segunda-feira, setembro 20, 2010

Peekaboo Day Care

Luisa e Amanda no primeiro dia delas no Peekaboo. Setembro de 2008.
 
Quando as minhas filhas completaram 2 anos de idade, minha sogra começou a ideia de colocar as meninas numa creche. Eu não gostei da ideia, uma vez que eu contava com a educação gratuita, um dos brindes canadenses em troca dos impostos excessivos que pagamos. Como o ensino gratuito só começa na Júnior Kindergarten, ou seja, quando a criança tem 4 anos, eu estava disposto a esperar esses dois anos a mais. Ainda porque, tínhamos trazido uma babá do Brasil pra ficar com as meninas nesse período.

Porem, minha mulher gostou a idéia e pra ter sossego, eu concordei com o processo e as meninas começaram a ir pra creche. Fizemos umas pesquisas e encontramos a Peekaboo.  Felizmente, a resposta foi excelente. Eu não sei o que seria delas caso não tivessem ido pra lá desde cedo. Aprenderam desde o inglês fluente, passando por convivência social e outras regras e hábitos que estão ajudando bastante a elas nessa nova fase, de Júnior Kindergarten. Enfim, elas entraram na Peekaboo em Setembro de 2008 e saíram agora, dois anos depois, em Setembro de 2010. As pessoas lá são maravilhosas, desde a coordenadora Tanya e a vice-coordenadora Sam, até as professoras. Jennifer foi a primeira e por fim, tiveram Katie, Patricia e Lindsay. Todas muito atenciosas com as meninas e com muito cuidado.

Todo o tempo que elas passaram lá foi maravilhoso. A independência cresceu significantemente e elas criaram amizade com duas meninas e formavam sempre o mesmo quarteto. Engraçado como até nessa idade as amizades são formadas de maneira mais forte do que com outras pessoas. O quarteto era sempre o mesmo: Amanda, Luisa, Victoria e Madelaine.

Luisa e Amanda no último dia no Peekaboo. Setembro de 2010.

Foi uma decisão que eu não me arrependo. Até mesmo quando as meninas estavam indo embora, as professoras faziam um trabalho psicológico nelas, convencendo-as de que era preciso mudar de escola, pois elas estavam crescendo e a nova escola era de meninas grandes. Elas aceitaram numa boa e chegaram na nova escola bem contentes, conscientes de que era preciso mudar. Nem falam mais na Peekaboo. Até nisso tudo funcionou direito. Assim, quem puder e quiser, eu recomendo essa creche. As meninas ficavam lá desde 7 da manhã até 6 da tarde. Recomendamos pra um casal amigo nossa de brasileiros e eles estão adorando.

Agora estamos vivendo uma nova fase. Elas começaram a natação em fevereiro de 2010 e já estão no nível 4 das crianças. Também começaram as aulas de Ballet. Tudo tem sido novo e proveitoso. A Júnior Kindergarten na escola católica, a natação, o ballet, ufa, já estão com agenda de menina grande.

domingo, setembro 19, 2010

Vale a pena ler 32: Especular é preciso

Os especuladores em geral nunca tiveram boa imagem no mercado financeiro, e os especuladores com moedas sempre foram considerados os piores da espécie. São chamados de indivíduos apátridas, gananciosos, irresponsáveis. A essa imagem era oposta outra: a dos dirigentes dos bancos centrais, os bonzinhos patrióticos, responsáveis, respeitáveis, lutando bravamente pelo valor adequado de suas moedas.

Quando se vê o mercado de moedas com mais realismo, no entanto, esses estereótipos caem por terra. Os supostos malvados, os especuladores, são geralmente diretores financeiros de empresas, banqueiros, financistas, e mesmo dirigentes de instituições nacionais que agem motivados pelos melhores interesses de suas empresas, bancos ou nações e não por interesse pessoal. Hoje esses cidadãos compram ou vendem moedas para se antecipar a valorizações ou desvalorizações cujas tendências estão visíveis para quem sabe interpretar os sinais do mercado.

