quarta-feira, abril 20, 2011

Vale a pena ler 35: Rebelde em paz

Dizem que os judeus perderam Jesus Cristo por uma falha de relações públicas. De certa forma foi isso mesmo que aconteceu. Em vida, Jesus conseguiu reunir a sua volta apenas um pequeno grupo de judeus que estavam levando o judaísmo para uma direção diferente da original. A cristandade só começou, na verdade, quando o apóstolo Paulo, talvez a força política mais decisiva nos primórdios da fé cristã, decidiu pregar para os não-judeus. Paulo chegou à sábia conclusão de que seria preciso arrebanhar os gentios. Foi dessa maneira que o cristianismo escapou de ser apenas uma pequena seita judaica dissidente e se transformou nessa poderosa corrente cultural que moldou a forma de pensar do Ocidente.

Não escrevi o livro com a intenção de mostrar o lado judeu de Jesus. Para começo de conversa, embora seja judeu e me sinta como tal, não sou religioso. Há trinta anos não entro numa sinagoga. A religião não tem muito significado para mim a esta altura da vida. Não escrevo como judeu. Depois de 55 anos de trabalho, escrever para mim é um ato tão fundamental da vida quanto comer ou andar. Concordaria com a idéia de que fiz um livro em que a história de Jesus é examinada de um ponto de vista exterior. O resultado é um Cristo mais humano do que divino. Algumas pessoas estranham a colocação de Jesus como o narrador da própria história.

Além do dinheiro, existem outros motivos que me motivam a escrever. Meus maus motivos para produzir são tão importantes quanto os bons. Continuo escrevendo também para tentar descobrir até que idade posso manter-me criativo num nível aceitável. No caso do Evangelho Segundo o Filho, o que ocorreu foi que, tendo lido o Novo Testamento há mais de quarenta anos, quando ainda estava na faculdade, sempre me incomodou o desconcertante desequilíbrio do livro do ponto de vista estético. Alguns trechos são tão extraordinários que só se podem comparar a Shakespeare. Outros têm um estilo pedestre, sem inspiração, escrito às pressas. A história em si não faz muito sentido: Deus manda seu filho à Terra com o objetivo de salvar a raça humana. Faz questão de que ele venha como um homem de carne e osso para tornar sua mensagem mais eficiente. Então você lê o Novo Testamento e o que encontra? Um anjo, um super-homem, alguém superior a tudo, que nunca comete um erro, nunca falha e faz tudo certo até o fim, e, então, pregado na cruz exclama: "Pai, por que me abandonastes?" É contraditório.

A explicação desse enredo confuso deu origem a uma extensa teologia cristã. Não é por acaso que os teólogos cristãos são tão numerosos, profundos e radicalmente divididos. As mentes mais poderosas dos últimos vinte séculos debruçaram-se sobre esse paradoxo. Algumas das explicações são belíssimas, outras são muito eficientes, mas todas são torturadas. Daí cheguei à conclusão de que talvez a melhor abordagem para essa história seja a de um romancista. Não é preciso ser um cristão ou um gênio para contá-la, pois todo cidadão do Ocidente está profundamente imerso cultural e psicologicamente no cristianismo. Tentei então criar um Cristo que fosse simplesmente um homem, alguém que se torna mais profundo e mais sábio ao longo da vida.

A morte de Cristo, que deveria ser a derrota do cristianismo, acaba sendo um genial lance político que catapulta o movimento pelos séculos afora. Deus dá a entender que ele não é tão poderoso quanto se acreditava. Deixa claro que o poder celestial se resume a fazer o melhor que pode. Essa fraqueza, aliada ao poderoso componente dramático de deixar o próprio filho morrer para nos salvar dos pecados, resulta na grande força poética do Novo Testamento. Bill Clinton, como bom cristão, sabia disso. Ele realmente transformou uma derrota, o escândalo provocado por acusações de manter relações sexuais com uma jovem na Casa Branca, numa vitória: a teoria de que era vítima de uma conspiração. Ele tem um talento imbatível para isso.

