sexta-feira, maio 21, 2010

Paladar

Depois que você olhou pro vinho e o cheirou, você está finalmente liberado pra prova-lo. Esta é a hora que homens e mulheres fazem caretas, mexendo o vinho dentro da boca, com caras de concentração. Você pode fazer um inimigo pro resto da vida se você atrapalhar um especialista no momento que ele está focalizando suas energias nas últimas gotas de um vinho especial.

É assim que funciona. Tome um gole nem muito grande e nem muito pequeno. Segure-o vinho na sua boca, abra seus lábios e deixe entrar um pouco de ar, sobre o vinho. Então mova o vinho dentro da sua boca como se estivesse mascando chiclete e depois engula. O processo inteiro deve durar alguns segundos, dependendo de quanto você se está se concentrando.

O gosto na língua pode registrar várias sensações, que são conhecidas como os gostos básicos. Estes são doces, ácidos ou amargos. Mas se você mexer o vinho dentro de sua boca, você terá maiores possibilidades de encontrar todas as papilas gustativas, não perdendo nada do que está no vinho.

Ao mover o vinho dentro de sua boca, você também está ganhando tempo. O seu cérebro precisa de alguns segundos pra descobrir o que a língua está sentindo. Qualquer doçura no vinho é registrada no seu cérebro primeiro pois o vinho bate primeiro nas papilas gustativas da ponta da língua. Acidez e amargura são registradas logo em seguida. E enquanto o seu cérebro está trabalhando pra descobrir as impressões de doçura, acidez ou se é amargo, você pode pensar como o vinho está se saindo na sua boca: se é forte, leve, suave, e por ai vai.

Mas acidez, doçura e amargura são as 3 coisas que você pode sentir no seu paladar. Alem de uma impressão geral de peso e textura. Mas e a respeito dos cheiros de morangos, chocolates, por exemplo? Esses cheiros são aromas que você saboreia não com sua língua, mas inalando-os através de uma passagem nasal interior, localizada na parte de trás da sua boca, chamada de passagem retro nasal. Isso acontece quando você deixa o ar entrar na sua boca, então você vaporiza os aromas da mesma forma que se faz quando você gira o copo e faz o vinho respirar.

sábado, maio 15, 2010

Fatos pra serem lembrados 3: A devolução de Hong Kong pra China

A Inglaterra devolveu Hong-Kong à China na segunda metade dos anos 90. A ilha rochosa e um pedaço de terra no continente era um enclave bilionário. O tamanho de Hong-Kong, tudo somado, dá o tamanho da cidade de São Paulo, mais ou menos. Mas que tinha um PIB per capita maior do que a Alemanha e a economia mais sólida do que a da Inglaterra, que controlou Hong Kong por 156 anos.

A devolução de Hong-Kong, que em inglês significa “porto perfumado”, marcava o fim de uma era, a da conquista territorial. Tornou-se inaceitável no mundo moderno que um país arrancasse um pedaço material de outro. Sadam Hussein quando invadiu o Kwait se lembra muito bem das consequências de se querer invadir outro país.

A China cedeu Hong-Kong pra Inglaterra em 1842, resultado das negociações do Tratado de Nanquim, que foi assinado pelos chineses logo depois da derrota militar na chamada I Guerra do Ópio. Em 1898, os ingleses queriam mais território chinês, mas dessa vez no próprio continente. Inventaram uma guerra e tomaram as terras. Mas quando foi negociar novamente, os ingleses aceitaram uma cláusula que dizia que o uso de Hong Kong e da península de Kowloon duraria apenas 99 anos. E esse período acabou em Junho de 1997.

Os ingleses, apesar do colonialismo, fizeram um ótimo trabalho em Hong Kong do ponto de vista financeiro, econômico e de infra-estrutura, que permitiu o extraordinário desenvolvimento de Hong Kong. Nos anos 1930, havia mais telefones por habitantes em Hong Kong do que no Brasil antes das Teles serem privatizadas nos anos 1990. Hong Kong tinha até um sistema judiciário independente.

Sem riquezas, mas com um porto de águas profundas estrategicamente colocado na porta de entrada da Ásia, Hong King definiu logo sua vocação para o livre comércio. Os europeus então construíram ali um arranjo feito pra criar fortunas financeiras. A reclamação era de que riqueza não faz uma civilização. Hong King não tinha um poeta, um filósofo ou um escritor de renome mundial.