Antes, o mercado financeiro internacional vivia a mercê dos ministros das finanças das grandes nações. Hoje, as nações estão à mercê dos mercados financeiros, dos banqueiros e dos tesoureiros das multinacionais. Sim, é verdade. Houve uma mudança de 180 graus. Mas veja. Hoje, um dirigente financeiro recebe informações, por exemplo, sobre a inflação em certa moeda. Ele faz, então, algumas chamadas telefônicas, aperta alguns botões de seus computadores e dispara decisões que afetam o preço daquela moeda. Quando muitas decisões do mesmo tipo são tomadas, elas acabam forçando a mudança no preço da moeda, substituindo, na prática, o que os ministros das Finanças faziam no passado. Mas e daí? É fácil culpar um estereótipo (os especuladores) pela instabilidade das moedas. Mas qual é a causa verdadeira? Não é, no caso, a política governamental responsável pela inflação? Mais ainda: ao estudar casos como esse sempre se descobre que os especuladores são os que estão dizendo a verdade sobre o valor da moeda. Sistematicamente, é o governo e o dirigente do banco central que têm motivos políticos para ignorar a realidade. Nos dias de hoje, o valor de uma moeda, assim como qualquer outro valor, não pode ser determinado na clausura de uma sala de reuniões.

A queda da moeda da Malásia no final dos anos 1990, por exemplo, pode ser atribuída a muitos fatores. Os especuladores têm pouco a ver com o problema. Um dos fatores principais foi o fato de os bancos do país terem tomado muitos empréstimos dos EUA e do Japão a juros baixos e os terem usado para financiar uma intensa atividade de construção civil, prédios, arranha-céus, aeroportos a taxas de juro muito altas.

Os que tomaram o dinheiro emprestado, que ficaram com enormes dívidas em dólar, é que se lançaram a vender a moeda do país e a comprar dólares freneticamente, para se proteger, quando sentiram a fraqueza da moeda local. Portanto, é completamente errado culpar os especuladores nesse caso. E, em geral, também não é verdade. Ao contrário: são os especuladores, no seu movimento permanente de comprar e vender moedas, o tempo todo, milhares de vezes pelo mundo, que criam a liquidez necessária para o bom funcionamento do mercado monetário internacional.

Reservas em dólar permitem que se impeça uma mudança brusca no preço da moeda e uma fuga de dólares do país motivada por uma grande venda de moeda local, seja essa venda decorrente de uma negociação comercial qualquer, seja essa venda de caráter especulativo. Um banco central deve ser capaz de amortecer as flutuações monetárias mais selvagens. Mas isso nada tem a ver com a proposta de banir a especulação.

Quanto a criar um mecanismo internacional, eu não acho que seja necessário. Os dirigentes do banco central americano estão em contato permanente com os dos bancos centrais alemão, japonês, brasileiro... É claro que todos esses bancos são independentes uns dos outros, as conversações são informais. Deveria haver um mecanismo formal? Não creio. As nações são independentes. Cada uma tem suas próprias motivações.

Diziam que o mercado futuro teve participação direta na quebra da bolsa de New York em 1987. De início, o mercado futuro de moedas foi escolhido como bode expiatório da crise. Cerca de noventa estudos feitos após aquela quebra incluindo o do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), no entanto, chegaram à conclusão oposta: a de que nosso mercado tinha contribuído para evitar que o crash tivesse sido pior, porque abriu válvulas de escape para a especulação, para os negócios futuros. Eu diria que, hoje, como regra, quanto mais a estrutura financeira de uma nação se desenvolve, mais a especulação é bem-vinda.

Muita coisa mudou desde a quebra de 1987. Foram criados alguns sistemas de suspensão temporária de vendas de ações na Bolsa de Nova York e de vendas de contratos futuros de ações aqui na CME. O Fed aumentou o número de horas de atendimento para garantir a liquidez aos bancos em situações de crise. Os grandes bancos internacionais, que são os garantidores em última instância dos contratos na CME, também aumentaram o colchão de liquidez para essas emergências. Neste crash de 1997, embora uma fortuna muito maior tivesse trocado de mãos, pois foram 2,5 bilhões em 1987 e 3,7 bilhões em 1997, tudo se fez em calma. Eu fiquei em casa e dormi tranquilo.

Estou operando no mercado futuro. Faço isso quase todos os dias, mesmo quando viajo. Já operei o mercado da ante-sala de gabinetes ministeriais. Além de sexo, é a única coisa que me diverte. O resto é meio enfadonho...

