quinta-feira, abril 29, 2010

Fatos para serem lembrados 2: O primeiro Roland Garros de Guga

Ninguém nunca imaginava que um surfista doidão de 20 anos de idade iria ser o vencedor de um dos torneios mais clássicos do Grand Slam (os outros são Wimbledon, o aberto dos Estados Unidos e o aberto da Austrália) do tennis mundial. Quase ninguém no Brasil tinha a mínima ideia de quem era Gustavo Kuerten, que depois ficaria conhecido como Guga, no país dos apelidos curtos.

Guga chegou ao torneio de 1997 como mais um entre as dezenas de tenistas anónimos que todos os anos se inscrevem pra competição. E Guga foi abatendo um a um que aparecia na frente dele. Ganhou do russo Kafelnikov e do austríaco Thomas Muster, que tinham sido os campeões do torneio em 1996 e 1995, respectivamente. Também ganhou do belga Filip Dewulf na semi final e de Sergi Bruguera na final. Bruguera havia ganho o torneio em 1993 e 1994. No jogo de estreia, ele jogou contra o checo Slava Dosedel.

Na época que Guga ganhou em Roland Garros, Pete Sampras era o número 1 do mundo. Guga era o numero 66. E apesar de Guga ser desconhecido pela torcida e pela imprensa, ele não era tão desconhecido entre os tenistas, afinal havia vencido em outro torneio de 1997 o americano André Agassi e o sul-africano Wayne Ferreira, ambos que estavam entre os 10 melhores do mundo.

Jimmy Arias, ex-tenista americano, disse que fazia tempo que não via um novato com um jogo tão consistente. John McEnroe, também ex-tenista americano, um dos maiores de todos os tempos, disse que Guga tinha talento e personalidade pra ficar no topo. Nessa época, Guga tinha o decimo sétimo saque mais potente do mundo, alcançando 206 kilometros por hora. O mais potente era o do australiano Mark Philipoussis, que chegava a atingir 220 kilometros por hora.

Esse seria o primeiro e mais importante titulo de Roland Garros conquistado por Guga, na minha opinião. Ganhar o segundo e o terceiro foi demais, mas não se comparou à emoção desse primeiro.

sábado, abril 24, 2010

Estrela

Quando eu era pequeno, um brinquedo da Estrela significava uma coisa boa, um produto de elite, um produto sonhado e comentado. Não lembro bem o nome, mas tinha uma loja ali no Centro de Natal, centro este que chamávamos de “cidade”. Esta loja se chamava se não me engano “Loja da Criança” ou algo assim. A Estrela na minha mente estava associada com aquela loja, que na minha cabeça de criança, era ali onde se encontrava o paraíso.

E mesmo durante muitos anos apos a minha infância, um produto da Estrela continuava a ser um produto diferenciado. Mas entrou em dificuldade financeira no começo dos anos 90 e em 1994, fechou o exercício com um endividamento de 48 milhoes de reais junto aos bancos.

Em 1995, vendeu ativos e colocou 9 milhoes no caixa e no final do ano, havia reduzido sua dívida pra 25 milhoes de reais. Mesmo assim, amargou um prejuízo de 69,1 milhoes, que fora o maior registrado nos 56 anos de Estrela até então, ainda que tenha faturado 140,3 milhoes de reais nesse ano.

Em 1996, a empresa vendeu mais ativos e colocou mais 22 milhoes de reais no bolso. Isso aí incluía os 50% que a Estrela tinha no fabricante de jogos eletronicos “Playtronic”, que foi vendida à Gradiente por 7,3 milhoes de reais.

Quem estava no comando dessa recuperacao da Estrela foi Carlos Tilkian, hoje em dia com 51 anos de idade. Tilkian chegou a Estrela em Agosto de 1993 pra assumir a vice-presidencia da empresa. Antes, ele havia trabalhado 17 anos na Gessy Lever.

