quarta-feira, junho 29, 2011

A diferença fundamental

Americanos brigam de soco. Boxe é a luta nacional. John Wayne nunca usou as pernas pra brigar. Já os brasileiros brigam com as pernas. Não os lutadores de vale-tudo, mas o brasileiro comum. Quando começa uma briga no Brasil, vê-se logo pernas voando e chutes no incauto. Se o sujeito ficar em posição de boxe, será logo ridicularizado. Na América não, é comum isso acontecer.

Os americanos usam a parte de cima do corpo, os brasileiros usam a parte de baixo. Americanos usam as áreas mais nobres do corpo, os brasileiros às menos nobres. Eles estão mais perto do céu, o brasileiro do inferno. Ah, estão acima dos brasucas, pois estão no Norte e o Brasil, no sul. Na economia, também estão por cima.

No americano, o equilíbrio corporal é no peito, por isso a força escorrem pelos braços e estouram nos punhos. No brasileiro, o ponto de equilíbrio está na cintura. Um brasileiro é reconhecido na multidão pelo modo de mexer a cintura. Por isso a força escoa para as pernas e resultam em força e agilidade no percurso que vai até a ponta dos pés.

Uns poderiam dizer que são heranças dos negros, por isso temos essas características. Mas nos Estados Unidos também tem negros e eles também brigam com os punhos, a exemplo de Joe Louis, Muhammad Ali, Mike Tyson, George Foreman, Evander Holyfield e tantos outros boxers negros. E mesmo quando tentam jogar com a bola, os negros americanos escolherem o basquete, que se joga com as mãos.

Mesmo o futebol deles é jogado com as mãos. E é por tudo isso que se foi dito acima que o brasileiro é tão bom no nosso futebol, aquele que se joga com os pés, que precisa da cintura que gira do jeito da que conhecemos, mesmo estando por baixo na economia, no sul da geografia e mais perto do inferno.

terça-feira, junho 28, 2011

Previdência sem providência

Tem uma coisa que me preocupa intensamente. Saber se irei receber ou não todas as contribuições que fiz para a minha aposentadoria através do Canadian Pension Plan, o famigerado CPP, que nos assalta todo Abril quando fizemos a declaração de imposto de renda de pessoa física.

Ora, o CPP é o mesmo que a previdência social brasileira, isto é, coleta o dinheiro de forma compulsória. Não temos como fugir. É complicado, pois quem sabe um pouco disso, tem a noção que contribuímos pra um fundo que nem sabemos se permanecerá vivo quando chegarmos a idade de descansar.

Na teoria, a previdência social e o CPP tem três objetivos.

1) Assegurar aposentadorias razoáveis;
2) Transferir recursos pros mais pobres e;
3) Acumular poupança pra alavancagem do desenvolvimento.

No caso do Brasil, as aposentadorias miseráveis são a maioria e uma minoria recebe uma fortuna. Na mão grande, a poupança dos pobres é usada pra financiar aposentadorias precoces (exemplo: sujeitos com menos de 50 anos se aposentam devido à alguma conquista “justa” trabalhista) e especiais de grupos politicamente mobilizados (exemplo: alguns funcionários federais da área de educação).

No Canadá, pelo menos nesse aspecto, funciona de forma invertida. Sim, alguns funcionários federais e alguns outros sortudos recebem pensão integral ou 70% do salário, mas eles tem contribuição a parte. Assim, quando um sujeito já tem uma pensão garantida ou mais alta do que o esperado, ele passa por um negócio chamado Ajuste de Pensão (PA, Pensão Adjustment), que faz com que diminua o dinheiro que sai do CPP pra ele todo mês. Portanto, quem tem dinheiro, não mama muito na CPP.

Com esse sistema, a terceira função não pode ser cumprida, pois não há acumulação de poupança à ser investida, pois tudo é consumido com os gastos do momento com os aposentados de hoje. Não existem reservas e nem capitalização. E isso é um privilégio de ambos os países. Isso acontece porque? Por uma falha no cálculo atuarial, que é difícil de ser alterado, não foi-se calculado que o número de jovens que nascem seria menor do que o número de velhos. Assim, o dinheiro arrecadado é menor do que o dinheiro a ser distribuído.

Dessa maneira, o sistema previdenciário de contribuição coletiva é:

1) Anti-democrático;
2) Anti-social e;
3) Anti-desenvolvimentista.

