terça-feira, fevereiro 28, 2012

A história da UNE


A UNE funcionou até 1964 num casarão cinzento, antigo clube de alemães, de arquitetura antiga e fachada larga, na Praia do Flamengo, no Rio de Janeiro. No dia da queda de João Goulart, o prédio ardeu em chamas e marcou o fim de um período da vida de UNE.

Ao ser fechado por decreto mais tarde, pela já citada aqui Ley Suplicy, a UNE se modificou e abandonou a política vinculada ao Ministério da Educação. O Ministro que assinou a Lei 4464, de 9 de novembro de 1964, Professor Flávio de Suplicy Lacerda, que viria a ser reitor da Universidade do Paraná, disse na época que a UNE iria continuar a existir como organização civil. Se permanecer assim, disse ele na época, irá dar provas da sua capacidade e autenticidade de representação, pois irá sobreviver sem o auxílio de gordas e fáceis doações federais.

A UNE conseguiu sobreviver sem as fartas verbas do governo Goulart. No período do presidente João Goulart, a UNE deixou de ser um órgão de representação estudantil e passou a ser um órgão subordinado ao governo. Em todas as manifestações governistas, a presença da UNE era obrigatória. Seu representante se sentava na mesa de honra e discursava apoiando Goulart.

O último presidente legal da UNE antes de revolução que depôs Goulart foi o nosso querido e estimado José Serra. No famoso comício do dia 13 de maio de 1964, na Central do Brasil, no Rio de Janeiro, lá estava o famigerado Serra marcando sua presença. Também se fez presente na Assembleia Geral dos Sargentos, no dia 30 de março de 1964, no Automóvel Clube da Guanabara.

Pelas posições de Serra e da UNE de então, a entidade ficou bastante prejudicas. Primeiro porque ao ser acoplada ao governo de João Goulart, a UNE perdeu suas bases e os estudantes se afastaram dela, uma vez que tinha se transformado num partido político e não mais uma entidade de classe estudantil. E por fim e não menos importante, os militares que depuseram João Goulart não podiam perdoar quem se sentava à mesa com ele.

Bem, a Lei Suplicy conseguiu atingir a UNE no seu aspecto legal. A lei proibia aos órgãos de representação estudantil de fazerem qualquer manifestação, ação ou propaganda de carater político partidário. Também previa na lei, como já foi dito aqui, a criação de um Diretório Nacional dos Estudantes, como forma de substituir a UNE. Menos de três anos depois, a Lei Suplicy deixava de existir e foi substituída pelo decreto-lei 228, assinado pelo então Ministro Moniz Aragão. E aqui, o Diretório Nacional dos Estudantes deixava também de existir e a UNE ficava sem substituto.

Na época de sua fundação, a UNE foi principalmente uma entidade nacionalista. A primeira vez que saiu às ruas foi pra exigir que o Brasil entrasse na Segunda Guerra Mundial pra combater o Eixo nazifascista. Também combateu a ditadura Vargas e ajudou a construir os grandes partidos liberais como a UDN.

Carlos Lacerda, Alceu Amoroso Lima, Afonso Arinos, Milton Campos, Pedro Aleixo, Sobral Pinto, do Rio de Janeiro e Jânio Quadros e Roberto de Abreu Sodré, de São Paulo, são nomes que estiveram ligados às campanhas estudantis como a campanha a favor da anistia pra presos políticos, a favor do monopólio estatal do petróleo, campanha contra a Lei de Segurança Nacional de 1950 e a campanha a favor da criação de um restaurante universitário. Inclusive foram os estudantes da UNE que criaram a frase “O petróleo é nosso”, que se tornou um símbolo nacional. Em 1947, mesmo quando protestaram contra o fechamento do Partido Comunista Brasileiro, a UNE ainda não era uma entidade de esquerda.

Os estudantes universitários do Brasil em 1968 eram apenas 213 mil, o que era um estudante universitário pra cada 2,100 habitantes. Eram uma minoria privilegiada dentro dos 45,68% da população brasileira que tinha entre 5 e 24 anos de idade. De acordo com o Censo de 1970, menos de 2% da população que tinha idade entre 19 e 25 anos estava na universidade em 1968.  No mesmo período, 16% dos franceses entre 19 e 25 anos estavam na universidade e 46% dos americanos.

Se formos olhar o ensino primário daquela época, 70% dos alunos matriculados na primeira série eram reprovados ou abandonavam os estudos. Em 1955 houve 3.157.000 matrículas no primário, de onde apenas 123.647 concluíram o curso médio, no final de 1965.

Também em 1965, o Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais fez uma pesquisa pra traçar o perfil dos estudantes universitários brasileiros. Descobriram que os pais dos universitários tem na sua maioria atividades remuneradas de nível alto e medio. Também que a maioria possui irmãos que estudaram e que a maioria das mães não trabalha. Que a maioria fez curso médio em escola particulares e que apenas 8,52% deles possui pais operários. A idade média dos que cursavam o primeiro ano da universidade era de 22,11 anos, que 44,12% deles trabalhavam, que 62,49% recebiam ajuda financeira da família e que 27,75% das famílias possuíam um automóvel.

Pois bem, traçado o perfil desses estudantes que lutavam contra o governo militar, voltemos ao nosso assunto. A UNE tornou-se a vanguarda de todo o movimento progressista nacional, uma vez que os partidos antes de 1964 não tinham nenhuma organização, nenhum objetivo definido e nenhuma solução para o problema brasileiro.
Os estudantes que compunham a UNE tinham acesso à cultura e pertenciam à classe dominante. Se um estudante era preso, o país inteiro falava dele através de jornais e de um intercâmbio entre as universidades. Quem não era estudante, era preso e espancado e ninguém falava dele. Se dava mal mesmo.

Antes de 1964, a posição da UNE era reformista, eles tentavam consertar a sociedade brasileira. Depois disso, passaram a querer transformar e foi aí que começaram os conflitos. Assim, as agitações estudantis só voltaram ao cenários brasileiro, modificadas na forma e nos objetivos, diga-se de passagem, depois de 1966. E foram se organizando cada vez mais até a realização do 29º Congresso da UNE, em Valinhos, perto de São Paulo, onde o eleito foi o paulista Luís Travassos.