Dizem que os riscos acumulativos dos instrumentos financeiros podem criar um risco sistémico no sistema económico mundial e que isso pode colocar em xeque a própria sobrevivência da civilização ocidental. Bem, isso não é algo que eu ignore. Não sei que tipos de efeitos cumulativos podem ter se desenvolvido, e isso me preocupa. Não defendo que o sistema seja totalmente desregulado. Acho, por exemplo, que as crises na Malásia, Indonésia, Tailândia e Coréia foram decorrentes de falta de controles.

Emprestaram dinheiro sem as necessárias salvaguardas. O ministro piscava e os banqueiros achavam que era uma garantia. Podia ser um tique, um defeito físico no olho do ministro. Isso não é salvaguarda para o sistema financeiro. Eu me preocupo com sinais desse tipo.

No início dos anos 80, eu dizia que o dinheiro americano era essencial pra lubrificar as engrenagens da economia mundial mas que ao mesmo tempo, quanto mais dinheiro americano pelo mundo, maior era o risco de uma crise financeira. Mas isso eram outros tempos. Isso era quando os EUA tinham dois déficits enormes: o fiscal e o da balança comercial, quando o ouro chegou a 800 dólares a onça e quando nós estávamos sendo pesadamente financiados por dinheiro de fora.

Os deficits acumulados deixaram os EUA como os grandes devedores do planeta. A divida publica América chegou a ser de 5,3 trilhões de dólares e os japoneses de repente começaram a vender os títulos to tesouro americanos. Na verdade, o déficit fiscal persistiu por muito tempo em consequência da taxa de juro muito alta que foi usada para controlar a inflação americana da segunda metade dos anos 70. Mas não se pode menosprezar o fato de que a taxa de juro americana hoje está baixa e que isso tem propiciado um crescimento espetacular da economia, o que ajuda a resolver problemas acumulados.

Meu pai era um socialista. Mas eu sou um capitalista, é claro. Nesse sentido eu não o segui. Mas ele era também um humanista, um crente na igualdade dos homens, na igualdade entre homens e mulheres, entre as raças. Nisso eu o copio. E copio minha mãe também: ela foi uma das primeiras ativistas do movimento pela igualdade das mulheres, e eu me orgulho de ter sido um dos autores da proposta de eliminar a proibição prática que havia contra a presença de mulheres no pregão da CME.

* Por Leo Melamed, imigrante polonês que chegou ao Estados Unidos em 1941. É ex-chairman da Chicago Mercantile Future, a bolsa de mercados futuros de Chicago.

quarta-feira, setembro 15, 2010

Imigração 1: a torneira havia fechado

No Censo dos Brasileiros no Exterior realizado entre Dezembro de 1995 e Dezembro de 1996, pode-se ver um movimento curioso. O grande êxodo de brasileiros parecia ter perdido a força. Qual era a magica? Talvez a moeda forte e a estabilidade económica do governo FHC? Depois de crescer sem parar entre 1985 e 1995, o numero se estabilizou nessa época.

Em 1995 contava-se 1,325,169 e em 1996 contava-se 1,560,162. Um salto de 17%, que correspondia mais ao rigor na verificação dos dados do que a um fluxo migratório.

Com exceção do Paraguai e dos países vizinhos, o grosso dos brasileiros vivia em áreas urbanas. O país que tinha a maior concentração de brasileiros eram os Estados Unidos, com cerca de 600 mil brasileiros. Vinham seguidos pelo Paraguai e pelo Japão, que ocupavam a segunda e terceira posições, respectivamente.

No caso de Chicago, a quantidade de brasileiro aumentou em 50% em um ano, pois a cidade estava se tornando um pólo de imigração de brasileiros. Em Nova York e Boston, destino típicos dos brasileiros em busca de vida melhor, a população estimada das comunidades continuou a mesma.

A perspectiva de fazer trabalhos considerados sub-empregos ainda atraia os brasileiros com poucas qualificações profissionais. A diferença é que alguns dos indivíduos estudados e com recursos também estava indo embora.

Lisboa viu a comunidade aumentar em 120% no período do Censo. Em Moscou, um grupo de empresários tentavam tirar vantagem do vale tudo capitalista que ocupou o lugar do comunismo. Em Dublin, na Irlanda, os brasileiros criavam cavalos puros-sangues.

Em Munique, na Alemanha, o maior número de brasileiros era formado por músicos. No Líbano, eram pequenos agricultores e comerciantes no Vale de Bekaa. Inclusive um paulista já foi ministro e nessa época, tinha sido eleito deputado.

