quinta-feira, outubro 21, 2021

A cronologia da história - 1952

Nossa história começa no ano de 1952. A turma de 1952 é composta de três artistas. Um deles representa a turma jovem e os outros dois já eram artistas consagrados. O primeiro é justamente o artista que fez sua estréia e mudou o mercado fonográfico pra sempre. Estou falando de Lloyd Price. Ele apareceu com sua “Lawdy miss Clawdy”, produzida pelo grande Dave Bartholomew, com o grande Fats Domino no piano.

Nat King Cole em 1952

Lloyd nasceu em 9 de março de 1933, em Kenner, no estado da Louisiana e morreu em 3 de maio de 2021, em New Rochelle, estado de New York, aos 88 anos de idade. Lawdy miss Clawdy teve dois feitos incríveis pra época e por isso eu a escolhi pra ser o começo de tudo. Em primeiro lugar, ela fez com que os jovens brancos comprassem música de um negro. Em segundo lugar, ela fez com que o jovem de qualquer cor, juntasse dinheiro e saísse de casa pra comprar um disco. Até então, o jovem ouvia o que os pais compravam. Lloyd Price mudou essa dinâmica e toda a indústria fonográfica foi alterada, com um público muito maior e maiores investimentos, tornando a música algo muito lucrativo.


Os outros dois artistas sao Doris Day e Nat King Cole. Doris Day, nascida Doris Mary Anne Kappelhoff, nasceu em 3 de abril de 1922, em Cincinnati, no estado de Ohio e faleceu em 13 de maio de 2019, em Carmel Valley Village, no estado da California, aos 97 anos de idade. Nesse ano ela lançou sua clássica “When I fall in love”.

Doris Day em 1952

Nat King Cole, nascido Nathaniel Adams Coles, em 17 de março de 1919, em Montgomery, no estado do Alabama, faleceu em 15 de fevereiro de 1965, em Santa Monica, estado da California, aos 45 anos de idade. Fumante inveterado, Nat morreu de câncer de pulmão. Em 1952 ele apareceu com “Somewhere along the way”.

 

Nat King Cole em 1952

Essas são as três músicas desse ano da nossa lista. Miss Clawdy entrando como o novo, a música do jovem, com bateria e tudo o mais. Miss Clawdy foi gravada em 13 de março de 1952, no Cosimo Matassa's Studio, em New Orleans, Louisiana. Foi lançada em abril de 1952, em um compacto que tinha Mailman blues como Lado B e entrou no Billboard R&B Chart já em maio de 1952, ficando por lá por 26 semanas. No primeiro lugar ficou 7 semanas. Vendeu quase um milhão de cópias, pro público branco e negro. Um sujeito branco do sul dos Estados Unidos ficaria impressionado com Lawdy Miss Clawdy. Anos mais tarde, faria sua própria gravação dela. Seu nome: Elvis Presley. Lawdy miss Clawdy foi composta pelo próprio Lloyd Price.


When I fall in love entra como exemplo do que se vinha fazendo em música até então. Foi gravada em 5 de junho de 1952, no Columbia 30th Street Studio, em New York City e lançada em 3 de julho de 1952 no compacto que tinha Take me in your arms como Lado B. A música foi composta por Victor Young com letra de Edward Heyman.


Somewhere along the way foi composta por Jimmy Van Heusen, com letra de Sammy Gallop. Foi gravada por Nat em 10 de janeiro de 1952 e lançada em abril de 1952, no compacto que tinha Walkin' my baby back home como Lado B.