Na carta política da UNE de 1967, dizia-se: “Temos uma longa luta pela frente e só agora o movimento estudantil começa a se libertar de fato dos seus vícios de origem, da ideologia das classes dominantes que o alimentou. Essa mudança total de política da UNE refletiu o que aconteceu de 1967 pra frente. A UNE do interrompido 30º Congresso era então uma UNE completamente diferente das outras. Organizaram-se de faculdade em faculdade e colocaram sempre contingentes nas ruas pra protestar contra o governo. Com isso, conseguiu capitalizar graves episódios, como a já citada aqui morte do estudante Edson Luís, no Rio de Janeiro, em Março de 1968 e a invasão da Universidade de Brasília, em Agosto de 1968.

A UNE de 1968 englobava várias tendências, entre elas, a esquerda cristã (através da Ação Popular, que conseguiu dominá-la logo após a revolução), os grupos marxistas-leninistas, os maoistas, os pró-castristas, e os althusserianos, que defendiam as ideias do filósofo francês Louis Althusser, que representava uma revisão do marxismo. Portanto, não existia uma tendência homogénea dentro da UNE.

O velho Partido Comunista Brasileiro, que defendia uma luta através de meios pacíficos, se confundia com as várias facções marxistas que surgiram depois da revolução e sua expressão no meio estudantil era quase nula. Novas correntes de formaram e na própria organização da esquerda católica também se observava cisões.

O governo não estava muito preocupado com a UNE até que veio a morte do estudante Edson Luís. Não só pela morte do estudante, mas também porque os estudantes levaram para as ruas as deficiências do ensino superior no Brasil. O presidente Costa e Silva se preocupou com o problema estudantil quando em dezembro de 1967, através do decreto 62.024, criou a Comisso Especial para o Ensino Superior, dirigida então pelo Coronel Carlos Meira Matos. Durante 89 dias, essa comissão estudou e colheu os dados do problema universitário brasileiro. O resultado desse estudo foi um documento de 300 páginas que ficou conhecido como “Relatório Meira Matos”.

Em síntese, o relatório dizia que os pontos críticos eram: 1) Falta de liderança estudantil democrática, consciente do seu papel e pronta a defende-lo; 2) Ausência de fiscalização de verbas e de esforços na obtenção de novas fontes de financiamento; 3) Má remuneração dos professores, o que provoca várias deturpações no exercício profissional; 4) Ausência de uma orientação para atender a maior demanda anual de vagas em todos os níveis de ensino; 5) Implantação desordenada da reforma universidade, sem objetividade e sem visão na redução dos currículos.

O que irritou Costa e Silva foi que mesmo ele fazendo tudo isso e depositando recursos na solução dos problemas universitários, os estudantes continuavam com suas provocações. O que ocorreu também foi que a repressão às manifestações estudantis deu muita divulgação ao movimento. O próprio Vladimir Palmeira, que em 1966 não era ninguém, em 1968 era uma celebridade nacional. E não só ele. Luís Travassos e José Dirceu também transitavam com ares de estrelas de cinema entre os estudantes.

A discussão da UNE em 1968 era somente uma: 1) deveria o movimento estudantil voltar-se para os problemas da universidade e através desses problemas, denunciar o sistema e as estruturas ou 2) deveria acompanhar uma linha política de denúncia constante a todos os atos atentatórios dos “inimigos do povo, da ditadura e do imperialismo”.

A primeira posição era a defendida pelo grupo de Vladimir Palmeira e José Dirceu e o seu grupo era chamado de “Luta Reivindicatória”. A segunda posição a de Luís Travassos e Jean Marc Van Der Weig e era chamado de “Luta Política”.

segunda-feira, fevereiro 27, 2012

O 30º Congresso da UNE


Em Ibiúna, cidade de 5 mil habitantes, localizada à 70 quilômetros de São Paulo, rapazes e moças se encontravam enrolados em cobertores coloridos, no frio do começo da tarde de um sábado de outubro de 1968.

Ao todo, eram 920 pessoas, entre estudantes e jornalistas, todos cansados e sujos de lama, dentro de um galpão da Cooperativa Agrícola de Coitia, para onde tinham sido levados por centenas de soldados da Força Pública estadual, que os prendera na parte da manhã em um sítio, no bairro de São Sebastião, à 14 quilômetros de Ibiúna. Nesse sítio, iria ser realizado o 30º Congresso da UNE.

Os presos foram colocados em 9 ônibus, um micro-ónibus, 5 caminhões, duas kombis e uma Rural Willys. Um deles era um jovem magro, pálido, de olheiras profundas e óculos escuros, enrolado num cobertor de cor amarela. O rapaz tinha o olhar tenso de raiva contida. Era o Luís Travassos, o presidente da UNE.

Travassos foi levado até o Coronel Ivo Barsotti, que era o comandante da Operação Anti Congresso. Travassos foi retirado do meio do grupo e levado até uma Rural, que já estava preso lá também o José Dirceu. Com os cabelos grandes, barba por fazer e olhar cansado, Dirceu disse a Travassos: “Dentro de um mês faremos um novo Congresso”.

Já em São Paulo, no fim da tarde húmida e chuvosa, houve a única tentativa de resistência à prisão. De um ônibus parado em frente ao prédio da Força Pública, na Avenida Tiradentes, o líder estudantil Vladimir Palmeira foge pela porta de emergência e corre descalço pela rua. Os soldados da Força logo o cercam e entram em luta corporal. Vladimir sai com a camisa toda rasgada e é colocado dentro do prédio, junto a Dirceu e Travassos. Agora os três maiores líderes estudantis do país estavam presos, lado a lado. E todos os três já tinham prisão preventiva decretada, portanto, ali iriam ser engaiolados por um bom tempo.

A descoberta do local do Congresso da UNE pela Polícia se deu desta maneira. Na quinta-feira, dois dias antes das prisões, o sitiante Miguel Góis, de Ibiúna, foi até o delegado Otávio Camargo e prestou uma queixa. O que ocorreu foi que, Miguel, ao ir no sítio do seu amigo Domingos Simões para cobrar uma dívida, por fornecimento de milho, não pode entrar porque dois jovens armados de revolver o impediram de passar pela cancela.

Juntamente a isso, no bairro de Curral, à 6 quilômetros de Ibiúna, sitiantes japoneses tinham visto pelas redondezas “muita gente jovem com jeito de cidade”. Também à 2 quilômetros de Ibiúna, na estrada que liga esta cidade à São Paulo, um amigo do delegado, o dentista Francisco Soares, havia encontrado, junto à árvores, panfletos sobre o movimento estudantil.

