para minha sorte, Celso tinha uma ex-namorada que havia ganho 4 tickets num sorteio de um restaurante chamado La Cage Aux Sports. Esse premio dava direito de acompanhar o time de Montréal de futebol americano, os Allouettes, num jogo que iriam fazer em Hamilton, na província de Ontário.

E tudo isso de graça, o que melhorava muito a viagem. Alias, a viagem podia ser até pro inferno que eu iria estar feliz do mesmo jeito. Era a primeira vez que visitaria a província de Ontário. Então eu e Celso encontramos com a ex-namorada dele e uma amiga dela e partimos no trem pra Hamilton, junto com os jogadores dos Allouettes.   

A viagem foi otima e eu e Celso já chegamos em Hamilton completamente embriagados. Alias, todo o trem chegou embriagado, pois aquela galera do Quebec bebia com vontade. Os Allouettes ganharam o jogo contra o Tiger Cats de Hamilton e na comemoração eu fui perto do campo, onde estavam filmando e entrevistando o craque do time. Quando ele viu a camisa que eu vestia, da seleção brasileira de futebol, me chamou e veio apertar a minha mão. Tenho a foto de recordacao.

Com a vitória, os jogadores puderam relaxar e na volta vieram todos agradecer ao nosso apoio no trem. Eu juro por Deus, o time inteiro e mais o técnico vieram de um em um apertar a mão de cada passageiro do trem e agradecer pessoalmente. Eu estava maravilhado. Tudo era bom demais. Sabia que não seria assim, mas estava aproveitando o momento.

Então voltamos a dura realidade. Tinha que ganhar dinheiro de alguma forma e o que me restou no momento era a gráfica. Como não tinha autorização pra trabalhar, tudo tinha que ser under the table, isto é, recebendo em dinheiro vivo, sem declarar ao Canada Revenue Agency os meus rendimentos. E pela parte do empregador também. Mas como se dava esse processo?

Através de uma agência de empregos. Um árabe possuía uma agência de empregos e cedia funcionários pra uma grande gráfica chamada Edicible, situada na Ville de Saint-Laurent, subúrbio de Montreal.  

A fábrica pagava $12,00 por hora pra cada funcionário que essa agencia enviava pra ele. A agencia por sua vez ficava com $7,00 por hora e repassava $5,00 pra cada funcionário que não era legal pra trabalhar, em forma de dinheiro vivo, dentro de um envelope, ao término de cada duas semanas de trabalho. Com o detalhe que as duas primeiras semanas ficam com ele, como vim a descobrir que seria praxe no Canadá. Quando você termina o seu contrato ou é demitido, aí então ele devolve essas duas semanas iniciais.

Pois bem, com as 40 horas semanais que eu trabalhava na Edicible, eu colocava a fortuna de $37,50 por dia no bolso, uma vez que eles ainda tinham a pachorra de descontar a hora do almoço. Tínhamos dois lanches de 15 minutos, um na manhã e outro à tarde que eram pagos pela empresa, mas o almoço de 30 minutos eram descontados do trabalhador.

Numa matemática básica, vemos que eu levava pra casa $187,50 por semana e que se eu continuasse nesse ritmo iria ganha $9,750.00 por ano. Não existe nem uma classificação pra descrever uma pessoa que ganhe isso. Mas diria que seria algo como uns 10 metros abaixo da linha da pobreza. Bem, só passei pois eu estava morando de graça na casa de Celso e ele como ninguém conhecia o meu salário, pois ainda por cima, o árabe entregava o meu dinheiro a ele.

Celso era empregado legal da empresa, operava as máquinas e recebia um bom salário pra isso. Era até covardia comparar o meu salário ao dele e maior covardia ainda seria ele me cobrar alguma coisa referente à aluguel. Ele nunca o fez. 

Eu saía de manhã pegando carona com Celso e começava no batente às 8:00 am em ponto. Com cartão de ponto e o escambau. Eu chegava na gráfica e algum supervisor me encaminhava pra algum grupo, e eu ficava ali separando livros, panfletos, revistas, e outros produtos de gráfica para serem cortados, empacotados ou colados, dependendo do grupo em que estava. O intervalo de tempo entre às 8:00 am até as 10:15 am demorava uma eternidade. Meus Deus do céu como demorava. Durante o break time das 10:15 eu nem conseguia comer nada e ficava somente lá fora descansando.  

Voltava pro trabalho e no almoço eu comia algo bem rápido, pois como não levava comida, ficava dependente do coffee truck e como a fila era grande, quase sempre eu tinha que comer tudo em 5 minutos e já voltar pro batente, correndo e arrotando internamente.

Comecei a perceber já aí que o Canadá não era esse paraíso todo. Um sujeito que era uma espécie de Line Leader chamado Sylvain, enfiava livros na sua bolsa e todo break time em vez de comer, ia pro seu carro e colocava os produtos do furto no seu carro. Revistinhas em quadrinhos aos borbotões. E vendia pra aumentar a sua renda, fiquei sabendo logo. E olhe que ele era um dos caras mais gente boa que tinha lá.

O meu dia durava 100 horas. O tempo não passava, andava em câmara lenta e eu já estava ficando doido. Escutava o tic-tac do relógio e me doía os córneos a cada segundo. Já estava começando achar a gráfica com cara de filme de terror. Uma gente feia, alguns sem dentes, piorava o quadro com certeza. Além de ser muito longe da casa de Celso, e quando Celso fazia hora extra, eu tinha que voltar pra casa de ônibus e metrô e demorava demais.

Então um episodio marcou a minha decisão de ir embora dali o quanto antes. Eu me distraí e fui ajeitar uma dúzia de revistas na guilhotina que estavam mal colocadas, quando escutei um grito. Instintivamente, recolhi meu braços e a lâmina desceu cortando as revistas que lá estavam, mesmo mal organizadas. Se alguém não tivesse gritado, que até hoje eu não sei quem gritou, eu nem teria meus braços pra escrever isso aqui.   

(Continua...)