Um em cada habitante era viciado em heroína, recorde mundial na época e gastavam 11 bilhões de dólares anuais em apostas em corridas de cavalos, cujos resultados eram todos manipulados. Tinha um PIB per capita de 23 mil dólares, mas o salário médio não passava de 9 mil dólares anuais. Se produzia riqueza, mas a concentração de renda era enorme. Foi isso o que a China recebeu de volta. Foi tambem um ótimo investimento pra China. Será que nao tem nenhum país querendo "alugar" o Brasil?

quarta-feira, maio 12, 2010

O dinheiro verde

Em meados dos anos 90, começou a moda de tudo ser ecológico, de tudo ser “verde” e lógico, junto com essas modas, sempre surgem os “ecopentelhos”, como dizia Roberto Campos e os “ecoladrões”. Começava uma tentativa, necessária até certo ponto, diria eu, de unir economia e ecologia. A ideia inicial soou bem no meio empresarial, que via uma oportunidade de “parecerem” ou “serem” bonzinhos aos olhos da massa e soava bem também pros dirigentes das ONGs, que viam ali uma oportunidade de arrecadar mais algum e não dar satisfação pra ninguém, como elas aprenderam bem a fazer.

Mas pra usar essa união ao máximo, de economia e ecologia, porque não passar a explorar os parques de preservação ambiental? Gera divisas pra economia local e empregos e os turistas politicamente/ecologicamente corretos, adoram fazer esse tipo de programa e mais, contar pros amigos que fizeram um turismo ecológico. Tipo aquele cara que diz que só come orgânicos pros amigos e se acha quase um espírito de luz por fazer isso.

Deu-se o nome desse segmento de “ecoturismo” e o pioneiro nesse tipo de exploração no Brasil foi o Parque do Iguaçu, no Paraná. Dos turistas que vinham ao Brasil nesses meados dos 90, 12% iam pra lá pra ver as cataratas. Nessa época, o Parque do Iguaçu recebeu mais turistas do que o Parque da Tijuca, no rio de Janeiro, que tem como atracão o Corcovado, que vem a ser um cartão postal do país.

Outro segmento desse tipo que surgiu era formado por empresas que reciclavam latinhas. Aqui no Canadá, você junta as suas e coloca num lixo especial. O governo leva e recicla. No Brasil, como se sabia que ninguém ia fazer isso, eles pagavam pra você juntar as latinhas. Tinha um menino que todo mês ia lá em casa buscar umas latinhas. Meu pai juntava todas e entregava todo feliz pro rapazote. Fantástico, não? Os meninos limpavam as ruas de graça pro governo, fazendo o trabalho dos garis e ainda tinha uma empresa privada que pagava por esse serviço. Como vivemos sem isso antes?

O projeto Tamar, aquele das tartarugas, tinha 60% recursos oriundos do Ibama e da Petrobras, 10% de doações e os 30% restantes, arrecadavam quando vendiam camisetas, buttons, chaveiros e CD Roms. Hoje tem tanta tartaruga que virou praga, pior do que a quantidade de cangurus na Austrália. Daqui a pouco vai ter mais tartaruga do que gente. Mas engraçado, um projeto de tartaruga na Bahia. Baiano preguiçoso, tartaruga aquela lentidão toda. Será que tem algo a ver?

Mas rapaz, nesse negócio lucrativo de ser “verde”, mesmo que se você quiser criar animais silvestres pra ter lucro, você pode, basta ter uma autorização do Ibama e ainda dizem que você é visto com bons olhos, pois está ajudando a acabar com a extinção de algumas espécies, como o jacaré do pantanal e a capivara, que chegavam ao mercado somente através dos clandestinos. Você criava jacarés e vendia a carne pra restaurantes, Frigoríficos e supermercados. O negócio é chegar perto deles sem eles morderem.

O mesmo começou a ocorrer com os produtos que não usavam agrotóxicos. Quem entrasse nesse ramo, tinha um público que estava disposto a pagar mais caro só pra se ter um produto com um selo de qualidade ecológica. Era bom pra ecologia e pra mostrar aos seus amigos que você é “cool”. A loucura era tão grande que foi lançado um certificado ISO 14000, que garantia que os detentores desse certificado era uma empresa saudável do ponto de vista sócio-ambiental.