Anti-democrático pois priva o cidadão de escolher quem vai administrar sua poupança, pois as contribuições são compulsoriamente entregues ao INSS e ao Canada Revenue Agency (No caso dos dois países em questão). Na verdade, a contribuição vira uma espécie de imposto.

Anti-social, no caso do Brasil, porque as contribuições ficam à sanha de grupos politicamente organizados que auferem benefícios desproporcionais. Lógico, que são eles que controlam a grana. Os pobre nunca controlam e nem irão controlar nada. No Canadá existe um pouco mais de equilíbrio devido ao Pension Adjustment.

Anti-desenvolvimentista pois as contribuições são gastas pra pagar os gastos correntes de aposentadorias, sem alavancagem de investimentos através das cadernetas. Acredito que aqui nesse quesito os dois países possuem problema semelhante.

Qual seria a solução? Ora, mais uma vez é destruir a idéia de coletivo e partir pra um sistema de capitalização individual providenciaria. Nesse sistema, o benefício é sempre o valor da sua contribuição individual capitalizado, eliminando o incentivo à busca de aposentadorias precoces ou especiais.

Com esse plano, a previdência passaria a ser de responsabilidade do indivíduo, cabendo ao governo supervisionar e fiscalizar os administradores da poupança providenciaria e complementar a renda daqueles que ao final da vida laboral não alcancem um mínimo vital garantido por lei.

No caso canadense, apesar da contribuição compulsória do CPP, o governo incentiva bastante à poupança privada com a utilização do RRSP. O Registered Retirement Savings Plan é um auxílio que o governo dá como forma de incentivo à previdência privada, uma vez que permite que você contribua em até 18% do seu salário e você ganha de duas formas:

1) O lucro do dinheiro aplicado nessa conta não é taxado, assim o dinheiro cresce mais livremente. Embora você vá ser taxado quando se aposentar, o fator dos juros compostos favorece o contribuinte;

2) O valor da sua contribuição diminui da sua renda total, podendo abaixar a sua alíquota. Por exemplo, um sujeito ganha 45 mil dólares por ano e contribui 8 mil pro RRSP, ele pode baixar sua alíquota em mais ou menos 10% (são números aleatórios, não sei os números das alíquota desse ano), pois no sistema canadense quanto mais você ganha, maior é a sua alíquota.

Portanto, o meu medo é que uma hora venha algum galante governante e diga que o dinheiro do CPP não existe mais, pois foi usado pra isso, aquilo e quilôto. Mas vamos em frente, seguindo as regras e pulando as fogueiras que dá.

quinta-feira, junho 16, 2011

Será que ele sobrevive?

Um dos maiores orgulhos da província de Ontário, no Canadá, é a Research In Motion, firma que criou o Blackberry em 1999. Localizada na cidade de Waterloo, a RIM, como é conhecida, revolucionou a produtividade móvel. Por quase uma década, a empresa liderou facilmente este mercado, pois provia o melhor gadget do mercado. A RIM silenciou todos os críticos e literalmente aposentou a Palm, que era a líder anterior dos Gadgets. E claro, transformou todos os shareholders em pessoas muito ricas.

Porem, agora, a RIM está com os dias contados, segundo metade dos críticos. Tudo porque a RIM perdeu a liderança do mercado e a sua porcentagem de mercado está caindo rapidamente. E muitos dos viciados em Blackberry estão trocando seus aparelhos por iPhones ou Androids.

A RIM argumenta que o deslize da companhia é apenas temporário, que dentro em breve eles estarão novamente no topo. Mas, grande parte do mercado não está acreditando nisso. Acham que a RIM se transformará numa Nokia ou como eu disse antes, na Palm. E eles enumeram três razoes pra que isso aconteça. Elas são:

1) O produto da RIM não é o melhor do mercado. Acham que essa é a principal razão. Acham que a grande maioria dos usuários agora preferem a maior capacidade dos iPhones e Androids, especialmente os apps e os navegadores de Web. E muitos dos que precisam da segurança do Blackberry, agora andam com dois telefones, para poderem também usar as benesses do iPhone e Android.

2) O mercado de Smartphones se transformou num “Platform Market”, da mesma forma que o Windows fez na era do PC. Ou seja, mercados tecnológicos onde companhias terceirizadas criam seus programas ou aplicações para rodar em um determinado sistema operacional ou outro produto. E essas empresas terceirizadas tendem a ficarem parceiras de apenas um ou dois líderes de mercado. Graças a explosão de apps disponível pra iPhones e Androids, o mercado de Smartphones está cada vez se transformando num Platform Market. A RIM tem uma quantidade bem menor de firmas desenvolvendo apps pro seu telefone do que a Apple e a Google.