Outro grupo em expansão eram as brasileiras casadas com estrangeiros, sobretudo na Alemanha, Áustria, Suíça e Itália. Na Coreia do Sul predominavam os pilotos brasileiros. E por ai vai.

Nessa época, eu tinha um sonho de morar fora. Apenas um sonho, que viria a se concretizar poucos anos mais tarde. Não sabia ainda, mas em pouco tempo após esse Censo, eu estaria integrando essas estatísticas.

terça-feira, setembro 14, 2010

O que é um vinho ruim?

Estranhamente, o direito de declarar que um vinho é bom porque você gosta não te dá o mesmo direito de dizer que ele não é bom somente porque você não gosta. Nesse jogo, você faz as suas próprias regras, mas você não pode forçar outras pessoas a aceita-las.

O fato é que existem pouquíssimos vinhos ruins no mundo de hoje comparado com 20 anos atrás. E muitos vinhos que chamamos de ruins são apenas garrafas ruins de vinhos e não o vinho todo de uma marca. Ou seja, garrafas que foram manuseadas de maneira errada e o vinho dentro delas ficou estragado. Estas são algumas características de um vinho considerado ruim:

Fruta mofada – já comeu uma fruta do fundo de uma jarra que tinha um gosto de poeira, de papelão? Sim, mofada? O mesmo pode ocorrer com um vinho, se o vinho for feito de uvas que não estavam completamente frescas e saudáveis quando colhidas. Isso dá um vinho ruim.

Vinagre – na evolução natural das coisas, o vinho é apenas um estágio de passagem entre o suco da uva e o vinagre. Muitos vinhos de hoje ficam pra sempre no estagio de vinho devido a tecnologia ou quando são muito bem-feitos. Se você encontra um vinho que já se transformou em vinagre, isso é um vinho ruim.

Cheiro de químico ou de bactéria – o cheiro mais comum encontrado é acetona ou até mesmo cheiro de ovo podre, borracha queimada ou alho estragado. Se encontrar um desses cheiros, isso é um vinho ruim.

Oxidação – um vinho oxidado cheira fraco, cozido, sem vida e terá o mesmo sabor fraco, cozido e sem vida, pode ter certeza que foi oxidado. Pode ter sido um vinho bom um dia, mas o oxigénio de alguma forma adentrou a garrafa e matou o vinho. Isso é um vinho ruim.

Aromas e gosto cozidos – quando um vinho foi estocado ou transportado no calor, ele pode ficar cozido ou assado. Geralmente, terá um vazamento pela rolha ou a rolha é empurrada pra cima um pouco. Quando isso acontece, terás um vinho ruim.

Rolha – esse é problema mais comum. O vinho fica com cheiro de papelão molhado e fica pior ainda com o contato com o ar, diminuindo a intensidade do sabor original do vinho. Ele é causado por uma rolha com problema. Todo vinho que é fechado com rolha de cortiça corre esse risco. Rolha ruim gera um vinho ruim.

Numa análise final, você gosta? Não devemos ficar por muito tempo martelando o que pode acontecer com um vinho pra ele ficar ruim. Se você encontrar um vinho que tenha se estragado ou simplesmente um vinho que você não gosta, ou até mesmo um vinho que seja considerado bom em todos os sentidos e você não gostou, não compre mais dele e prove outro vinho. Beber um vinho que seja considerado bom mas que você não gosta é o mesmo que assistir a uma série de TV que você detesta, mas assiste pois todos gostam. Você não está gostando, não assista. Mude o canal. Procure outro show.

segunda-feira, setembro 13, 2010

Fatos para serem lembrados 8: A devolução do Canal do Panamá

As terras onde fica o Panamá hoje em dia foram arrancadas da Colômbia pelos Estados Unidos na base da diplomacia do canhão e foram levados à independência em 1903.

Quase 100 anos depois, no final dos anos 1990, O Canal do Panamá, que une os dois maiores oceanos do planeta, foi devolvido ao Panamá. Os americanos devolviam ao governo panamenho uma das maiores obras de engenharia do século 20.

A assinatura de devolução do Canal foi assinada em 1977 e dava o direito dos Estados Unidos intervirem militarmente na região caso a livre navegação nessa passagem estratégica seja ameaçada por algum ditador maluco.