Clinton foi um presidente trágico. Votei nele mas me arrependi. Ele é um gênio do nível do sujeito que inventou o hambúrguer do McDonald's ou a lâmina de barbear. Com certeza, é um dos maiores políticos de todos os tempos. A tragédia decorre do fato de que alguém potencialmente talentoso como Mozart ou Shakespeare não consiga exercer sua genialidade por uma falha de caráter. Nas democracias, os políticos exercem a força pela ética. Justamente o que faltava a Clinton. Ele não desafiou o mundo. Foi fraco com os fortes e poderoso com os fracos. Ele destruiu o Partido Democrata tornando-o um simulacro dos republicanos.

Dick Morris, seu mais íntimo assessor, era um sujeito que se realizava lambendo os dedos dos pés de prostitutas no quarto do hotel. Sei que estou sendo brutal, mas não encontro outras palavras para descrever a situação. John Kennedy era conquistador, mas pelo menos tinha estilo e seu comportamento era adequado para a época. Bill Clinton agia como um caipira deslumbrado com a cidade grande. Ele ficava perseguindo umas mulherzinhas que em Washington os políticos com um mínimo de compostura ignoravam. Clinton foi poderoso o bastante para cortar os benefícios sociais dos pobres. Mas foi um anão diante do interesse dos ricos e das grandes corporações.

Acho que as corporações são um mal mesmo com o período de prosperidade e pleno emprego. Marx chegou à beira da insanidade em sua visão do futuro da humanidade, mas foi bastante razoável em sua crítica do capitalismo. Ele diz com razão que, no capitalismo, o dinheiro tende a subjugar todos os demais valores. O papa João Paulo II tem dito a mesma coisa. Meu temor é que o capitalismo, ao se alastrar globalmente sem freios, acabe por devorar os demais valores humanos em todas as partes do mundo. Nesse ritmo, em pouco tempo ficaremos sem uma reserva de valores e concepções que não tenham sido contaminadas pelo capitalismo. Podemos vir a precisar muito desses valores no futuro.

Acho que o mundo era melhor nos anos 60, quando apanhávamos da polícia nos protestos de rua em Washington. Pelo menos havia mais esperança naquela época. O mundo parecia uma obra aberta. Pensávamos que podíamos tudo. Logo descobrimos que nossa força era falsa. A polícia matou quatro estudantes no campus da Universidade Estadual da Pensilvânia em 1968, e nós nos escondemos. A revolta, em vez de se incendiar, tomar conta do país e derrubar o governo, estiolou-se. Descobrimos que não éramos revolucionários coisa nenhuma. Tínhamos um movimento de classe média espasmódico e inconsequente. Foi uma dura revelação. A esquerda acabou nos Estados Unidos. Pelo mundo afora ela continuou produzindo seus erros prodigiosos, trocando princípios por pequenas vitórias eleitorais. Abraçou uma via racional para o poder enterrando o que tinha de melhor, a meu ver, que era o apelo quase religioso à igualdade. Qualquer pessoa sabe instintivamente que não se pode ter uma sociedade justa quando as diferenças salariais são muito agudas. Essa disparidade gera doenças sociais tanto nas camadas de cima quanto nas de baixo. Quando se fala a mesma linguagem da direita e das grandes corporações não se consegue vencer a barreira da imprensa e chegar ao povo.

Aparentemente Bill Clinton sabia como vencer essa barreira da imprensa. No episódio do escândalo sexual ele venceu a imprensa na luta pelo coração e pela mente do americano médio. O que ocorre, porém, é que naquele momento chegou o momento esperado por tanta gente em que a imprensa americana finalmente perdeu completamente o pulso da opinião pública. Bastaria ver como a imprensa trabalha em qualquer país do Ocidente para saber que cedo ou tarde isso aconteceria. A imprensa é formada por um grupo de gente individualmente até sábia, que produziu uma instituição estúpida. Essencialmente a imprensa é formada por um grupo de pessoas que se organizam como num supermercado de idéias. Estão sempre discutindo as coisas entre vocês e, acredito que honestamente, esperam que a melhor idéia prevaleça.

Existe uma tendência inequívoca de seguir um líder ou de fazer oposição radical à idéia predominante apenas para se fazer notar. Este último é o truque básico do colunismo, a doença infantil do jornalismo. Ocorre que, no caso do assédio sexual de Bill Clinton à estagiária da Casa Branca, o povão não se tocou para o que a imprensa estava falando. Nem contra nem a favor.