3) A segurança sempre foi o maior atrativo do Blackberry, mas as companhias agora estão deixando seus empregados usarem o aparelho que quiserem. E muitos não estão escolhendo os Blackberries. E mais, muitas companhias estão dando produtos da Apple pros funcionários, coisa que não acontecia há alguns anos atrás. O que era considerados telefones para brincar, agora estão sendo considerados bons pelas empresas. E isso é ruim pra RIM.

Alem de tudo isso, alegam os críticos, ainda tem a perda de credibilidade do management da RIM, especialmente de um dos CEOs, o Jim Balsillie. A RIM vem prometendo que os novos produtos vão ser maravilhosos e não renderam tanto fogo quando chegaram ao mercado. O Torch, por exemplo, não agradou e nem vendeu mais do que o iPhone. A mesma coisa aconteceu com o Playbook, o competidor do iPad.

Mas, do outro lado da rua, existem os que dizem que a RIM vai dar a volta por cima e vão continuar a ser o orgulho de Ontário. A obsessão da Rim com segurança pode dar uma vantagem à companhia, tendo em vista os vexames dados pela Amazon, Apple e Sony, com vazamentos de dados de usuários. Alem do que, a RIM está muito bem financeiramente e possui uma situação fiscal invejável. Ao contrario do que pensam, a RIM pode estar se preparando pra dar outro bote.

A RIM não possui dividas e está sentada num paiol de 2 bilhões de dólares em cash, somente esperando pra ver onde vão ser colocados. Só pra se ter uma ideia, o retorno do investimento da RIM foi de 38%. Google, Microsoft e Exxon tiveram retorno da ordem de 20% no mesmo período.

Assim, os observadores mais incautos, ficarão surpresos ao saber do incrível crescimento da empresa nos últimos 3 anos. Entre os anos fiscais de 2008 e 2011, o faturamento da RIM quase triplicou. Era da ordem de 6 bilhões de dólares e pulou pra 20 bilhões de dólares.

Claro, esse número é apenas um terço dos 65 bilhões de dólares que a Apple faturou em 2010, mas cavando um pouco mais fundo nos livros contabeis das empresas, vemos uma coisa curiosa. No mais recente ano fiscal, a Apple gastou 1,78 bilhões de dólares em pesquisa e desenvolvimento, o que é 2,73% do seu faturamento. Em contraste, a RIM gastou 1,35 bilhões de dólares, o que é 6,78% do seu faturamento.

O que isso quer dizer? Que a RIM pode mudar sim a maré de sorte. Comprou 14 pequenas companhias, incluindo a QNX Software, que faz os sistemas operacionais de trens de alta velocidade e plantas de energia nuclear. O QNX está sendo cotado pra ser o novo sistema operacional do Blackberry.

O negócio do QNX é gigantesco. Esse software vai dar uma nova vida ao antigo sistema operacional do Blackberry. Isso pode ser um grande passo, pois a segurança do Blackberry pode ser o fator que o diminui frente aos mais “sofisticados” smartphones. Se conseguirem empatar com os competidores e garantirem um sistema operacional de ponta, vão estar de novo na frente.

Eu mesmo fico irritado com o meu Blackberry pois não aceita “Flash” e a maioria dos websites usam “Flash”. Mas a segurança é uma coisa vital. Recentemente, dois usuários de iPhone tiveram detalhes de sua localização e arquivos não criptografados revelados. Estão processando a Apple.

A preocupação com a segurança dos iPhones está aumentando e aparecendo mais na mídia, o que pode ser bom pra RIM. E o iPad tem o mesmo problema de fraca criptografia do iPhone. Alguns até acham que o governo monitora o trafico de informações dos iPhones, devido à facilidade de acesso.

Em suma, com uma grana preta nas mãos, um robusto e poderoso novo sistema operacional e um mercado global de smartphones que cresce em passos frenéticos, a RIM aposta que não ficará pra trás nessa corrida.

E quem aposta o contrario, pode ficar surpreso quando o quesito segurança passar de novo a valer mais do que a quantidade de apps que se pode usar. Esperemos pra ver quem tem razão.