A vontade de passar pelo Istmo do Panamá existia desde do tempo dos navegadores que descobriram o Novo Mundo. Quando chegaram à região, os espanhóis não se conformavam com a sacanagem da natureza: uma faixa de menos de 100 quilômetros impedia a navegação entre os oceanos, o que evitaria uma volta continental.

Em 1534, o imperador Carlos V encomendou um plano pra retirar a faixa de terra. Com a tecnologia disponível na época, tudo não passava de um sonho. Mas em 1879, a França disse que conseguiria tal feito. A França havia acabado de abrir o Istmo de Suez, no Egito, e construído com isso um canal com o dobro da extensão do que pretendido no Panamá. Por isso estavam tão confiantes.

Ferdinand de Lesseps, que chefiou a construção do Canal de Suez, subestimou a tarefa no Panamá. Morreram ali 20 mim trabalhadores. Eles chegaram ali em Janeiro de 1881 e encontraram um cenário hostil, com aranhas, cobras peçonhentas, e logo descobriram que uma coisa era escavar no terreno desértico do Egito e outra era tentar cortar ao meio uma montanha tropical pra fazer um canal no nível do mar. as chuvas torrenciais no Panamá que duram dois terços do ano causavam deslizamentos de terra soterrando trabalhadores e equipamento.

Se isso não fosse o suficiente, os trabalhadores morriam feito moscas, devido à febre-amarela e malária. E não só eles. Os administradores e seus familiares também morriam dos efeitos dessas doenças.

Os franceses concluíram 25% das escavações e em 1888, a Companhia Universal do Canal Interoceanico quebrava e os franceses deixavam a obra inacabada. Foi quando chamaram os Estados Unidos pra entrarem em cena. O país tinha o maior interesse em reduzir os 14 mil quilômetros que separavam Nova York de San Francisco, que tinha que ser feita pela Terra do Fogo, na extremidade da América do Sul. Assim como, queriam dominar essa passagem de ligação entre Pacifico e Atlântico.

O então presidente americano Theodore Roosevelt decidiu comprar a história e mandou bala. De quebra, conseguiu a independência do Panamá e criou bases para as operações militares americanas no continente.

Em 1904, os americanos sofriam tanto quanto os franceses com a chuva e a febre-amarela. Porem, John Stevens, o engenheiro chefe da obra, com 52 anos de idade, tinha experiencia em terras hostis pois houvera trabalhado em muitas construções de estradas de ferro no oeste dos Estados Unidos.

Havia enfrentado índios, matilhas de lobos e condições primitivas de sobrevivência. Ele percebeu que antes de continuar cavando, ele teria que erradicar as doenças. Deu carta-branca ao médico William Gorgas pra erradicar a febre-amarela.

Os franceses, apesar de terem construídos modernos hospitais, cometeram o erro de deixar baldes de água perto das camas dos pacientes pra afastar as formigas. E com isso espalhavam pelo hospital os focos de atracão dos mosquitos transmissores das doenças. Gorgas encontrou o erro e no final de 1905, a febre-amarela estava controlada.

Ainda assim, o total de mortos americanos foi de 5000, a maioria por soterramento. Em 1906, chegaram a um consenso: se o clima, o relevo e a vegetação tornam inviável fazer o talho no continente, porque não fazer com que os navios escalassem os obstáculos?

Decidiram então construir as oclusas e só assim o projeto deslanchou. Stevens abandonou a obra, que passou a ser tocada por um tenente-coronel chamado Thomas Goethals. A Passagem Culebra, hoje chamada de Gaillard, foi vencida com seus 12,6 quilômetros de extensão. O Rio Chagres foi represado, dando origem ao lago artificial Gatun e assim, em 1914, a navegação mundial ganhava um importante atalho.

Com 33,5 metros de largura e 306 metros de altura, as oclusas são o grande segredo do canal, que chegam a levar os navios a 26 metros acima do nível do mar. o sistema é baseado apenas na força da gravidade, que faz com que a água do Lago Gatun vá enchendo os degraus formados pelas oclusas, elevando o navio de patamar.

Separando cada estágio, estão outros pontos fortes da obra, que são as majestosas portas de aço, que na eclusa de Miraflores chegam a ter 25 metros de altura e pesam mais de 700 toneladas. Para que suas dobradiças não fossem sobrecarregadas, entrou em cena o princípio de Arquimedes. Impermeáveis e ocas, as portas abrem e fecham sobre as águas, recebendo um empuxo que alivia o seu peso monumental.