Artistas da turma de 1952:


Lloyd Price (Louisiana, USA)

Doris Day (Ohio, USA)

Nat King Cole (Alabama, USA)


Músicas:


0001 - Lawdy miss Clawdy https://discografiaobrigatoria.blogspot.com/2009/11/1952-1961-1-lloyd-price-lawdy-miss.html

0002 - Somewhere along the way https://discografiaobrigatoria.blogspot.com/2019/05/902-nat-king-cole-somewhere-along-away.html

0003 - When I fall in love https://discografiaobrigatoria.blogspot.com/2019/05/901-doris-day-when-i-fall-in-love-1952.html


Timeline:


17 de março de 1919 – Nascia Nat King Cole

3 de abril de 1922 – Nascia Doris Day

9 de março de 1933 – Nascia Lloyd Price

10 de janeiro de 1952 – Somewhere along the way foi gravada

13 de março de 1952 – Lawdy miss Clawdy era gravada

Abril de 1952 – Lawdy miss Clawdy era lançada

Abril de 1952 – Somewhere along the way foi lançada.

5 de junho de 1952 – When I fall in love era gravada

3 de julho de 1952 – When I fall in love era lançada

 

A vida em 1952:

 

Nos Estados Unidos, Dwight  Eisenhower era eleito presidente dos Estados Unidos e os republicanos dominavam além da Casa Branca, as duas casas do Congresso Americano. 

A guerra da Coréia continuava firme e forte, uma vez que os tratados de paz haviam falhado. 

A princesa Elizabeth se tornou rainha da Inglaterra, pois seu pai o rei George VI morreu. 

Os Estados Unidos começaram a construção do seu primeiro submarino nuclear, o Nautilus. 

Os Estados Unidos detonaram a primeira bomba de hidrogenio do mundo. 

O primeiro protótipo do Corvette, da Chevrolet, havia sido criado. 

A primeira pílula anticoncepcional foi criada. 

O doutor Jonas Salk desenvolveu a vacina do pólio. 

A campanha presidencial americana foi a primeira a ser feita pela TV. 

O microndas começou a ser vendido pro público americano. Os primeiros modelos eram do tamanho de uma geladeira e custavam cerca de 1200 dólares.

O preço médio de uma casa custava cerca de 9 mil dólares.

quarta-feira, outubro 13, 2021

0001 – Elvis Presley – Elvis Presley (1956)



Gravado : Julho de 1954 à Janeiro de 1956.

Onde: RCA Studio B em Nashville, RCA Studio em New York City e Sun Studio em Memphis.

Produtores: Sam Phillips (Sun Recording) e Stephen H. Sholes (RCA Recording)

Lançamento: 13 de março de 1956.

Rankings: #1 UK Albums; #1 US Billboard 200; #1 US Albums Cashbox.