O povão só soube do episódio através da imprensa, tudo bem mas transmitir os fatos é uma coisa. Outra bem diferente é acreditar que a imprensa pode fazer o papel de médico e tratar todos os males sociais da nação. Simplesmente, o americano bronco do Meio Oeste, um sujeito endurecido que nem falar direito sabe, achou que para ele os fatos bastavam. Não quis saber das opiniões dos doutores da imprensa.

Mas, com certeza, a imprensa não foi a única instituição a sair desacreditada desse episódio. O povo americano está se tornando cada vez mais desconfiado de suas eminências, de seus próceres. Está escaldado de tanta frustração coletiva. Foram escândalos políticos seguidos e a História recente está repleta de assassinatos e violência. Isso tudo provoca desgastes. Não se sabe em quem confiar. As aparências enganam. Ronald Reagan, um presidente adorado pelo povo, engendrou uma das maiores falsificações coletivas da história deste país. Reagan inventou a história de que a União Soviética era o que ele chamava de "império do mal". Sugeria que os soviéticos tinham a vontade e a capacidade de destruir os Estados Unidos pela força. Ao fazer isso, ele reativou a Guerra Fria, um assunto que andava morto e acabado pela própria incapacidade dos soviéticos de fazerem a guerra contra qualquer inimigo. Mal estavam conseguindo se haver com a Polônia e a Checoslováquia.

Visitei a União Soviética em 1984 e vi um país de Terceiro Mundo, de pessoas deprimidas, desmanchando-se em problemas cotidianos. Como poderiam lançar-se num combate total contra um inimigo poderoso como os Estados Unidos? De forma alguma. Mas Reagan nos vendeu a idéia de que tínhamos um inimigo fenomenal. Quando o comunismo desabou e viu-se que o poderio bélico da União Soviética era uma balela, o infantil povo americano sentiu-se traído. Amadureceu à força. Penso que desde então nunca mais o americano médio se entregou de corpo e alma a nenhuma instituição, seja o governo, seja a imprensa.

As feministas também saíram chamuscadas do escândalo sexual envolvendo Bill Clinton. Mas elas se recuperaram depois. Elas têm uma noção do poder muito mais acentuada do que as pessoas comuns. São mestres da dissimulação. Veja o caso de Hillary Clinton, a Madre Teresa do feminismo americano. O que ela personifica? Ela personifica o enorme desejo de poder pessoal e também do feminismo americano. As feministas não estão interessadas em percorrer o interior, bater na porta das casas simples do Meio Oeste ou do Sul para tentar convencer os maridos a tratar melhor suas mulheres e a não ser tão machões. Não. O campo de batalhas delas é Washington.

Seus alvos são os intelectuais liberais como eu. Querem polêmica e poder. Não estão interessadas no bem-estar da mulher americana. As grandes corporações foram as que mais lucraram com as conquistas do feminismo americano. O movimento criou uma geração de profissionais carreiristas, competitivas, impiedosas, que trabalham como loucas e no final ganham menos do que os homens, jogando para baixo as despesas salariais das empresas. Um sucesso, como se vê. Instintivamente elas não poderiam ficar contra Clinton porque o presidente é a fonte de poder delas. Por apego ao poder, as feministas não poderiam ficar contra ele, mesmo sabendo que Clinton regularmente violava na essência todas as crenças delas.

segunda-feira, abril 18, 2011

Imigração 4: O Brasil legaliza imigrantes ilegais

Pra quem sai do Brasil como eu e fazia trabalhos braçais e ilegais no começo da jornada, nunca imaginou que alguém estaria fazendo o mesmo percurso, só que dentro do Brasil. No final da década de 1990, trabalhadores bolivianos trabalhavam 18 horas por dia em uma fábrica de roupas em São Paulo, dividiam um quarto minúsculo com várias pessoas e tinham que morar perto do trabalho, pois não tinham grana pro transporte e nem recebiam vale-transporte.

Como precisavam economizar pra enviar dinheiro pras famílias na Bolívia, não gastavam com nada alem do essencial e transporte não é essencial. Recebiam 350 reais por mês, por serem ilegais, em cash, e nada mais. É, amigos, o Brasil também é imperialista. Não é só privilégio dos Estados Unidos não. A exploração do trabalhador ilegal não é somente artimanha praticada pelos Yankees. Os bolivianos não tinham direito a folgas, horas extras ou plano de saúde. Quando reclamavam com o patrão, o mesmo ameaçava denuncia-los a policia federal.