Novamente os baianos. Uma empresa de papel e celulose baiana, a Bahia Sul, foi a primeira empresa a receber o ISO 14000 em todas as Américas. Já pensou? Os baianos são invocados mesmo. Para obter essa certificação, monitora-se desde o número de reclamações da comunidade ao consumo de água e a quantidade de resíduos gerados por produto.

Eu só sei que daqui a pouco tempo, até os filhos vão nascer com o selo ecológico. Feito sem ajuda de químicos ou remédios. De forma natural de acasalamento, sem qualquer ajuda externa. Ô desgraça.

Eu agora estou começando a lidar com o jardim da minha casa, num primeiro sinal de que a velhice está tomando conta de mim. Mas vejam, as ervas daninhas e o mato que teima em crescer na grama não podem ser exterminados com ajuda química, pois não é ecologicamente correto e o governo baniu esses produtoes de serem vendidos nas lojas. Tem-se que arrancar um por um. E aí vamos vivendo, salvando o planeta, enriquecendo os verdes e acabando com o resto do nosso tempo livre, que seria pro lazer, agora só serve pra trabalhar de graça em prol do planeta. E haja paciência.

quarta-feira, maio 05, 2010

Vale a pena ler 26: Sucesso é sorte

Não existe sucesso garantido nesse negócio de literatura. Fico em pânico a cada novo livro. Sempre passa pela minha cabeça a idéia de que não vou vender um exemplar sequer. Então, para me tranquilizar, compro um logo no dia do lançamento. Pelo menos assim ninguém poderá dizer que o livro não vendeu nada. Não acho que seja o detentor de uma fórmula cujos ingredientes eu possa ensinar. O fato é que meus livros agradam tanto a um cientista na Noruega como a um motorista de caminhão na África do Sul, à família real da Inglaterra ou à primeira-dama dos Estados Unidos.

Eu sei que agrado a cada um deles pois recebo milhares de cartas e telefonemas. A rainha Elizabeth II e Hillary Clinton já me disseram pessoalmente que lêem meus livros. Ambas pareciam ter gostado muito. Por isso acho que não existe fórmula. Como posso escrever um livro pensando em agradar ao mesmo tempo a um caminhoneiro, uma dona de casa do Kansas e um nobre? O que faço é seguir uma trilha imaginária de idéias que satisfaçam a minha curiosidade e emoções. O resto é sorte. Mas convenhamos que isso não explica tudo. No fundo acho que o sucesso se deve ao fato de que meus personagens são reais para mim. Eu sinto o que eles sentem.

Muito raramente em me inspiro em pessoas de carne e osso pra compor meus personagens. Eles são todos criados por mim. Têm vida própria na minha cabeça. Outro dia minha mulher, Alexandra, me surpreendeu chorando em nossa casa na Califórnia. Ela me disse: "Querido, o que foi? Fiz alguma coisa errada?" Respondi: "Não, você não tem nada com isso. É um de meus personagens que está enfrentando um problema sério e não sei como tirá-lo dessa encrenca". São de carne e osso para mim. Meus leitores também os consideram assim. Em um de meus livros, eu deixei que um garotinho morresse. Recebi cartas iradas. Alguns leitores me chamaram de assassino.

Fiquei muito tocado com aquilo tudo. Quando o livro foi adaptado para se tornar uma minissérie de televisão, decidi, para felicidade geral, que o menino sobreviveria. Meus personagens são mais reais do que eu. Às vezes sou reconhecido na rua. Mas não tanto quanto, digamos, Kirk Douglas, meu vizinho em Palm Springs. De vez em quando tomamos uns drinques e Kirk lamenta que ele não possa entrar num bar ou fazer compras sem que uma multidão se junte em torno dele. Eu posso caminhar tranquilamente entre as pessoas como se fosse um sujeito comum. Bem, pelo menos até que alguém pronuncie meu nome em voz alta. Enquanto isso não acontece, eu desfruto do melhor dos dois mundos, a fama e a invisibilidade no meio das multidões. Kirk tem uma ponta de inveja disso.