O delegado Otávio Camargo começou então a juntar os pontos e concluiu que o Congresso da UNE estava sendo realizado em Ibiúna. Logo telefonou e comunicou ao DOPS suas conclusões. Na noite da sexta para o sábado, três destacamentos da Força Pública, sendo dois deles dirigidos pelos delegados do DOPS paulista, Paulo Buonchristiano e Orlando Rosante e o terceiro dirigido pelo Coronel Barsotti, que era o Comandante do 7º Batalhão da Força Pública, de Sorocaba.

Eles cercaram as três únicas vias de acesso ao sítio de Domingos Simões e passaram a noite em claro. Na manhã, logo cedo, foram até a fazenda. Um estudante que estava de sentinela deu tiros para o alto ao ver os soldados, para avisar aos colegas. Os soldados responderam com rajadas de metralhadoras, também para o ar. 

Esses foram os únicos tiros disparados durante toda a operação. Os estudantes se renderam sem luta e a Força Pública agiu sem violência. No sítio, os policiais encontraram uma pistola Lugger alemã, duas Berettas e uma carabina. Domingos Simões, o dono do sítio, tinha 52 anos, era alto e louro e corretor de imoveis. Seu irmão, Jerônimo Simões, era sócio do ex-governador Adhemar de Barros em uma fábrica de aviões.

Os estudantes, rapazes e moças, estavam amontoados na casa do sítio, dormindo em camas de lona ou no chão mesmo. Como não cabiam todos na casa, foram dormir nos currais e chiqueiros do sítio. O fato é que metade dos presos não eram estudantes e sim militantes de partidos contrários ao governo.

Das cabeças do movimento estudantil, apenas duas pessoas não foram presas. Catarina Meloni, pupila de Luís Travassos e Bernardino Figueiredo, presidente do Grêmio da Faculdade de Filosofia da USP, não foram até o Congresso, pois estavam presos até poucos dias antes do Congresso e não puderam ir. Foi no fim das contas, uma coisa positiva pro movimento estudantil.

sábado, fevereiro 25, 2012

As 10 mais de 1956


Para as 10 mais de 1956, começamos com um clássico do rock and rol, Be-bop a lula, de Gene Vincent and His Bluecaps (que viriam a inspirar o brasileiro Renato e seus Bluecaps). A seguir, outro clássio do rock and roll, de Carl Perkins, Blue suede shoes, que viria a ser um grande sucesso também na voz de Elvis Presley. Falando nele, entramos também com outro clássico do rock and roll, esse na voz do próprio rei do rock. Heartbreak Hotel, com o inigualável Mr. Presley. 
 
Pra não cair o nível dos clássicos do rock and roll, mandamos Roll over Beethoven, com o mestre Chuck Berry. Essa cancao também seria gravada pelos Beatles, tendo George Harrison como vocais principais. Voltando um pouco pro lado country, não podemos esquecer do mestre Johnny Cash e a sua I walk the line.

O mestre Little Richard não poderia deixar de entrar nesse rol e tá na lista também o clássico Long tall Sally, que também foi regravada pelos Beatles, tendo Paul McCartney fazendo os vocais principais. O mestre do Soul Ray Charles entra com Hallelujah, I love her so. E pra lembrar o rock romântico, Elvis apresenta Love me tender.

Pra finalizar, dois pianistas. Um, de New Orleans, é o grande Fats Domino e seu classico Blueberry Hill e o outro vem de uma cidadezinha chamada Ferryday, na Louisina. Seu nome, Jerry Lee Lewis e a música, o clássico Crazy arms.  

1 – Be-Bop a Lula – Gene Vincent and His Bluecaps - Be bop a lula
2 – Blue suede shoes – Carl Perkins - Blue suede shoes
3 – Heartbreak Hotel – Elvis Presley - Heartbreak Hotel
4 – Roll over Beethoven – Chuck Berry - Roll over Beethoven
5 – I walk the line – Johnny Cash - I walk the line
6 – Long Tall Sally – Little Richard - Long tall Sally
7 – Hallelujah, I love her so – Ray Charles - Hallelujah, I love her so
8 – Love me tender – Elvis Presley - Love me tender
9 – Blueberry Hill – Fats Domino - Blueberry Hill
10 – Crazy arms – Jerry Lee Lewis - Crazy arms

VEJA TAMBÉM AQUI AS 10 MAIS DE 1955: 1955

sexta-feira, fevereiro 24, 2012

Mackenzie x USP


Era outubro de 1968. Um estudante recebeu uma ovada na cabeça. Depois vieram coquetéis Molotov, bombas, rojões e tiros. O palco da violência era a Rua Maria Antônia, no centro de São Paulo. Era uma briga entre os estudantes da Universidade Mackenzie e da Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo. Uma situada em frente a outra.

O resultado dessa batalha foi um estudante morto, de 20 anos de idade, muitos outros estudantes feridos, os prédios das universidades destruídos, e vários carros incendiados e destruídos. A batalha envolveu 3,000 estudantes do Mackenzie e 2,500 estudantes da USP. O rapaz que morreu se chamava José Guimarães, que não fazia parte de nenhuma das duas universidade envolvidas, mas sim ainda era estudante secundarista. 

No primeiro dia, a batalha durou por aproximadamente 4 horas. Era uma quarta-feira, dia 2 de outubro. As 10 e meia da manhã, tudo começava. O tumulto começou porque os alunos do Mackenzie jogaram um ovo nos estudantes da USP que cobravam pedágio na rua pra arrecadarem dinheiro pro Congresso da UNE e outros movimentos anti-governistas.

Os alunos do Mackenzie eram comandados pelo CCC, Comando de Caça aos Comunistas, pela FAC, Frente Anti-Comunista e pela MAC, Movimento Anti-Comunista. E os alunos da USP eram comandados pela UEE, União Estadual dos Estudantes.  

Ao meio dia, a intensidade da batalha aumentou, pois chegaram os alunos do curso da tarde. A batalha só terminou quando a reitora do Mackenzie, Esther Figueiredo Ferraz, pediu um tropa de choque de 30 guardas-civis para proteger o património da escola. Quando a polícia chegou, os alunos se dispersaram. Houve então uma trégua até que no dia 3 de outubro, quinta-feira, os alunos da USP colocaram uma faixa na rua dizendo: “CCC, FAC e MAC = Repressão. Mackenzie e USP contra a ditadura”. O pessoal do Mackenzie não gostou e foi lá e arrancou a faixa. Começou novamente o tumulto igual ao do dia anterior. Dessa vez até mesmo com a presença dos guardas-civis, que protegiam o Mackenzie, a pedido da reitora.