Em 1995, de uma só tacada, ele comprou 85% do capital votante da empresa. Ele conseguiu o dinheiro fazendo empréstimos pessoais com uma única instituicao financeira, o Itaú. O antigo dono da Estrela embolsou 22,5 milhoes de reais e continuou com 3% do capital votante.

A empresa enfrentou novamente uma crise em meados dos anos 2000, maior ainda do que a crise dos anos 90, por causa da concorrência chinesa e dos custos elevados de producao. Em 2004, a Estrela faturou apenas 80 milhoes de reais e teve um prejuízo de 30 milhoes de reais. Em 2005, teve um faturamento de apenas 57 milhoes e um prejuízo de 37 milhoes.

Nessa época, a líder do mercado era a americana Mattel, dona da Barbie. Em 2006, a Estrela relançou a boneca Susie e retomou o seu caminho de crescimento. Em 2008, teve um faturamento de 108,2 milhoes, embora tenha tido um prejuízo de 24,6 milhoes de reais. Em 2010, a situacao da Estrela pode piorar, pois especula-se a criacao de uma gigante brasileira de brinquedos, que viria a ser uma juncao de outras fábricas do país, alem de uma empresa americana e outra chinesa.

domingo, abril 18, 2010

Vale a pena ler 25: Vizinho argentino

As medidas tomadas por Fernando Henrique durante a crise das bolsas de Hong Kong foram imprescindíveis. Elas causaram algum incômodo no funcionamento da economia argentina, e isso gerou uma pequena queda no crescimento do PIB, mas isso não foi tão prejudicial assim. O mais grave seria se o Brasil não tivesse tomado essas medidas. O Brasil e a Argentina já tiveram experiências de hiperinflação durante governos que não tinham coragem de fazê-lo. Na Argentina, o ex-presidente Raúl Alfonsín vivia anunciando reformas, privatizações e controle de inflação. Não fez nada disso e o governo terminou com uma hiperinflação de 5.000% ao ano, e com o país à beira da desagregação. Se o presidente Cardoso não tivesse adotado essas medidas, os brasileiros teriam de enfrentar uma situação parecida com a que os argentinos viveram naquela época.

Estavamos presos a exigências de organismos internacionais de crédito. O Banco Mundial e o FMI, por exemplo, exigiam dos países que estavam associados em mercados do tipo do Mercosul medidas para eliminar o déficit público, cortar gastos supérfluos e arrecadar mais. O Brasil estava apenas fazendo o que todos tinhamos de fazer.

O Mercosul vivia uma crise diferente, de crescimento. Isso pode até parecer um contra-senso, mas não é. O Mercosul estava crescendo em todos os sentidos: político, econômico, social e internacional. Era uma das regiões mais prósperas do nosso planeta.

A crise mais dura para o Mercosul, e especialmente para a Argentina, foi a que começou no México no fim de 1994 e em 1995. Na época, a Argentina tinha um crescimento de 6%, 7% ao ano. Depois da crise mexicana tivemos uma queda de 4 pontos, e uma fuga de capitais que chegou a 8 bilhões de dólares.

Alguns setores da sociedade argentina, e também da brasileira, tinham medo da desvalorizacao do real, sim. Mas eu, que tinha um contato muito intenso com o presidente Cardoso, não temia isso. Nunca temi. O presidente Cardoso me disse que o Brasil era uma fortaleza e que não haveria desvalorização do real. E, depois que começou a crise e as pressões, ele me garantiu de novo que não haveria desvalorização do real.

No sistema cambial argentino, para cada peso na rua tinha de haver 1 dólar depositado no Banco Central. Isso é que dava uma segurança a nossa economia. Mas nós, presidentes, estamos expostos a muitas pressões e lobbies para desvalorizar as nossas moedas.

De zero a 10, a importância do Brasil para a Argentina é 10. Mas o que existe são relações muito boas, de excelente nível comercial. Há uma complementaridade em nossas economias que tende a se equilibrar. É assim no mundo todo. Com os Estados Unidos, por exemplo, abrimos o mercado para a nossa carne, que antes estava fechado por uma suspeita de febre aftosa. Era um mercado extraordinário que se abria.