Este blog se dedicará a quem quer montar uma estante com discos que compõem a história da música, principalmente do rock and roll. Até 1955 não foram lançados nenhum disco que na minha opinião seja merecedor de entrar nessa sofisticada seleção. O primeiro disco a entrar será nada mais nada menos do que o disco de estréia de Elvis Presley, simplesmente chamado de Elvis Presley. Foi gravado entre julho de 1954 e janeiro de 1956 e lançado em 13 de março de 1956. As sessões de Nashville foram realizadas em 10 e 11 de janeiro de 1956 e no dia 30 e 31 de janeiro de 1956 foram feitas em New York. O resto foi gravado em 5 de julho de 1954, 19 de agosto de 1954 e 10 de setembro de 1954 e 11 de julho de 1955, em Memphis, Tennessee, no Sun Studios. O disco ficou 10 semanas no número 1 do Billboard Top Pop Albums e foi o primeiro disco de rock and roll a chegar ao número 1 desse chart. E também foi o primeiro disco a vender 1 milhão de cópias do rock. É o album número 56 na lista dos 500 greatest albums of all time, da revista Rolling Stone. É também um dos 1001 albums you must hear before you die. Recebeu disco de ouro em 1 de novembro de 1966 e disco de platina em 8 de agosto de 2011, pelo Recording Industry Association of America. No segundo semestre de 1955, os compactos de Elvis pela Sun Records começaram a aparecer nos charts nacionais de Country and Western. Baby let's play house foi pro número 5 e I forgot to remember to forget foi pro número 1. O Colonel Tom Parker, o novo manager de Elvis tinha muitos contatos com a RCA, pois era managerde um outro artista chamado Eddy Arnold. Sua amizade era com Steve Sholes, manda chuva da área de Country and Western e Rhythm and Blues da RCA. Sholes então em 21 de novembro de 1955 compra o contrato de Elvis com Sam Phillips, da Sun Records por 35 mil dólares. Na época, uma verdadeira fortuna e nunca antes pago por nenhum artista. Não seria um mal negócio pra RCA. Foi o primeiro pop album da RCA a vender mais de um milhão de cópias. Elvis então começou a aparecer na TV e fez quatro semanas seguidas no programa dos Dorsey Brothers chamado Stage Show, já no começo de 1956. em 28 de janeiro, 4 de fevereiro, 11 de fevereiro e 18 de fevereiro. A RCA queria um disco rápido pra capitalizar a exposição de Elvis na TV em rede nacional. Heartbreak Hotel havia saído em compacto em 27 de janeiro e ia pras cabeças dos charts. Cinco canções haviam sido gravadas por Elvis na Sun mas nunca haviam sido lançadas. Eram elas: I love you because, Just because, Tryin' to get to you, I'll never let you go (Little darlin') e Blue moon. Elas foram adicionadas à 7 músicas gravadas na RCA. Escolheram então alguns hits da época pra que Elvis fizesse cover. Money Honey, de Jesse Stone, gravada pelos Drifters, com Clyde McPhatter como vocalista e I got a woman, de Ray Charles, afinal Elvis já vinha cantando as duas em shows por um ano. O terceiro cover foi Tutti-frutti, de Little Richard. A quarta foi Blue suede shoes, de Carl Perkins, outro artista da Sun Records. A capa do album é o número 40 das 100 greatest album covers, da revista Rolling Stone. A fotografia de Elvis da capa foi tirada em Fort Homer Hesterly Armory, em Tampa, Florida, em 31 de julho de 1955. O fotógrafo foi William Red Robertson. The Clash usou o mesmo modelo de capa pra lançar sem album London Caling, de 1979. Chegou ao número do chart UK Albums, no Reino Unido. Elvis cantou, tocou violão e tocou piano em uma faixa (Tryin' to get to you). Scotty Moore tocou guitarra. Chet Atkins tocou volão em I'm counting on you e Money Honey. Floyd Cramer tocou piano nas sessões de 10 e 11 de janeiro. Shorty Long tocou piano na sessões de 30 e 31 de janeiro. Bill Black tocou baixo. D.J. Fontana tocou bateria em todas as faixas com exceção de I love you because, Just because, Tryin' to get to you, I'll never let you go (Little darlin') e Blue moon. Johnny Bernero tocou bateria em Tryin' to get to you. Doug Poindexter tocou guitarra em Just because. Gordon Stoker, Ben Speer, Brock Speer e Doug Poindexter fizeram backing vocals.


Lado A:


1 – Blue suede shoes – Compositor: Carl Perkins, gravada em 30 de janeiro de 1956.

2 – I'm counting on you – Compositor: Don Robertson, gravada em 11 de janeiro de 1956.

3 – I got a woman – Compositores: Ray Charles e Renald Richard, gravada em 10 de janeiro de 1956.

4 – One sided love affair – Compositor: Bill Campbell, gravada em 30 de janeiro de 1956.

5 – I love you because – Compositor: Leon Payne, gravada em 5 de julho de 1954.

6 – Just because – Compositores: Bob Shelton, Joe Shelton e Sydney Robin, gravada em 10 de setembro de 1954.


Lado B:


1 – Tutti-frutti – Compositores: Dorothy LaBostrie e Little Richard, gravada em 31 de janeiro de 1956.

2 – Tryin' to get to you – Compositores: Rose Marie McCoy e Charles Singleton, gravada em 11 de julho de 1955.