Luís Travassos, que era o presidente da UNE e Edson Soares, que era o Vice, aliados a José Dirceu, que era o presidente da UEE, eram os comandantes da tropa dos estudantes da USP. Ao meio dia, vários estudantes do segundo grau que saiam das aulas foram pra lá pra assistir a batalha. Aproveitando-se dessa plateia, a galera da USP pedia dinheiro pra comprarem material de guerra.

Um grupo de meninas do colégio “Des Oiseaux” estava ali assistindo ao tumulto e entre elas a filha do governador de São Paulo, Roberto de Abreu Sodré. Elas ficaram ali até que um grupo de estudantes jogou pedras contra os policiais e um dos policiais sacou um revolver e atirou pro ar e um aluno agarrou-se com ele, tentando tomar a arma da mão dele. Dois outros soldados começaram a dar tiros no chão e um estudante foi ferido na perda. O nome dele era Jorge Antônio Rodrigues, estudante do terceiro ano de economia. Os estudantes tomaram inclusive um capacete de um policial e esse capacete foi usado como trofeu de guerra, pra dar moral à tropa de estudantes. Um aluno do Mackenzie também foi atingido no rosto por um rojão.

O Exercito não quis se meter, pois julgava que aquilo era apenas briga entre marginais e não manifestação politica. Quem disse isso foi o General Sílvio Correa de Andrade, Chefe do Departamento de Polícia Federal de São Paulo. Portanto, na ideia dele, o problema era da Polícia estadual.

Um carro de bombeiros com seis bombeiros chegou ao local às 13:30 pra combater os focos de incendio no prédio da USP. Estacionaram na Rua Vila Nova e começaram a apagar o fogo. José Dirceu gritava: “A violência da direta está sendo respondida pela violência organizada do povo e dos estudantes”. E concluía: “Vamos esmagar a reação”.

Pois bem, um grupo de secundaristas recolhia pedras pros alunos da USP jogarem nos alunos do Mackenzie. Então um aluno de Direito do Mackenzie chamado João Parisi Filho, halterofilista e desenhista, que tinha tido trabalhos expostos na última Bienal de São Paulo, inventa de caminhar pela Rua Vila Nova. Os estudantes da USP gritaram que ele era integrante do CCC e então cerca de 80 deles cerca o Parisi e gritam: “Linchem o canalha!!!”. O Parisi tinha um revolver, que foi tomado pelo grupo da USP. Deram uma surra no rapaz e o sequestraram pra dentro do prédio da USP, que tinha entrada tanto pela Rua Maria Antônia como também pela Rua Vila Nova. Inclusive o Parisi foi preso à noite quando o prédio da USP foi tomado pela Força Publica e levado junto com os demais pro DOPS.

De repente, um grupo de jovens pede uma ambulância. Eles carregavam um jovem de cabelos pretos, cuja camisa de linho branca estava ensopada de sangue. Era o jovem José Guimarães, que eu falei no início da história desse confronto. Estudante do Colégio Marina Cintra, ele cursava o terceiro ano ginasial, filho de mãe viúva.

O que o levou a morte foi a besteira de ajudar os alunos da USP, recolhendo pedras e entregando pra eles. Uma perua dos Diários Associados o levou para o Hospital das Clínicas, mas ele morreu à caminho do hospital. A bala foi de calibre 0.38 ou de fuzil. Havia seis ou sete pedaços de chumbo no cérebro. O tiro entrou 1 centímetro acima da orelha e saiu à altura da linha mediana da cabeça, atras, ligeiramente à esquerda. A bala fez um sentido de cima pra baixo, em sentido oblíquo. Até hoje não se sabe quem atirou.

Ao saber da morte do estudante secundarista, José Dirceu sobe num monte de tijolos, cadeiras, e paralelepípedos, que servia de barricada e faz um discurso relâmpago. Ele disse: “Não é mais possível mantermos militarmente a Faculdade. Não nos interessa continuar aqui, lutando contra o CCC, FAC e MAC, esses ninhos de gorilas. Um colega nosso foi morto. Vamos às ruas denunciar o massacre. A polícia e o exército de Sodré que fiquem defendendo a fina flor dos fascistas. Viva a UNE, abaixo à reação”.

Deu uma pausa e continuou: “Jorge, o rapaz morto, é um segundo Edson Luís! (o secundarista que morreu no Restaurante Calabouço, que trato no começo desse capítulo) Vamos às ruas!!!”. Com essa oratória, Dirceu coloca todo mundo em posição de passeata. Dirceu errava o nome do rapaz, que na verdade era João, mas que naquela hora ninguém sabia ao certo.

Os estudantes ganharam a cidade em minutos, cerca de 800 deles. O primeiro ato foi quebrar por inteiro um Aero Willys da prefeitura de São Paulo. Não sobrou nada do veículo. Em seguida, viraram e tocaram fogo num Volkswagen da Policia. Depois foi a vez de um Aero Willys da Força Pública de São Paulo.

Aproveitando as chamas dos carros queimando, José Dirceu e Edson Soares fizeram outro discurso. Novamente falavam do companheiro morto e ofereceram solidariedade aos bancários, que em greve, resistiam à opressão. As meninas, aproveitando os automóveis parados, novamente pediam dinheiro pra resistência à opressão, ao mesmo tempo em que avisavam aos passageiros dos carros da morte do colega.

Minutos depois desse discurso, tocaram fogo em outro Volkswagen da Policia e um Rural Willys, também da Polícia era depredado. Na Praça da Sé, um outro Rural Willys, dessa vez da Polícia Federal, também foi depredado. A passeata então dirigiu-se pro Largo de São Francisco, onde fica a Faculdade de Direito, que recebeu paus e pedras. Ali, José Dirceu fez novo discurso. Dali, os estudantes foram pra Praça das Bandeiras, onde surgiu um caminhão com doze homens da Força Pública. Os estudantes fugiram e seis jornalistas foram presos.

De volta à Rua Maria Antônia, cerca das 18:30, Luís Travassos, presidente da UNE, entrou na USP dizendo: “É preciso desmobilizar isso aqui. Daqui a pouco não temos mais munição. O prédio pode ser invadido, vai ser um massacre”. Lá penas 20:30 José Dirceu reaparece, com uma camisa toda suja de sangue. Dirceu sobe então em uma janela e cercado de fotógrafos e cinegrafistas, faz um gesto dramático. Disse ele, mostrando a camisa ensanguentada: “Colegas, essa camisa é do nosso colega morto pela repressão. Vamos todos pra Cidade Universitária. Haverá assembleia.