Meu personagem Jeannie, de Jeannie é um Gênio é real pra mim. Servi na Força Aérea quando era jovem e conheço muitos astronautas. Estudei a vida deles da maneira mais próxima que isso pode ser feito, que é convivendo com eles e suas esposas. Jeannie é uma fantasia, é óbvio, mas os militares ali são muito parecidos com os de verdade. Adoro esse seriado.

Já dei bola pra que os críticos diziam, depois parei. Chegaram a dizer que eu fui tão destrutivo pra literatura de cada país como Hollywood foi para os cinemas nacionais. Fazer o que? É a vida.

No Japão, muitas vezes, meus livros são o primeiro, o segundo, o terceiro, o quarto, o quinto e o sexto mais vendidos. Fiquei tão grato com meus leitores japoneses que aceitei uma proposta do governo daquele país para escrever uma série de livros em inglês mais simples, que para serem usados para ensinar nosso idioma a crianças e adolescentes. Fiz questão de não cobrar um tostão deles. Claro que para mim também era muito bom porque quando eles crescerem iriam comprar meus romances. Mas não, não dou bola ao que os profissionais escrevem. Já liguei muito no passado. Hoje sou eu quem os critico, e tenho até uma definição muito particular do que seja um crítico.

Um crítico é um sujeito que compra mais de um romance escrito por um mesmo autor. Ou seja, é uma pessoa que investiu seu dinheiro e tempo para voltar a um autor que ele admira. Meus críticos são, então, as pessoas que seguem comprando meus livros e que me deram o recorde de ter vendido 275 milhões de exemplares em trinta anos de carreira. Aquelas pessoas que escrevem para jornais e revistas, em cujas páginas derramam todo seu profundo conhecimento sobre todos os campos do conhecimento humano, e que por isso se sentem no direito de dizer às pessoas o que elas devem ler ou não, são arrogantes. Não me incomodam nem um pouco. Enquanto isso, eu emociono as multidões. Outro dia, uma mulher me ligou para contar que o marido, preso ao leito de morte num hospital, pediu a ela que lesse meus livros para ele sem parar, e que continuasse lendo mesmo quando ele perdesse a consciência. Duvido que um crítico tenha esse tipo de resposta dos leitores.

Talvez os americanos sejam os que mais gostam dos meus livros, mas em quase todo o mundo é a mesma coisa. No Brasil, vivi momentos tocantes. No Recife, um jovem de pouco mais de 20 anos se destacou da enorme fila que se formara numa livraria onde estava autografando meus livros. Ele veio falar comigo. Disse que os pais o chamaram Sidney por minha causa, que se tornara advogado por inspiração de um personagem de um dos meus livros e que estudava inglês para ler minhas obras no original. Mais tarde aparece uma jovem senhora com um bebê no colo, uma menina linda a quem ela dera o nome de uma personagem minha. É emocionante e indescritível. Ficamos tão emocionados, minha mulher e eu, que no dia seguinte fizemos outra sessão de autógrafos. Para ficar mais um dia com o povo no Recife tivemos de recusar os convites insistentes do presidente da República, que na época era Fernando Collor, para que o visitássemos em Brasília. Sua jovem esposa, Rosane, dizia que era minha fã.

Comecei a escrever aos 10 anos e nunca mais parei. Era algo forte dentro de mim. Por meu pai, não teria nem começado. Certa vez, escrevi um poema, botei num envelope e pedi que ele enviasse para um concurso promovido por uma revista infantil. Meu pai achou um absurdo. Muito a contragosto ele botou o envelope no correio, mas substituiu meu nome pelo de um tio. Duas semanas depois, na hora do almoço, meu tio comentou que não sabia por que diabos uma revista tinha mandado para ele um cheque de 10 dólares. Foram os primeiros 10 dólares que ganhei escrevendo. Aos 17 anos já trabalhava nos estúdios de Hollywood. Eles me pagavam 70 dólares por semana para transformar livros em roteiros. Portanto, estou nesse negócio há muitas décadas.

Quando ainda estava vestindo o uniforme da Força Aérea escrevi três musicais para a Broadway. Dirigi Cary Grant e outros astros e estrelas da época. Sou amigo de gente famosa desde muito jovem. Talvez meus críticos, por não saber como essa gente é de verdade, achem meus personagens artificiais.