O segundo mandato é sempre mais difícil do que o primeiro. A cobrança é maior, e nós temos de ser bem mais perfeccionistas. É preciso ter muito mais cuidado. No meu primeiro mandato estávamos dedicados a fazer um ajuste do Estado. A partir desse processo, poderiamos nos dedicar ao que o Estado realmente deveria fazer. O que é o Estado? A definição mais fácil é: a nação, o povo juridicamente organizado. E o povo se organiza e faz leis para que o Estado possa lhe dar assistência em educação, justiça e saúde. Isso é essencial. Por esse motivo admiro o presidente Cardoso, que entregou a empresas privadas todos os serviços que não estão ligados a esses serviços essenciais do Estado. Devemos fazer isso. O presidente Cardoso fez, mas não é fácil. E temos de conseguir bons resultados.

Um dia, dois caçadores andavam pela floresta quando apareceu um urso muito grande. O mais magro correu mais, sem olhar para trás, e o mais gordo ficou pedindo ajuda ao amigo. Quando viu que estava sozinho e não dava para fugir, fingiu-se de morto. O urso veio, cheirou o gordo, e depois se foi. O caçador mais magro então voltou e perguntou: o que aconteceu, o que disse o urso? Ao que o gordo respondeu: me disse que é para tomar cuidado com os amigos que tenho. Acho que um presidente deve selecionar muito bem sua equipe. Porque, além da honestidade, a lealdade é o bem mais valioso nessas horas. Quem acompanhou Jesus Cristo ao calvário foram só os mais leais, e a partir deles nasceu o cristianismo.

Nunca nenhum governo argentino deu tanta liberdade, tanto direito de opinar à imprensa como eu dei. Quando assumi, todas as TVs e rádios eram do Estado. Nós as vendemos. Mas o que deve fazer uma pessoa quando se sente atacada, ofendida? Tem de recorrer à Justiça. Se existe algum patrimônio político é a honra e a dignidade. Muitas vezes vejo contra mim e meus familiares ataques infundados, agressões sem limite. E ainda existem na Argentina sérios obstáculos a quem quer reparar sua honra. Uma lei diz que a pessoa só pode ser condenada por calúnia ou difamação se ficar provado que ela tinha uma má intenção. Por causa disso, o Estado já perdeu vários processos, e eu mesmo já perdi três contra jornais na Justiça.

Eu tenho como princípio que há responsabilidade na imprensa, mas toda regra tem exceções. E eu continuo lendo absolutamente todos os diários nacionais argentinos. Diariamente, às 7 horas da manhã, lia as notícias, as boas e as ruins para o governo, e as comentava com meu secretário de imprensa. Leio também alguns artigos de jornais de outros países, até do Brasil.

Minha vida depois que me separei é totalmente dedicada ao trabalho e a minha filha Zulema. Como hobby, pratico esportes, ou acompanho os jogos do River Plate, meu time. Trago sempre as fotos de minha filha e de meu filho, que faleceu em um acidente. Ando com o relógio que ele estava usando no dia do acidente. Agora sou eu que o uso, para lembrar dele.

* Por Carlos Menem, ex-presidente argentino de 1989 a 1999.

quinta-feira, abril 15, 2010

Visão

As pessoas apreciam o vinho no copo, percebendo a intensidade do brilho e a forma como ele reflete a luz, tentando decidir precisamente qual é a sombra do vermelho e se ele vai manchar a toalha da mesa pra sempre caso derrame.

Para observar a aparência do vinho, vire uma taça meia cheia de vinho pra longe de você e olhe a cor do vinho contra um fundo branco, como uma toalha de mesa ou um pedaço de papel branco, pois um fundo colorido distorce a cor do vinho.

Observe como ele é escuro ou pálido, qual sua cor, e se as cores vão desaparecendo a partir do centro do vinho até a borda, onde ele toca o copo.

Também perceba se o vinho é nebuloso, claro ou brilhante. A maioria dos vinhos é claro. Alguns vinhos que não são filtrados podem ser menos brilhantes, mas não devem nunca serem nebulosos. Com o tempo, você começa a perceber padrões, como uma cor mais profunda nos vinhos tintos mais novos.