Foi então que de fato começou a chegar a repressão. Da Força Pública vieram 240 soldados, cem soldados da Polícia Montada, dois tanques de guerra e 50 cães adestrados. O Mackenzie foi ocupado sem problemas. A USP também foi ocupada. Os alunos e professores estavam trancados numa sala pra redigir um manifesto sobre os últimos acontecimentos. Os estudantes do Mackenzie cantavam o Hino Nacional. Enquanto isso, o diretor da Faculdade de Filosofia da USP, professor Eurípedes Simões de Paula,  decidia que naquele local não seria possível terminar o ano e se mudaram então pra Cidade Universitária. Com isso, o domínio da Rua Maria Antônia passava a ser completo do Mackenzie.

Na sexta-feira, dia 4 de outubro, cerca d 4 mil pessoas se uniram pra fazer uma passeata que durou cerca de 1 hora no período da tarde. Passeata essa em sinal de protesto pela morte do estudante secundarista José Guimarães. A União das Mães de São Paulo, que apoiou a passeata, pediu que os estudantes fizessem um protesto pacífico. Os estudantes responderam que nada iam fazer de pacífico, que na verdade o que pensavam era: “O povo armado derruba a ditadura!!”

As mães então disseram que retiraram o apoio caso a passeata fosse violenta. Mas não houve paz. Os estudantes quebraram as vidraças do Citibank, outros carros foram virados e queimados. As 20 horas, longe dali, e com a passeata já dispersa, uma perua da Força Publica foi atacada e destruída. José Guimarães foi enterrado no Cemitério do Araçá, as 13 horas da sexta-feira, dia 4 de outubro.

segunda-feira, fevereiro 13, 2012

A anatomia do movimento estudantil


José Dirceu de Oliveira nunca dormia na mesma casa todas as noites, andava sempre armado e com seguranças. Ele era o presidente da UEE, União Estadual dos Estudantes, de São Paulo. Isso era na época em que concorria a presidência da UNE, uma vez que o seu companheiro, Vladimir Palmeira, que seria o candidato natural do seu grupo, se encontrava preso e tinha ficado muito conhecido.
  
O DOPS queria prender José Dirceu antes dessa eleição da UNE, que iria ocorrer no 30º Congresso Nacional dos estudantes, marcado para o fim de Outubro de 1968. Por causa desse congresso, as lideranças estudantis ficaram mais cautelosas e suspenderam as passeatas e evitaram qualquer choque com a polícia.

Vladimir Palmeira, presidente da UME, havia sido preso em 3 de agosto, no Rio de Janeiro. A UME era a União Metropolitana dos Estudantes, do Rio de Janeiro. Franklin Martins era o seu substituto na presidência da UME enquanto Palmeira estava preso. Quando Palmeira foi preso, a sua área de atuação se dividiu em duas. Uma comandada por Martins, que era favorável a luta dos estudantes dentro das universidades e a outra linha era comandada por Marcos Antônio Nascimento, que defendia uma luta mais direta contra o governo. 

Já o presidente da UNE de então, Luís Travassos, defendia uma linha ainda mais agressiva e seu lema era: “O povo unido derruba a ditadura”. Honestino Guimarães, da Universidade de Brasília, era um dos candidatos fortes à presidência da UNE, mas também se encontrava preso junto com Palmeira. Também presa estava Catarina Meloni, também presidente da UEE juntamente com Dirceu, pois a UEE havia também se dividido em duas alas. 

Outro líder estudantil preso era Atos Magno da Costa e Silva, presidente do DCE de Minas. Atos Magno deixou em seu lugar o ex-presidente do DCE mineiro Jorge Batista, que também era forte candidato à presidente da UNE. Preso também estava Bernardino Figueiredo, presidente do Gremio da Faculdade de Filosofia da USP. Havia sido libertado pouco antes do 30º Congresso o estudante Edson Soares, um dos vice-presidentes da UNE, que tinha muito prestígio entre os estudantes, mas que aparecia menos do que Dirceu e Travassos. Esses nomes compunham a alta cúpula do movimento estudantil brasileiro em 1968. 

Com uma manobra jurídica, Vladimir Gracindo Soares Palmeira foi solto em setembro de 1968, mas ao ser solto, já haviam emitido uma outra prisão preventiva pra ele. Com isso, todas as delegacias do DOPS e regiões militares do país recebiam ordem para prende-lo novamente e encaminha-lo pra Marinha. Por causa disso, Vladimir Palmeira decidiu não concorrer a nenhum cargo de diretoria da UNE. Também porque seu rosto era muito conhecido e como a UNE era ilegal, o presidente precisava ser locomover sempre na clandestinidade. 

Fora da disputa, Vladimir Palmeira passou a apoiar a então candidatura de José Dirceu de Oliveira. Franklin Martins havia vencido a disputa com Marcos Antônio Nascimento e passou a ser o presidente do DCE da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Nascimento esse que era apoiado por Luís Travassos, que era o presidente da UNE em 1968. Franklin Martins era filho do senador Mário Martins.

A linha de Travassos perdeu da linha de Palmeira no Rio. Travassos, como já foi dito, pregava a radicalização do movimento estudantil. Queriam lutar nas ruas, lutar à frente do povo contra a ditadura e o imperialismo. A luta de Palmeira pregava a luta dos estudantes dentro das universidades, para reforma-las e assim contribuir na sua luta contra o governo. 

Tudo se encaminhava pra eleição de José Dirceu no 30º Congresso da UNE, afinal restavam poucos nomes pra concorrer ao cargo. Honestino Guimarães, de Brasília, e Atos Magno da Costa e Silva, de Minas, estavam presos. Para Travassos só restava Jean Marc, da UFRJ, para concorrer com Dirceu. Edson Soares apoiava Dirceu, assim como Carlos Alberto Muniz, presidente da UME, que sucedeu Vladimir Palmeira. 

A UNE passou a se chamar Ex-UNE desde a lei 4.464, de 9 de novembro de 1964, que a considerou extinta. Para substituir a UNE, foi criado o Diretório Nacional de Estudantes. Então a UNE, já Ex-UNE, promoveu um plebiscito perguntando aos estudantes se apoiavam a Lei 4.464, também conhecida como Lei Suplicy Lacerda, nome do então ministro da Educação. Os estudantes votaram em 92,5% contrários a lei. 

Em fevereiro de 1967, o então presidente Castelo Branco decidiu revogar a lei, assinando o decreto-lei 288, extinguindo também o DNE. Com isso, os estudantes não podiam ter uma associação nacional de forma alguma. O decreto-lei 288 dizia que as associações estudantis deviam se ater a cada universidade. Mas isso não parou que a UNE continuasse se encontrando, em congressos clandestinos. 