3 – I'm gonna sit right down and cry (Over you) – Compositores: Howard Biggs e Joe Thomas, gravada em 31 de janeiro de 1956.

4 – I'll never let you go (Little darlin') – Compositor: Jimmy Wakely, gravada em 10 de setembro de 1954.

5 – Blue moon – Compositores: Richard Rodgers e Lorenz Hart, gravada em 19 de agosto de 1954.

6 – Money honey – Compositor: Jesse Stone, gravada em 10 de janeiro de 1956.


Escute o album completo aqui: https://www.youtube.com/watch?v=Uj9Bqsx-pRk&list=PLvDaQTRzMiRr2GcFF6Gq_yVpK2BVHNl31


domingo, outubro 10, 2021

Os bons morrem jovens


 

“The good they die young“

Dick Holler

Diz a lenda que os bons morrem jovens. Quando eu vejo um vagabundo de 15 anos de idade morto, no Rio de Janeiro, que momentos antes de ser alvejado empunhava um fuzil AR-15, fico me questionando sobre a veracidade dessa afirmação. Na verdade a humanidade não espera que uma pessoa morra jovem. A intenção de todos é durar o máximo de tempo que aguentar na terra. Tenho amigos que já partiram e os mesmos não eram nem piores e nem melhores do que eu. Se assim fosse, ou eu deveria já ter morrido ou eles deveriam ter continuado vivos.

Meu velho pai costumava dizer que, uma vez que você tiver zerado seus pecados aqui na terra, Deus te levará pra morada eterna. Zerou os pecados? Vai bater as botas. E brincava dizendo: “Toda vez que percebo que estou chegando perto de zerar, cometo mais um pecadozinho, só pra ficar mais tempo entre vós”. Não conseguiu, pois se foi aos 60 anos de idade, deixando de gozar tantos anos ainda com a família. Mas a causa da morte dele não foi bondade ou maldade. Foi a nicotina ingerida durante 48 anos ininterruptos.


Não curtiu os netos, apesar de minhas filhas estarem com quase 3 anos quando ele partiu. Nunca quis vir ao Canadá para conhecê-las pois disse não conseguir perdurar um vôo tão longo sem fumar. Minha mãe não impôs esse obstáculo à ela mesma e veio algumas vezes. Hoje minhas filhas tem uma foto delas com a minha mãe no lockscreen do telefone delas, justamente porque elas desenvolveram uma relação. Ele não. Eu brinco com elas dizendo que o nome dele é o filho de Jael. Jael-Son. O que elas sabem dele é o que falo sobre ele, subtraído do que elas não prestam atenção.


Meu pai partiu desde 2009, mas raro é o dia que não penso nele. Sinto um alívio pois ele não está vivendo o apocalipse que vivemos hoje. Meu pai era um homem bom por natureza. Ele não exercia a moda de hoje: a sinalização de virtude! Em outras palavras, ele não queria mostrar aos outros que era bom. Ele simplesmente era. Eu poderia escrever um livro dos exemplos que ele me deu com ações e não com narrativas.


Um dia, quando eu tinha uns 13 anos de idade, ele lia um artigo na revista Veja, sentado à mesa de almoço e disse, do nada: “Meu filho, a maior tristeza da minha vida seria vê-lo preso um dia”. Lembro que no momento dei de ombros e pensei: “Ser preso? Esse bicho tá doido é?”. Acho que ele lia algum artigo sobre algum adolescente bosteiro.


Antes de continuar, quero contar como meu pai fazia quando chegava do trabalho. O seu ritual. O homem era cheio de rituais. Tirava sua camisa social e dependurava sobre a cadeira da mesa de jantar da sala, uma mesa de 8 lugares. Não fazíamos as refeições diárias lá e sim em uma mesa redonda na cozinha. Era o costume da época. Mas ele tirava sua camisa, dependurava na cadeira lá e ia pra cozinha sem camisa, porém com sua calça social e sapatos. Depositava os óculos sobre a mesa e almoçava lendo a revista Veja. Um artigo por dia, acho. Quando acabava de ler o artigo do dia, deitava a Veja sobre a mesa e vinha conversar conosco. Eu particularmente ficava esperando ele acabar a leitura pra ter um pouco da atenção dele.