Se você tem tempo pra gastar, você deve então girar o vinho dentro do seu copo e observar o jeito que o vinho corre dentro do copo. Alguns vinhos formam pernas ou lágrimas que fluem devagar. Há algum tempo, essas pernas eram interpretadas como um sinal certo de ser um vinho rico, de alta qualidade.

Hoje em dia, todos sabem que as pernas do vinho são um fenômeno complicado que tem a ver com a tensão da superfície do vinho e a taxa de evaporação do álcool do vinho. Se você é um físico, este é uma ótima oportunidade pra mostrar que você é o cara e explicar esse fenômeno pros seus amigos conhecedores de vinho. Mas se não for um físico, não tire outras conclusões a partir das pernas dos vinhos.

segunda-feira, abril 12, 2010

Contas a prazo

As mudanças que são feitas num país para que ele aos poucos vá se desenrolando não é percebida aos olhos do grande público. Por isso que eu sempre digo que os presidentes Fernando Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso prestaram um grande serviço ao país. José Sarney não, esse não sabia nem pra onde ia. Um exemplo do que falo ocorreu em Abril de 1996, poucos meses antes de eu adentrar nos portões (porões?) da UFRN, pra fazer meu curso de administração de empresas.

O governo abria em Abril de 1996, o cadeado que impedia que o brasileiro comprasse à prazo. O Conselho Monetário Nacional liberava somente nessa data, o limite de prestações para operações de crédito, o que antes disso era fixado em no máximo 6 meses. Nesse pacote foi ainda autorizado a utilização do sistema de leasing pra compra de automóveis e utilitários.

A intenção do governo era ajudar o sistema financeiro, empurrando pra ele a demanda por empréstimos, pois o sistema financeiro estava com dificuldade de competir com os sistema informais de crédito. Esse ato estendeu ainda a mão aos bancos estaduais que estavam quebrados, pois permitia que o Banco Central liberasse empréstimos para instituições sob regime de administração especial temporária e com património líquido negativo, como era o caso do Banespa, que possuía património negativo de 4 bilhões de reais na época.

Esse ato, positivo no meu ponto de vista, pode gerar críticas dos intervencionistas, mas na verdade, passava pro setor privado a responsabilidade dos empréstimos e facilitava a engrenagem pra privatização das empresas dinossauros.

quinta-feira, abril 01, 2010

Mortgage rates

Como eu havia dito poucos dias atrás, três grandes bancos canadenses já aumentaram as taxas de juros pras hipotecas residenciais com taxas fixas. E isso vai ser um fato que vai ocorrer com os outros bancos cedo ou tarde. Mas Até agora, quem aumentou as taxas de juros foram: Royal Bank, TD Canada Trust e o Laurentian. Todos eles, saíram de 5,25% pra 5,85%, na taxa fixa pro termo de 5 anos.

Isso significa dizer que um sujeito que tem uma hipoteca de 250 mil num período de amortizacao de 25 anos, irá pagar $1,577.00 por mês. No caso da taxa anterior, de 5,25%, ele estava pagando $1,489.00.

Mas esse movimento não parece estar ligado ao pronunciamento do Bank of Canada, comentado no post anterior. Tem e não tem. O negocio é que o mercado de títulos está se movimentando com a expectativa desse aumento das taxas pelo Bank of Canada e por outros bancos centrais de quase todo o mundo. E as taxas de juros das hipotecas está apenas seguindo esse aumento dos juros dos títulos (bonds), afinal os bancos pedem emprestados no mercado pra financiar essas hipotecas.

O problema é que o mercado internacional ainda não está muito confiante no pacote de ajuda que a Grécia recebeu. E nos Estados Unidos, o que preocupa é o deficit governamental. Por isso os investidores de títulos querem maiores juros, pois consideram os juros de hoje inadequados aos riscos que eles correndo de não receberem seus investimentos de volta.