Em junho de 1964, se encontraram no restaurante Calabouço, no Rio de Janeiro. Restaurante esse que foi fechado em 1968 pelo então presidente Costa e Silva. Em 1965 também se reuniram no Rio de Janeiro, elegendo o carioca Alberto Abissamara pra presidente. A reunião de 1966 foi no convento dos padres Franciscanos, em Belo Horizonte, e elegeram o mineiro Luís Moreira Guedes. Em 1967, reuniram-se no convento dos Beneditinos, em Vinhedos, São Paulo. O eleito foi o paulista Luís Travassos.

O Congresso de 1968 ia ser em Ibiúna, São Paulo, mas foi abortado antes mesmo de começar pelas forças militares. Falaremos mais em detalhes sobre esse evento um pouco mais tarde.  

sábado, fevereiro 11, 2012

As 10 mais de 1955

Inaugurando a série “As 10 mais”, iniciemos no ano de 1955. Trata-se de escolher, na minha opinião, as 10 melhores, mais importantes e fuderosíssimas músicas de cada ano. Elas não estão na ordem de importância, nem para mim e nem para o mundo. Só estão na ordem que eu quis. 
 
Senao vejamos. Nessa ano de 1955, os Platters colocam seus dois clássicos, representantes do melhor estilo Doo-Wop: Only you e The Great Pretender. Ray Charles manda I got a woman, que segundo alguns afirmam, foi a primeira gravação que pode ser considerada Soul Music. 

Representando a country music verdadeira, temos o grande Johnny Cash, com a sua The Folsom Prison blues e representando o jazz de New Orleans, temos o grande Fats Domino com a sua Ain’t that a shame

Chuck Berry chega com sua Maybellene, inaugurando o que se tornou depois uma norma, o uso efusivo da guitarra elétrica no rock and rol. Little Richard também faz seu début com o que viria a se tornar um classico do rock and roll, Tutti-frutti. Pra fechar o pacote de rock, temos o inigualável rei do rock, Elvis Presley, com Baby let’s play house.  

Pra fechar a conta, temos dois clássicos do Blues. A primeira Mannish boy, de Muddy Waters e a segunad Everyday I have the blues, com o mestre B.B. King. Aproveitem!!! Ao lado de cada música, um link com mais informações sobre cada música, sendo possível inclusive, escutar ou ver o artista tocando-a. 

1 – Only you – The Platters - Only you
2 – The great pretender – The Platters - The great pretender
3 – I got a woman – Ray Charles - I got a woman
4 – The Folsom Prison blues – Johnny Cash - The Folsom Prison blues
5 – Ain’t that a shame – Fats Domino - Ain't that a shame
6 – Maybellene – Chuck Berry - Maybellene
7 – Tutti-frutti – Little Richard - Tutti-frutti
9 – Baby let’s play house – Elvis Presley - Baby let's play house
8 – Mannish boy – Muddy Waters - Mannish boy
10 – Everyday I have the blues – B.B. King - Everyday I have the blues

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sexta-feira, fevereiro 10, 2012

O Começo dos conflitos


A nossa história começa no restaurante Calabouço, no Rio de Janeiro, onde um conflito entre Policia Militar e estudantes resultou na morte de Edson Luís de Lima Souto, um estudante de 18 anos, que levou um tiro no peito. Quase ao mesmo tempo, num escritório perto do restaurante, uma bala perdida atingia a boca de Telmo Matos Henriques, de 39 anos, que trabalhava ali tranquilamente.
 
Esse episódio ocorreu no dia 28 de março de 1968 e marca o começo de uma nova era de manifestações estudantis que atingia várias cidades brasileiras. A maioria dessas manifestações ocorria sem repressão da polícia. Quando a polícia estava no local, os manifestantes partiam pra cima. Era uma fase diferente que quebrava o silêncio dos estudantes depois de quase cinco anos de quietude. De um tempo de protesto romântico, os estudantes entraram na fase da violência, da luta contra a Polícia.

Quando alguns podem pensar que de fato esse protesto havia sido feito mesmo pelos estudantes e já achar estranho que estudantes em vez de estarem estudando, estivessem trocando pau com a polícia, a verdade não era bem essa. A verdade é que, grande parte dos estudantes era dirigida por elementos estranhos à classe estudantil. Na sua grande maioria, os cidadãos que estavam por trás desses tumultos eram integrantes do então extinto Partido Comunista. 

O confronto estudantil com o governo era utilizado por esses líderes de forma pensada, pois sempre que havia um conflito, o governo saía perdendo. Se um soldado da polícia saía machucado, o governo aparentava uma posição frágil aos olhos da opinião pública. Se um estudante saía machucado, o governo era chamado de opressor. E tudo isso era de conhecimento de quem organizava essas manifestações. Até hoje é. 

Então se a Polícia era enviada para o local, ao chegar, já era recebida na base da porrada, pois essa era a técnica. Não existia diálogo, nem pausa. Avistaram a polícia? Baixem o pau, estudantes do meu Brasil!!! Mesmo com alguns cortes e até algumas possíveis mortes, o resultado é maior, em prol do nosso plano sinistro. 

Tudo era muito treinado, como a tática de todos os estudantes andarem ao mesmo tempo na contramão no meio da rua, na hora do rush, com o intuito de atrapalharem a polícia e o trânsito. Para atrapalhar a cavalaria, os estudantes passaram a jogar milhares de bolas de gude, com o intuito de derrubarem os cavalos. Alem disso, as bolas de gude também serviam como pedras contra o cavaleiro. 

Como a polícia não conseguia chegar perto dos vândalos, pelos motivos citados, e não podiam revidar, só restava a arma de fogo e por isso começaram a ter resultados mais desastrosos. E com a vantagem de ainda saírem dizendo: “atiraram em estudantes que a única arma que possuíam eram bolinhas de gude”. Tudo sinistramente orquestrado, para sempre se fazerem de coitadinhos, quando na verdade eram lobos em peles de cordeiros. 

Tudo estava começando a se esvair no ar, quando em setembro de 1968, a polícia invadiu a Universidade de Brasília depois que essa turma se apossou da instituição, reaquecendo a discussão sobre o tema e dando inicio a uma crise no governo sem precedentes. 

Um estudante foi ferido gravemente e alguns deputados também foram pro pau, quando tentavam ajudar alguns estudantes. Logo após a invasão, professores, alunos e funcionários da Universidade lançaram um manifesto falando em “Operação militar em um país em guerra”. 