Ele sorria, colocava os óculos de volta no rosto e fazia alguma perguntas à algum de nós. Sempre com um sorriso nos lábios. Era sua marca registrada. Lembro da sua mão. Da sua risada. Da sua sobrancelha. Da sua barba arranhenta. Do seu perfume. Do cheiro de cigarro. Pai, como sinto sua falta. É muito ruim viver sem saber que estás por aqui. Você me transmitia segurança como nunca senti depois de sua partida. Hoje eu tenho que ser a segurança de todos.


Quando meu pai viajava eu não confiava nas fechaduras das portas e das janelas. Sonhava com ladrão entrando em casa e toda sorte de assombro. Saber que ele dormia no quarto ao lado era o reconforto do menino apavorado.


Eu não falo muito pois me machuca falar. Prefiro mudar de assunto. Melhor calar. Mas rapaz, que falta eu sinto do meu pai. Hoje virou lugar comum vários filhos falando sobre seus pais, quando sabemos que muitos foram e são corruptos sem vergonha. Meu pai não, meu pai foi honesto e morreu pobre. Poderia ter morrido rico, mas preferiu o caminho da dignidade. Desafio qualquer um a me provar que meu pai foi corrupto. Mas desafio mesmo. E não é de boca, como costuma falar o filho de Lula, por exemplo.


Uma frase que ele disse, aos meus 13 anos de idade, ficou na minha cabeça pra sempre. “Não seja preso”. E todas as minhas ações tinham como raia justamente isso. E nunca fui preso. Obrigado, papai, por ter sido meu exemplo. Eu carrego essa frase hoje por 33 anos. E tento passar os seus valores pras suas netas. Que pena que elas não conheceram papai.


Uma simples frase que se abre em um estilo de vida. Não seja preso significa: “Seja honesto, faça as coisas com dignidade, honre suas calças, seja homem, caminhe na sombra da bondade”.


Hoje tenho alguns amigos que por dinheiro se sujeitam as mais baixas relações empresariais com o setor público. Rezo por eles, espero que tenham compreensão que a vida é muito mais do que dinheiro. Dignidade, moral, retidão valem muito mais do que uns papéis pintados impressos por bancos centrais por aí. O dia D chegará e todos estaremos sentados frente à frente com o pai celestial. Qual será o curriculum que puxarás? Nenhum, pois o teu curriculum estará já impresso por lá.


Papai, toda ação que eu tomo hoje, sua imagem vem à minha face, como um holograma. O senhor Jaelson Cavalcante das Neves é um exemplo que frequenta meu campo de visão diariamente. Um dia um sujeito metido à besta perguntou, cheio de arrogância: “Quem é seu pai, vocé é filho de quem?”. Eu respondi, timidamente: “Você não o conhece, meu pai se chama Jaelson, não é do seu círculo de amizade”. Ele disse, arrogante: “De fato, não conheço”.


Algumas semanas depois, contei esse fato a meu pai, que no momento dividia uma mesa do Bar do Pedro com meu tio Jaeci. Meu tio Jaeci é um dos irmãos do meu pai, mais novo. Inesperadamente, tomei uma dura do meu tio Jaeci. Enfurecido, meu tio disse, gritando: “Você tenha orgulho do seu pai, seu cabra. Seu pai é meu irmão, que me levava pras festas, que me arrumou meu primeiro emprego, que é filho de Juvenal e Rachel, ele ferroviário e ela dona de casa, que criaram todos os filhos pra serem homens de bem...”