Sempre fui a mesma coisa. Quando os editores me disseram, pela primeira vez, que um livro meu havia chegado à lista de best-sellers com milhares de cópias vendidas em uma semana, nem me toquei. Meus roteiros e musicais já haviam sido vistos por milhares, minhas minisséries por milhões. Há trinta anos todo livro que eu escrevo entra na lista dos best-sellers.

Não escrevo meus livros. Eu os dito para minha secretária. Posso ditar cinquenta páginas por dia, se for o caso. Por isso, poderia facilmente fazer dois a três livros por ano. Mas não faço. Escrevo um a cada dois anos para manter o padrão.
Depois ela os relê para mim e vou trabalhando nos trechos até me dar por satisfeito. Como não tenho o trabalho braçal de datilografar os textos, sinto-me leve para refazer um mesmo rascunho muitas e muitas vezes até encontrar a forma perfeita.

Também não tenho um esquema predeterminado, uma trama básica que depois vou preenchendo com personagens. Comigo se passa o contrário. Primeiro me vem à mente um personagem e a partir dele é que as ações se desenvolvem.

Não tenho nenhum livro nem mesmo parecido com o outro. O que eles têm em comum é o fato de serem livros sobre pessoas, não sobre coisas, fatos, situações, indústrias. E as pessoas, no fundo, são iguais. A revista Time escreveu certa vez que sou tão poderoso que basta dizer três palavras para que qualquer editora se comprometa a lançar um livro meu. É isso mesmo que acontece, mas não tem nada a ver com poder. Eu ligo para o meu editor e digo, por exemplo, que tenho na cabeça uma jovem e ambiciosa advogada. A partir daí ela começa a viver na minha imaginação. O fato é que os editores confiam em mim e se comprometem com o livro, fazem os adiantamentos e tocam os planos.

Se eu fizesse um livro com um pseudónimo, eu não sei se venderia. No começo acho que seria um encalhe monumental. Depois, se o livro fosse bom, acho que a propaganda boca a boca iria levá-lo à lista de best-sellers. Aliás, não existe nada mais poderoso para um autor do que a propaganda boca a boca. Não existe marketing, propaganda, capa bonita, show de televisão que faça um livro chegar a ser um best-seller.

Eu não leio best-sellers. Esse negócio é tão sério para mim que acho meio estranho ficar entrando no mundo dos outros. Leio Tom Wolfe. Li Somerset Maugham, os clássicos franceses. Há muitos anos não os releio.

Não acredito que meus personagens ensinem nada ao leitor. Meu objetivo é que meus leitores, durante as quatro ou cinco horas que levam para ler um livro, se desliguem do mundo real. Espero que eles se envolvam tanto com os personagens que esqueçam seu cotidiano e façam uma viagem por um mundo fantasioso. Meus livros são feitos para divertir.

Eu também pesquiso muito antes de escrever. Todos os restaurantes, hotéis, hospitais ou cidades que descrevo nos meus livros são exatamente como estão nas páginas. Ontem mesmo fui a Quebec, no Canadá, certificar-me de alguns detalhes da cidade que servirá de cenário para um capítulo do livro que estou escrevendo. Já fui dezenas de vezes a Quebec, mas quero ter certeza quando descrever as cores, os aromas e a arquitetura da cidade. Agências de turismo fazem excursões em que as pessoas são guiadas por locais descritos nos meus livros. Quando eu descrevo um almoço na Guatemala, tenho segurança porque almocei naquele lugar muitas vezes. Cada livro meu é precedido de centenas de entrevistas. E sou eu mesmo quem pesquiso. No fundo, o que me interessa são as pessoas com suas iniquidades, ambições, generosidades e perversões. Exatamente o que elas fazem, onde e como vivem e trabalham não me interessa tanto. E pra quem nunca leu um livro meu, comece pelo "O Outro Lado da Meia-Noite." É um espetáculo.

* Por Sidney Sheldon, escritor americano que mais vendeu livros, nascido em 1917 em Chicago, faleceu em 2007, no seu rancho, na Califórnia.

domingo, maio 02, 2010

Olfato

Agora chega-se uma parte interessante da degustação: girar e cheirar o vinho. Aqui é onde você deixa a sua imaginação correr solta e ninguém pode contradizer você. Se você diz que o vinho cheira a morango pra você, como alguém pode dizer que não cheira?