O Exército não ficou satisfeito com a ação da Polícia Militar, que agiu de forma independente nesse evento da invasão da Universidade de Brasília. O governo ficou chateado pois se tratava de propaganda negativa. O Ministro da educação de então, Tarso Dutra, declarou na imprensa que houve imprudência das autoridades policiais de Brasília e próprio presidente Costa e Silva veio a público pra expressar sua vontade em prol do fim dessa violência.  

Só para se ter uma idéia de quão “braba” era a ditadura até o momento. O governo se preocupava porque a polícia invadia uma universidade, tomada por manifestações. Não houve mortes. E isso já tínhamos 4 anos e meio de governo militar. Esses quatro anos e tanto são esquecidos por aqueles que adoram contar a história da forma deles. 

A verdade é que o mundo estudantil é um micro cosmo do mundo político geral. Poucos lideres tem suas benesses e vantagens, enquanto a grande massa de idiotas aceita e segue o que lhes é passado. Ocorre na vida política e ocorre dentro do movimento estudantil. Quem não se lembra de Lindemberg Farias, dos Caras Pintadas, nos anos 1990?

Lembro-me quando ainda fazia o meu curso de Mecânica, na então Escola Técnica Federal do Rio Grande do Norte, nos primeiros anos da década de 1990. Tínhamos lá um sujeito chamado Valdemar Soares, que era o presidente do grémio estudantil. Vivia a incitar greve e em algumas oportunidades, saiu com um grupo de estudantes mais afoitos pra trocar pau com a polícia na Hermes da Fonseca, em frente a Escola. Evidentemente, logo que passou a fase de apanhar da polícia, entrou pra política. É um caminho traçado conscientemente por eles.

E porque ele saiu pra trocar pau com a polícia? Porque os estudantes da ETFRN estavam apoiando a greve dos motoristas e cobradores de ônibus, que alem de não estarem trabalhando, ainda bloqueavam uma das principais artérias viárias da cidade, impedindo que a cidade funcionasse direito. A polícia veio pra estabelecer a ordem e o que os estudantes queriam ia acontecer. A troca de pau com a polícia é sempre benéfica pro movimento. 

Então, gostaria que ficasse o registro de como começou a violência no período militar, que passou o governo Castelo Branco em brancas nuvens. O ano de 1968 foi o ano 1 da porradaria, que acarretaria no Ato Institucional numero 5 no final do ano, por causa, entre outras coisas, da crise política que se instalou no país. Crise essa oriunda desses conflitos com os “estudantes”.

sexta-feira, fevereiro 03, 2012

Período militar e algumas verdades


Pra algumas pessoas, o governo militar foi uma droga e acabou-se. Não tem discussão. Mas de que governo militar você fala? Você acha que os 21 anos foram o mesmo governo e com as mesmas características? E também acha que os militares foram lá e derrubaram João Goulart e fizeram tudo o que queriam depois?

Pra que possamos continuar, é precisão esclarecer uma coisa. O período militar foi dividido em 4 partes. O primeiro, Castelo, foi um regime saneador e modernizador. O segundo regime foi o período de confusão e opressão que começa com Costa e Silva, passa pela Junta Militar e vai até o meio do governo Médici. O terceiro é a segunda metade do governo Médici e o quarto é a dissolução do regime, com Geisel e Figueiredo.

Dito isso, é importante fazer um apanhado histórico sobre a época de Jango. O senhor Jango estava mais malhado do que o Judas. Ele acobertava a intervenção armada de Cuba no Brasil desde 1961, estimulava a divisão dentro das forças armadas pra provocar uma guerra civil, desrespeitava a Constituição de maneira sem vergonha e elevava os gastos públicos até as nuvens, provocando uma inflação que levava o povo à miséria e enganava a população aumentando os salários. Aumentos esses fictícios por causa da inflação que comia tudo.

A derrubada do presidente foi um ato legítimo, apoiado pelo Congresso e pela maioria da população brasileira, salvo os membros da esquerda que estavam alinhados com Cuba e União Soviética. Se você tem dúvida sobre o apoio popular, procure saber sobre a maior manifestação de massas de toda a história nacional, que foi a “marcha da família com Deus pela liberdade”. Essa marcha foi bem maior do que todas as passeatas que vieram depois contra a ditadura.

No primeiro regime, no governo Castelo, não existiu restrição às liberdades. Castelo demoliu o esquema político comunista sem sufocar as liberdades públicas. Castelo foi duramente criticado justamente por isso, por não ter abafado as manifestações culturais e ensinamentos comunistas na sua gestão. Caso isso tivesse sido feito, talvez esses canalhas terroristas nem tivessem se criado. Não houve também violência física nessa época, exceto pela parte dos comunistas, que cometeram 82 atentados. Assim, respondemos alguma pergunta sobre quem começou a putaria.

Portanto, se a maioria pediu a queda de Jango, e a minoria (esquerda) queria o poder, qual era o regime de exceção de fato, como se diz por aí? Congresso, população, líderes políticos e comunitários, todos queriam Jango fora. E os atentados começaram com os comunistas e Castelo não deu resposta à altura. Na minha opinião, já era pra ter matado a cobra enquanto era minhoca. Com o AI-5, no próximo governo, começariam sim, as repressões sangrentas, o abuso da autoridade e a ditadura propriamente dita.

Não irei perder meu tempo descrevendo o governo Costa e Silva, AI-5, e o escambau, pois isso todos sabem melhor do que eu. Assim pulo pro governo Médici, que acabou com a guerrilha esquerdista, e teve um sucesso econômico gigantesco. O Brasil que era a 46ª economia do mundo, no governo Médici chegou a 8ª economia do mundo. Aí vem Geisel, que a esquerda deveria adorar, pois foi o presidente militar que adotou uma politica econômica socializante e inscreve o país no clube terceiro-mundista antiamericano e ajuda Cuba a invadir Angola.

Inclusive, esse foi o maior dos crimes da ditadura e ninguém diz nada a respeito, pois justamente foi feito pra ajudar a esquerda, então, calemo-nos irmãos. A invasão de Angola por cuba foi um genocídio que matou mais de 100 mil pessoas.

É de fato uma desonestidade intelectual atribuir a esses 4 regimes distintos o mesmo price tag. E da forma como são diferentes, não podem ser julgados em bloco. Castelo Branco foi um homem justo e um grande presidente. É famosa a história de que haviam pego o irmão dele recebendo um automóvel Aero Willys em um suposto caso de tráfico de influencia e o irmão perguntou se ele iria ser demitido. Castelo respondeu ao próprio irmão que: “Demitido você já está, quero ver o que eu faço pra que eu não coloque você na cadeia”.