Mas, em 1999, os 100 mil estrangeiros que viviam clandestinos no Brasil foram anistiados por Fernando Henrique Cardoso. Outra ironia do cacete, hein? Logo o neo liberal FHC fazendo isso. Poxa, que decepção irmãos petralhas.

Quem tivesse entrado no país até 29 de Junho de 1998 e que não tivesse pendências criminais ou judiciais dentro e fora do Brasil, poderiam requerer até o dia 7 de Dezembro de 1999, uma carteira de permanência no país válida por dois anos, uma espécie de green card.

Encerrado o cadastramento, estrangeiros que eram encontrados sem a posse do documento de identidade temporária ficaram sob suspeita. Traficantes de droga, terroristas e estelionatários ficaram na berlinda. As autoridades brasileiras deduziram que quem não se cadastrou, é porque tinha algo a esconder e seria deportado, de acordo com o que encontrassem a respeito desse elemento.

Falando agora dos legais. Em 1999, existiam 950.000 estrangeiros vivendo no Brasil, o que era 0,6% da população brasileira. Na Espanha, na mesma época, tínhamos 391.000 estrangeiros. Já a Suíça, que era dona de uma das maiores rendas per capitas do mundo, contava com 17% da população formada por estrangeiros. Nos Estados Unidos eles eram 19 milhões de pessoas, ou seja, 0,7% da população. Assim, nesse aspecto, o Brasil imperialista e os EUA comungam também de índices parecidos.

Uma coisa tem que ser levada em conta: a maioria dos estrangeiros que estavam no Brasil nessa época eram de baixa qualificação profissional. Foi assim desde o inicio do século passado, quando navios cheios de italianos, alemães e japoneses atracavam em portos brasileiros. Em geral agricultores, com pouca instrução, querendo enriquecer trabalhando na lavoura do café.

A origem dos imigrantes mudou, mas a motivação sempre foi a mesma. A Policia Federal dizia que no final da década de 1990, 80% dos estrangeiros ilegais no Brasil eram asiáticos e latino americanos. A origem quase sempre era São Paulo. 

Mesmo não tendo pujança económica do primeiro mundo, o Brasil ainda era visto como um lugar pacífico, ensolarado e com um futuro promissor para famílias que queriam se estabelecer.

sexta-feira, abril 15, 2011

Manulife Financial

Recebi essa semana o report dos shareholders da Manulife. Apesar de ter ações também do Royal Bank of Canada e da Pengrowth Energy, eu acho que a Manulife é uma ótima compra nos dias de hoje. Posso estar enganado, mas acredito que sim. Direi porque.

Um dia, a ação da Manulife já chegou a valores maiores do que 43,00 dólares canadenses. Hoje em dia está na casa dos 16,00 dólares canadenses. Pode cair mais? Pode sim, mas acredito que vai se recuperar mais cedo ou mais tarde. O que ocorreu foi que a Manulife diluiu muito o preço da sua ação pois estava precisando de cash pra realizar compras de outras seguradoras, especialmente na Ásia.

Quando estes investimentos começarem a dar lucro, o preço da ação irá voltar aos patamares mais altos, espera-se.

Em 2010, a Manulife aumentou em 20% a venda de seguros com relação a 2009 e as vendas de produtos financeiros/investimentos aumentou 23% com relação a 2009 e passou dos 27 bilhões de dólares.

As vendas de seguros na Ásia cresceram 43% comparado com 2009 e cresceu 7% em termos de empréstimos com relação a 2009 no Canada. Os produtos de investimentos nos Estados Unidos aumentaram o número de vendas em 48% com relação a 2009 e os planos de aposentadoria aumentaram as vendas em 16% com relação a 2009.

Pra fechar, os fundos que a Manulife gerenciavam em 2009 eram 35 bilhões. Em 2010, esses fundos passaram a 475 bilhões. Dá pra entender porque o preço da ação baixou e porque vai subir?