Antes de explicar o ritual de cheirar e a técnica que vai junto com ele, é necessário dizer que: 1) você não deve aplicar essa pratica pra todo vinho que você toma; b) você não vai parecer tolo ao faze-lo, pelo menos perante os olhos de quem gosta de vinho (o que não se pode dizer pros outros 90% dos humanos) e c) é um truque muito bom nas festas pra evitar que você fale com alguém que você não gosta.

Pra aproveitar ao máximo a sua cheiração, gire o vinho no copo primeiro. Mas não gire se o copo estiver mais do que a metade cheio.

Mantenha o seu copo na mesa e gire-o três ou quatro vezes até que o vinho gire dentro do copo e se misture com o ar. Então rapidamente traga o copo pra perto do seu nariz. Coloque seu nariz dentro do espaço aéreo do copo e cheire o vinho. Tenha uma mente aberta e associe com o que você acha mais próximo.

O aroma é frutificado? Parece com madeira? É fresco? Cozinhado, intenso, leve? O seu nariz fica cansado logo, mas também se recupera logo. Espere um momento e tente novamente. Escute ao comentário de quem está com você e tente encontrar as mesmas coisas que ele encontrou.

Ao girar o vinho dentro do copo, os aromas do vinho irão de vaporizar, então você poderá senti-lo. O vinho tem muitos conjuntos aromáticos que qualquer coisa que você encontrar no vinho provavelmente não será somente fruto da sua imaginação.

O importante por trás desse ritual de girar o vinho e cheira-lo é que o cheiro seja agradável pra você, talvez até fascinante e que você deve se divertir no processo.

Mas, e se você encontrar um cheiro que você não gosta? Nas apreciações de vinhos, você pode escutar palavras pra descrever cheiros, tais como petróleo, fósforo queimado, aspargus, etc.

Felizmente, os vinhos com esses cheiros não serão os vinhos que você irá beber pela maioria das vezes, a não ser que você fique viciado. E se você ficar viciado, passará a pensar que esses aromas nos vinhos certos, pode deixa-los especiais. Mesmo que você nunca venha a gostar desses aromas, você irá identificá-los como características típicas de certas regiões ou certas uvas.

E também existe os maus cheiros que ninguém defende. Não acontece com muita frequência, mas acontece, uma vez que o vinho é um processo natural, um produto agrícola com vontades próprias. Quando o vinho tá ruim, não é aconselhável nem beber. E não significa que você ficaraádoente, mas porque submeter as suas pupilas gustativas ao mesmo sofrimento que o seu nariz? Algumas vezes a culpa é da rolha, ou algum problema quando o vinho estava sendo feito ou estocado. Jogue a garrafa fora e abra outra.

Quando se trata de cheirar o vinho, muitas pessoas se preocupam de não estarem aptas a detectarem aromas diferentes. Mas cheirar o vinho é apenas matéria de prática e atenção. Se você começar a prestar mais atenção ao seu olfato no seu dia-a-dia, você vai ficar melhor na arte de cheirar o vinho.

Algumas dicas pra voce ficar mais esperto na arte de cheirar o vinho:

1) Seja curioso mesmo. Não tenha vergonha. Enfie o seu nariz dentro do espaço aéreo do copo, onde os aromas estão presos.

2) Não use perfume forte, pois ele irá competir com o cheiro do vinho.

3) Não tente cheirar o vinho quando existe outra comida com cheiro forte por perto. Se você pensa que está sentindo cheiro de tomate no seu vinho, esse tomate poderá tranquilamente vindo da macarronada que seu amigo está comendo.

4) Se transforme num cheirador. Comece a cheirar tudo o que você cozinha, tudo o que você come, cheire as verduras e frutas frescas que você compra no mercado, e até mesmo os cheiros do seu ambiente como couro, terra molhada, cheiro de asfalto novo, grama, flores, cachorro molhado, graxa de sapato, remédios, etc. Encha o HD da sua cabeça com cheiros e você criará uma memoria de cheiros que ficara a sua disposicao pra quando você precisar usa-la.

5) Tente técnicas diferentes de cheirar. Algumas pessoas dão fungadas curtas, rápidas, enquanto que outras gostam de dar uma forte e profunda tragada. Manter a boca um pouco aberta enquanto você inala pode ajudar a perceber os aromas. Algumas pessoas inclusive fecham uma narina e só cheiram com a outra.