Médici foi o melhor administrador que tivemos, porem era um péssimo político. Se alguém quiser criticar mesmo o governo militar sem parecer desinformado, essas críticas devem recair sobre a Junta Militar, Costa e Silva, Geisel e Figueiredo. Mas cada crítica com um viés diferente. Criticar assim é o mesmo que dizer que o governo do PT foi uma merda só, quando na verdade, tivemos dois presidentes até agora, cada um com suas próprias merdas.

Quer criticar, é contra, acha que a esquerda se fudeu? Tudo bem, mas ninguem pode negar as realizações mais obvias dos governos militares, sem ter nenhum respeito pela realidade histórica. E nem pode ocultar os crimes incomparavelmente mais graves praticados por comunistas que agora querem mudar a memória nacional para posarem de anjinhos.

Para os “professores de história” e a canalha que comanda o país hoje e seus seguidores, a esquerda terrorista era composta por “agentes da liberdade”, por pessoas que queriam implantar uma democracia no Brasil, pois eram contrárias à ditadura vigente, e refletiam os anseios da população brasileira, agindo da forma como podiam, matando gente, assaltando banco, sequestrando embaixadores e matando “agentes da cia”, etc, etc... e que foram mortos por militares bárbaros e cruéis, torturadores sem coração, que mataram os pobrezinhos inocentes que matavam a torto e a direita por esporte.

Mas na realidade, ocorreu justamente o contrário. Os militares combateram e derrotaram uma guerrilha armada, instruída e financiada por Cuba, entre outros grupos armados de esquerda, com a clara intenção de montar uma ditadura de esquerda no brasil. Os militares se opuseram a agitadores e terroristas, de armas na mão, evitando que o país fosse levado à anarquia completa e de se tornar uma grande Cuba.

Dizer que os militares eram os maus e os esquerdistas terroristas eram os bonzinhos não cola mais. Até porque, sabemos quem são os vermes que compunham a esquerda daquela época. Alguns deles estão ai. Os Dirceus, Minks, e Genoínos da vida.

Eram dois grupos em busca de duas ditaduras diferentes (Uma da manutenção da vigente e a outra da instalação). A primeira de direita e a última, de esquerda. Os de direita souberam se utilizar dos meios disponíveis e ganharam uma guerra civil. Tudo o mais é blá blá blá. É choro de bebê.

Na verdade, na verdade mesmo, a esquerda brasileira sempre foi despreparada e sem uma análise correta da realidade (análise essa do próprio Prestes, naquela famosa entrevista que tenho dele e que falo sempre), apesar de se acharem todos intelectuais. Claro que não tinham a mínima chance de derrubar o governo militar, mas mesmo assim, continuavam com a anarquia e bagunça. E reclamavam, entre outras coisas, da censura. Ora bolas, censura é um dos 10 mandamentos da esquerda. Cuba tá ai pra não me deixar mentir. Não se tem acesso à internet, não se pode ter tv à cabo, somente os sites e canais que o governo libera.

Basta fazer uma análise como sendo um comandante militar de então. Você é o governo e aparecem uns idiotas, armados ate os dentes, querendo matar gente na rua, e fazer arruaça. Você iria pensar: espere ai, vou matar 10, porque eles mataram 10? Hoje eles mataram 15, então eu vou matar 15? Não, isso não existe. Se fosse um general de Castro, por exemplo, iria mandar aniquilar todos, como fez inclusive o senhor Castro. Mas ninguém nunca analisa a questão da guerra civil na época da ditadura militar porque isso é um dogma. Inclusive as contas de mortos em Cuba pelo regime de Fidel chegam a 9 mil mortos. Os 300 do Brasil, que são mortos de ambos os lados, são um inseto perto desse genocídio Fidelino.

Se a ditadura do brasil fosse de esquerda e não de direita, o número de mortos e desaparecidos seriam de no mínimo 3000, e não apenas de 300!!! No mínimo!!! E nem adianta dizer que não se faz história com hipóteses, pois temos exemplos disso em todo lugar do planeta, de como os esquerdas são “benevolentes” com seus dissidentes e inimigos.

Imagino Carlos Marighella, Carlos Lamarca e o Joaquim da Camara Ferreira assistindo Collor e Sarney no mesmo palanque de Lula. Para eles, seria uma coisa tão horripilante quanto se depararem com Madre Tereza de Calcutá fazendo um bola-gato em Adolf Hitler. Mas os tempos mudam.

De toda forma, continuam tentando, como é agora com essa palhaçada chamada Comissão da Verdade. Comissão essa formada e escolhida à dedo, que já possui os nomes a serem punidos, assim como as sentenças já estão dadas. É impressionante como alguém reclama dos métodos militares brasileiros. Fidel, Lenin e Stalin são mesmo figuras conhecidas pelo seu carater democrático. 
Por tudo isso eu defendo o período militar, pois as opções que tínhamos eram piores. A esquerda brasileira naquela época matou tudo o que ela teve oportunidade. Se não matou mais é porque não tiveram oportunidade.

Um tal de capitão Vânio, que como Lamarca, se aliou aos comunistas e desertou o exército, mandou uma carta aos terroristas dizendo onde haveria um treinamento do exército, para que os terroristas pudessem chegar de surpresa e tomar as armas. No bilhete, dizia: “cheguem com tudo que vai haver reação por parte dos militares”.

Essa frase rodou em todos os quarteis. “cheguem com tudo”. Era essa a esquerda boazinha que todos se referem? Chegue com tudo em frente a um batalhão que treina é o mesmo que dizer chegue matando todo mundo. Pena que a carta foi interceptada e o capitão Vânio pagou com a vida. Não pelo exército brasileiro. Ele foi trocado por um desses embaixadores e foi pro Chile. Lá começou a fazer as mesmas merdas e foi assassinado junto com tantos outros esquerdistas dentro de um estádio de futebol, pela polícia política de Pinochet.

Pra não me alongar demais, isso aí explica porque eu defendo a ditadura militar brasileira. E sim, cometeram erros, como todo governo. E os erros deles não são mais grotescos do que os que a esquerda cometem e cometeriam. Celso Daniel e Toninho do PT estão aí pra provar o que a esquerda faz com quem não se alinha. E pelo que sei, não vejo nenhum relato de nenhum militar matando seus próprios membros.

Justiçamento foi o que aconteceu com esses dois pobres diabos, como aconteceram vários dentro da esquerda, desde à época de Prestes até hoje, pelo que se vê.