Eu não sou nenhum consultor financeiro, só mexo com ações por curiosidade e pesquisas próprias. Se alguém procura uma empresa pra começar a investir, pesquise a fundo essa empresa citada aqui, Manulife Financial Corporation, uma das maiores empresas do Canadá e um forte blue chip.

quarta-feira, abril 13, 2011

Nunca antes nesse país – Parte II

Entre 1994 e 2000, uma grande sequência de reformas estruturais e de gestão pública foram implantadas para dar sustentabilidade e estabilidade económica ao país. Entre elas estão: As privatizações de várias empresas estatais, a criação do Proer, a criação de agências reguladoras, a lei de responsabilidade fiscal, a liquidação e venda de bancos estaduais, renegociação das dívidas de estados e municípios e maior abertura comercial pro exterior.

Com o Plano Real, o ajuste e reajuste de preços e valores passaram a ser anualizados e obedeceriam as planilhas de custo de produção, pra interromper o círculo vicioso de corrigir valores futuros baseados na inflação passada, em curtos períodos de tempo. Isso agravava a inflação, tornando-a cada vez maior. Era comum antes do Plano Real haver remarcação de preços varias vezes num mesmo dia.

A privatização das empresas eliminou a obrigação pública de financiar investimentos, que causam inflação se for feito pelo governo através da emissão de moeda sem lastro, e possibilitou a modernização de tais empresas, pois sob controle estatal existiam barreiras para tal progresso, como burocracia e falta de recursos.

Ora, a iniciativa privada tinha recursos de financiar os investimentos das empresas e isso não produzia inflação e sim desenvolvimento, porque não envolve orçamento do governo. E mais, a iniciativa privada não existe regras administrativas orçamentárias e licitatorias, que prejudicam a produção e a concorrência.

Com relação ao equilibro fiscal, foi feito um corte de despesas e aumento de 5 pontos percentuais em todos os impostos federais. A justificativa foi que a máquina administrativa brasileira era muito grande e consumia muito dinheiro pra funcionar. Havia somente no âmbito federal, 100 autarquias, 40 fundações, 20 empresas públicas (sem contar as estatais), alem de 2 mil cargos públicos com denominações imprecisas, atribuições mal definidas e remunerações díspares. Como o país não produzia o suficiente, decidiu-se pelo ajuste fiscal, o que incluiu cortes em investimentos, gastos públicos e demissões. Durante o governo FHC, aproximadamente 20 mil funcionários públicos foram demitidos do governo federal.

Em falando de abertura económica, houve uma redução gradual de tarifas de importação e facilitação da prestação de serviços internacionais. Isso ocorreu pois havia um temor de que o excesso de demanda por produtos e serviços causasse o desabastecimento e a remarcação de preços, pressionando a inflação (o que ocorreu durante o Plano Cruzado de 1986). Existia também a necessidade de forçar o aperfeiçoamento da industria nacional, expondo-a a concorrência, o que permitiria o aumento da produção no longo prazo, e essa oferta maior de produtos tenderia a acarretar uma baixa nos preços.

Ocorreu também um contingenciamento, realizando uma manutenção do cambio que foi artificialmente valorizado. Isso foi feito porque com o efeito da valorização do real, esperava-se um aumento das importações, com aumento da oferta de produtos e aperfeiçoamento da industria nacional via concorrência com produtos estrangeiros.
Foram impostas também certas politicas monetárias restritivas. Foram aumentadas a taxa básica de juros e a taxa de deposito compulsório dos bancos. A taxa de juros teve inicialmente dois propósitos: financiar os gastos públicos excedentes até que se atingisse o equilíbrio fiscal e reduzir a pressão por financiamentos, considerados agentes inflacionários, fazendo assim um esfriamento da economia. Os financiamentos chegaram a ter o prazo de quitação regulado pelo governo. O compulsório dos bancos teve o propósito de reduzir a quantidade de dinheiro disponível pra empréstimos e financiamento dos bancos, uma vez que eram obrigados a recolher compulsoriamente uma parte dos valores ao banco central.

A força do Plano Real fez o presidente Itamar Franco eleger seu sucessor Fernando Henrique Cardoso já no primeiro turno em 1994. O efeito regulador do Plano Real foi imediato e muito positivo. A inflação calculada sobre a URV nos meses de Abril a Junho de 1994 ficou em torno de 3%, enquanto que a inflação em cruzeiros reais foi cerca de 190%. Até o inicio da circulação do Real em primeiro de Julho de 1994, a inflação acumulada foi de 763,12% no ano e 5,153.50% nos últimos 12 meses.