Ante a meu silêncio e espanto, afinal eu não havia dito nada demais, meu pai deu uma batidinha no braço do meu tio, como se pedindo pra ele parar de falar. Pegou no meu pescoço e me trouxe pra perto dele. Me deu um beijo na testa e disse: “Meu filho, não ligue pro que seu tioele deve tá nervoso com alguma coisa na vida dele. As vezes escutamos coisas e não podemos responder. As vezes falamos coisas que não devemos. O que importa é o que temos aqui”, e apontou pro coração.


Eu entendi que o meu Tio Jaeci se decepcionou com o fato de eu ter covardemente não me imposto com o boçal interlocutor. Hoje eu teria feito diferente, mas naquela época eu ainda não tinha os culhões de touro. Eram apenas culhões de cachorro.


Mas o fato é que meu tio Jaeci ficou olhando pro meu pai com admiração, com os olhos marejados. Meu pai era uma espécie de ídolo pra ele. Claro que ele o conhecia mais do que eu. Viveram mais como irmãos do que eu como filho. Não consigo esquecer esse dia. Eu não disse nada. Mas como eu queria ter dito.


E ter dito não só ao meu pai. Mas também ao sujeito que disse que não sabia quem ele era e nos tratou com desdém. Tipo, “se não conheço, é porque ele é irrelevante”. Coitado. Não poderia estar mais errado. A passagem dele na terra foi iluminada de tal forma que esse texto não faz 1% de justiça ao homem que ele foi. A justiça eu plena certeza que ele anda recebendo por onde está agora.


No funeral do meu pai, eu ia me dirigindo pra ir embora e vi meu tio Jaeci. Meu tio Jaeci é a maior referencia do meu pai. Eles tinham uma amizade incrível. Eram muitos próximos. Eu o respeito muito. Eu o interpelei. Ele disse que tava com um problema de saúde e não estava bebendo. Eu disse a ele: “Tio, papai me disse que no dia que ele morresse, ele não queria tristeza. Ele queria que eu fosse almoçar e tomar todas pra celebrar a vida dele. Mas eu não estou me sentindo à vontade pra fazer isso, o que o senhor acha?”


Ele disse: “Meu garoto (como ele me chama carinhosamente), se seu pai disse isso, eu te autorizo, vá embora e faça como combinaram. Eu só não vou pois estive doente e quero me recuperar, mas vá em frente”. E fomos pro Tábua de Carne de Areia Preta, nós e os amigos mais chegados. Agradeço à todos que lá estiveram não em homenagem à mim, mas ao velho Jajá.


Eu me conformo em saber que jamais conseguirei ser nem um décimo do que foi meu pai. Um dia eu estava com Reginaldo Jales, O matuto, um amigo antigo e ele me disse: “Fabiano, gosto muito de você e você é uma pessoa boa, mas você jamais vai amarrar os sapatos de Jaelson”. Eu senti um orgulho enorme dele ter dito isso. Essa foi a maior honraria que ele poderia ter me feito.


Carreguei a frase de Reginaldo pra Alexandre Motta, O Pezão, e perguntei sua opinião. Eis que ele disse: “Tu é doido? Pra tu ser um Jaelson tu teria que viver umas cinco vezes!!”. Meu coração se encheu de alegria. Bruno Galvão, outro amigo, me disse certa vez: “Rapaz, encontrei com teu pai em Pedro. A alegria dele é falar em tu,os olhos dele chegam a brilhar, conta histórias, pergunta, eu gosto muito de tomar uma com ele!”.


Thanks Daddy, thank you for everything. Você foi um “man amongst men!! Eu prometo viver o resto dos meus dias “lookinp up to you”!! E se um dia nos encontrarmos, vou te dar um abraço pra torar suas costelas celestiais e te avisar que pelo menos por Natal, ninguém toma mais Antártica. A onda agora é Heineken!!!


Fabiano Holanda Cavalcante

Mississauga, Ontário, Canadá.

Outubro de 2021.