sábado, março 22, 2014

Até os melhores se enganam



Essa semana meu irmao comemorou vinte anos de jiu jitsu. Nunca falo muito, é meu jeito, mas muito orgulho da sua trajetoria. Foi um caminho de sacrifício, aprendizado, e sobretudo recompensas. Como filho mais velho e tendo escolhido o caminho da universidade, sempre fui a aposta do meu pai, que como a maioria dos pais da época, sempre acreditou que o estudo formal era a solução para todos os problemas e somente assim conseguiriamos o pao de cada dia.

Meu irmao enxergou diferente e pagou pra ver, bancou suas convicções. Enquanto eu estava na universidade, ele fez coisas incriveis, eu vi de perto. A primeira foi bancar a reforma de um telhado de casa, cujas goteiras eram historicas, e meu pai já havia tentado de tudo. A solução era um teto completamente novo e meu irmao bancou a idéia. A contrapartida era aguentar os cheiros dos kimonos suados na mesa da sala.

Até hoje não sei como fez, mas arranjou a reforma com amigos e pagou do bolso dele. Somente agradeci à Deus e não à ele e fiquei alegre com a ausencia de agua no chao e nas paredes. Ele dava aulas de jiu jitsu, vendia kimonos e camisas pra ter renda. Enquanto isso eu estudava. Usei muito das suas camisas pra sair, o que o irritava bastante, pois sempre alegava que eu alargava as golas.

Depois decidiu que iria ter a propria academia e bancou a construcao da propria lá em casa, sempre contra as instrucoes do nosso pai. Batalhou, pegou dinheiro emprestado com amigos dele e meus, e pagou, e foi embora pro Rio de Janeiro, treinar com os melhores do país, na Brazilian Top Team. Virou amigo dos ídolos que tinhamos e passou a ser tratado como igual. Murilo Bustamante que é um ídolo pra todos que entendem um pouco desse esporte, e tambem pra quem entende muito, se tornou um amigo pessoal.

Lutou, passou dificuldade no Rio de Janeiro, cresceu. Certa feita um programa da SporTV fez uma cobertura sobre a trajetória dele e não sei se inconsciente ou pra mandar um recado pro meu pai, ele falou que a faixa preta dele tinha sido sua faculdade e que estar ali entre os melhores e fazer vale tudo, era uma pós graduação. Na mesma epoca, eu fazia um mestrado em Montreal. Se foi recado ou não, foi entendido. Não lembro as palavras direito, mas foi mais ou menos assim.

Não sei se eu consegui ou como foi, pois só me lembro os feitos dos outros, conseguimos um seminário pra ele dar em Montreal, na cademia Gamma, se não me engano em 2003. Ele veio, fez contatos, amizades e voltou em 2004, dessa vez pra ficar.

Veio primeiro, Juliana veio depois, ele fez até promessa de não cortar o cabelo, e ia lutar com a juba enorme, como no dia que lutou contra Georges St-Pierre, sem kimono, em Quebec City, em 2004. Começava sua trajetória na América do Norte, lutando cada campeonato, sem kimono, com kimono, cada vale tudo, que aparecia. Eu acompanhando tudo, com o coração na mao, torcendo pelo irmaozinho.

Dez anos depois, deu tudo certo, como ele apostou. Sua academia, sua profissao, seu nome, tudo estao de vento em popa. É, velho Jajá, dessa vez o senhor, que sempre acertou, errou. Graças à Deus que errou. Parabens irmao, pelos seus vinte anos de jiu jitsu e por viver uma vida profissional muito mais alegre do que do irmao que estudou aqui. Será que dá tempo ainda de eu esquecer os estudos e pegar uma faixa preta? Um beijo e boa sorte nos proximos quarenta anos e na faixa vermelha!!!

* Na foto, Brent Beauparlant, Vitor Shaolin, fabio, eu e boy Ulisses, na academia Gamma em 2004.,