A inflação que antes consumia o poder aquisitivo da população brasileira, impedindo que as pessoas permanecessem com dinheiro por muito tempo, principalmente entre o banco e o supermercado, estava controlada. O efeito imediato e mais notável do Plano real foi a aposentadoria da maquina símbolo da inflação, a remarcadora de preços dos supermercados, presente no comercio. O consumidor de baixa renda foi o principal beneficiário.

Durante muitos anos a correção monetária foi uma salvaguarda que permitia aos brasileiros que tinham maior poder aquisitivo defender-se parcialmente da corrosão do valor nominal da moeda, com aplicações bancárias de rendimento diário como o overnight. A grande maioria da população, entretanto, não tinha acessos a esses mecanismos e sofria com a valorização diária dos recursos recebidos como salário, aposentadoria ou pensão, sendo os maiores prejudicados com a alta da inflação.

Não foi surpresa que após a implantação do Plano real, a taxa de consumo de itens antes elitizados como o iogurte explodiu nas classes C e D da população. Segundo estudos da Fundação Getulio Vargas, houve entre 1993 e 1995 uma redução de 18.47% da população miserável do país, fruto do sucesso do plano. Um dos melhores índices da historia.

O Plano Real enfrentou três grandes crises mundiais. A Crise do México de 1995, a Crise Asiática de 1997-1998 e a Crise da Rússia de 1998. Em todas as ocasiões o Brasil foi afetado diretamente, pois estava em reformas e necessitava de recursos, investimentos e financiamentos estrangeiros. Grandes somas de dinheiro deixaram o Brasil em cada um desses momentos devido ao medo que os grandes investidores tinham com os mercados emergentes.

Ao menor indicio de crise em qualquer um desses países, uma massa de investidores corria para buscar refugio em moedas fortes, com o dólar americano, a libra esterlina ou o Euro. Outros aproveitavam esses movimentos pra especular fortemente contra as moedas dos emergentes, na intenção de obter grandes lucros em pouco tempo, esvaziando as reservas em moedas estrangeiras dessas nações. Isso contaminava negativamente as contas de diversos países, causando um efeito cascata globalizado.

Como essas crises deixavam o Brasil sem dinheiro pra financiar seu plano de desestabilização, o governo, enfraquecido, via-se obrigado a aumentar a taxa básica de juros pra remunerar melhor esses capitais, tentando impedi-los de abandonar o país. O objetivo era evitar uma quebra generalizada que empurrasse o país a uma moratória externa. A taxa de juros do Brasil chegou à 45% ao ano em Março de 1999. Como consequência, houve maior endividamento publico, mais cortes de gastos públicos, retração de alguns setores da economia e desemprego.

Outras crises menores, apesar de não prejudicarem tanto o processo de controle da inflação brasileira, que já estava consolidado, trouxeram efeitos negativos na taxa de crescimento económico. A crise da Argentina de 2001, a crise do 11 de Setembro também de 2001, a crise do apagão, também de 2001 e a crise eleitoral, de 2002, ajudaram a derrubar a taxa anualizada de crescimento do PIB pois também forçaram o aumento da taxa de juros interna.

A crise do apagão teve causa ligada diretamente ao plano real, uma vez que o plano trouxe a ampliação do poder de compra da população, aumento de consumo, aumento da produção, que por sua vez geram maior consumo de energia, somados ao recuo dos investimentos públicos nos setores estatais de energia (como parte do programa de estabilização económica).

No longo prazo pode-se notar uma manutenção de baixas taxas inflacionarias e referencias reais de valores, um aumento do poder aquisitivo das famílias brasileiras, uma modernização do parque industrial brasileiro e um crescimento económico com geração de empregos.

Durante todo o governo FHC, o PT foi o principal opositor ao governo, e votou contra a maioria das medidas propostas no Plano Real ou que vieram a fazer parte dele, como o Proer.

terça-feira, abril 12, 2011

Filhinhos tão bonzinhos

Se você pegasse um marciano e pedisse para o mesmo observar como nós enxergamos e tratamos as nossas crias talvez ele nunca conseguisse entender. Claro, se ele também não tratar as crias dele da mesma forma. Ora, todo mundo acredita piamente que as suas crias são maravilhosas, que são as criaturas mais inteligentes e espertas da face da terra. Que elas são talentosas, que possuem poderes especiais e são os mais lindos e possuem uma luz interior que os fazem únicos e blá blá blá...

Frases do tipo “nunca vi um menino tão sabido como esse meu filho, olhe só, ele aos 4 meses já corria pela casa inteira…” seriam absurdas se não fosse ditas ai livremente pelos quatros cantos. Os seus filhos com certeza foram os primeiros a andar entre os semelhantes da galáxia inteira e assim como também foram os primeiros a falar. Com certeza, já olharam pra cara do médico na hora do parto e já disseram algum comentário inteligente. Começaram a amarrar os sapatos sozinhos assim que avistaram um par pela primeira vez e já foram convidados no meio da rua um sem número de vezes para estrelarem comerciais ou desfilarem como modelos. E você recusou, óbvio.

Tudo isso é verdade, mas deixa eu dizer uma coisa. Tudo isso é apenas fruto do que os seus olhos enxergam. It is in the eye of the beholder. Digo isso porque para uma pessoa que não tem filhos ou que não tem nenhum sentimento relacionado aos seus pimpolhos, os seus filhos não passam de anões chatos pra caramba. Mas chatos mesmo. Insuportáveis. Nauseantes. Chegam a achar Herodes um homem razoável.

Inclua aí nessa lista de pessoas que odeiam seus filhos as outras crianças da família, o cachorro, o gato e o resto da humanidade.

Na maioria das vezes, esses pequenos cidadãos estão chorando por alguma coisa, reclamando, fazendo birra, sendo egoístas, ladroes, cheios de raiva, violentos e ao se comparar com um babuíno, fazem este primata parecer um intelectual de nível altíssimo.

E o pior é que eles sabem usar o tamanho deles como vantagem pois sabem que qualquer bobagem que inventem de fazer, os pais dele irão achar uma gracinha. 

Alem de tudo isso, eles são uma fábrica gigante de germes, que tosse e anda e fala ao mesmo tempo, fazem xixi e cocô nas calças ou em qualquer lugar que tenham oportunidade. Não possuem nenhum senso de regras e de como se comportar ou em quem não vomitar ou o que não jogar de qualquer jeito em qualquer direção que o cérebro minúsculo dele decida. E quando eles querem alguma coisa, eles querem agora. Agora!!! Agora!!!!

Imagine ai o marciano vendo isso, calado e assombrado. A criançada não sabe nem o mínimo fundamento do que significa partilhar. Meu, meu, meu. Eu, eu, eu. O que é dele é dele e o que não é dele ele quebra, rouba ou esconde. É essa a filosofia deles.

Eles mandam um barro dentro das calças e saem felizes, andando contentes, acreditando piamente que a obra deles não está fedendo. E mais, a única razão que eles defecam nas calças é porque eles TEM calça, senão eles iriam desovar em qualquer superfície que eles encontrassem pela frente, ou seja, o chão, o sofá, o carpete, a calçada, a cama, menos o vaso sanitário. Alias, a única coisa que diferencia as crianças dos macacos na floresta são as CALÇAS. Seus filhos usam e os macacos não.

Para esses pequenos seres, o mundo é a casinha delas. Um pacote de biscoito, por exemplo, elas acham que é todo delas. Não delas em geral, mas um pacote pra cada um. Elas não sabem que comer muitos biscoitos irá dar dor de barriga. Também não sabem e isso é importante, que os biscoitos ou os ingredientes envolvidos na fabricação desses biscoitos CUSTAM DINHEIRO.

Não sabem também que para ganhar o dinheiro do biscoito, você deve possuir uma habilidade que agrade a alguém (o seu chefe), que esse alguém irá te pagar no final do mês, e o cheque vem no seu nome e assim, você pode escolher pra quem você vai dar o pacote de biscoito ou come-los todos de uma sentada só. Ou ainda, distribuir esses biscoitos com animais ou outros humanos que: 1) Sejam legais com você; 2) Escutem você; 3) Tenham pintado sua casa, lavado seu carro ou cortado a sua grama; 4) Seja pequeno o suficiente pra que não possa ganhar ainda o dinheiro do biscoito, mas que teve as regras explicadas pra ele e que tenha se comportado bem no seguimento dessas regras básicas e a primeira delas é comer toda a comida primeiro, e somente depois terão o biscoito.

Enfim, nas minhas filhas eu acho isso lindo, mas nos seus filhos…