A represa que possibilitou o nascimento do canal, é responsável por gerar energia elétrica pra própria sustentação do Canal e assim como, para municípios vizinhos. Com a devolução dos Estados Unidos, o dinheiro do pedágio, que soma quase 2 bilhões de dólares por ano, passou a ser todo do governo do Panamá, que está engajado numa obra de alargamento do Canal, iniciada pelos Estados Unidos.

domingo, setembro 12, 2010

A Sadia - Parte 1

Uma das maiores empresas brasileiras levou um baque no ano passado. Anos e anos de história e esforço do seu fundador, Attilio Fontana, foram por água abaixo. Em 1986, abriram uma corretora, a Concordia, em homenagem ao nome da cidade onde a empresa foi fundada. A intenção era apenas operar com as ações da empresa, mas com óptimos resultados, passou a oferecer os serviços à terceiros. Sem saber, esse foi o primeiro passo pra derrocada da Sadia.

A história da Sadia começava em 1943, quando o gaúcho Attilio Fontana anunciou a sua saída da empresa que era sócio, a Moinho Concordia. Como ele era um comerciante conhecido e tinha bom nome na redondeza, atendeu a um pedido do prefeito pra entrar na sociedade e evitar a falência do moinho, que incluía também um frigorifico. Com a entrada de Attilio, o negócio saiu do vermelho.

Os sócios imploraram pra que ele não saísse e Attilio disse que ficaria se lhe dessem mais de 50% do negócios e fosse o controlador. E que todos os sócios teriam que lhe vender suas ações pela metade do preço e que se quisessem poderiam sair que ele pagava o dinheiro à vista, mas que poderiam continuar como sócios minoritários, caso desejassem. A maioria concordou e escolheram permanecer na sociedade. Naquele dia, Attilio decidiu o passo fundamental da sua carreira de empresário. Deixava de ser comerciante pra se tornar industrial.

Attilio nasceu em 1900, em Santa Maria da Boca do Monte, no Rio Grande do Sul. Descendente de italianos, falava com carregado sotaque e só vestiu sapato pela primeira vez aos 15 anos.

Bem, o primeiro desafio de Attilio no Moinho Concordia foi comprar maquinário pro frigorífico, mas como o mundo estava em guerra e o comércio oceânico havia parado, ele comprou o maquinário de um frigorífico que havia falido em Guaporé, RS.

Em Novembro de 1944, as máquinas entraram em operação no frigorífico e o produto principal era o porco, que virava linguiça, salsicha, salame e banha. Em seis meses, já abatiam 200 porcos por dia e Attilio mudou o nome da empresa pra Sadia, onde as duas primeiras letras eram de SA (Sociedade Anonima) e DIA eram as três últimas letras de Concordia.

A empresa começou a usar técnicas novas de higiene e conservação através de um sobrinho de Attilio, chamado Victor, que se formara em engenharia química. Também investiu em frangos e perus e mandou empregados estudarem técnicas de alimentos semi-prontos e congelados nos Estados Unidos e Europa. E abriram escritórios em São Paulo e no Paraná. Attilio entrou pra política, chegando a senador da república.
No começo dos anos 50, a Sadia sofria com as perdas de produtos perecíveis, por causa dos longos trajetos dos caminhões entre Concordia e os grandes centros consumidores e os produtos chegavam aos consumidores quase na data de validade.

Omar, filho de Attilio, teve a ideia de transportar a carga de avião e alugou um Douglas DC3 da Panair. A Panair só cedia os aviões aos domingos, então a Sadia o comprou. Outro problema surgia: o alto preço da gasolina dos aviões. Assim para ter acessos aos benefícios fiscais que o governo dava às companhias aéreas, entre eles a redução do preço do combustível de avião, Omar Fontana sugeriu que se arrendassem mais dois aviões, caracterizando assim a existência de uma empresa aérea. Com essa pequena frota foi criada em 1955, a Sadia Transportes Aéreos.

O transporte por avião deu uma vantagem competitiva à Sadia. Seus produtos chegavam aos consumidores mais rápido do que os produtos dos concorrentes. Nas horas ociosas, os aviões eram usados pra servir a terceiros. Com o tempo, a Sadia Transportes Aéreos virou a Transbrasil, que chegou a ter mais de 20 jatos e rotas pro exterior. Mas quando isso aconteceu, a Sadia não usava mais o transporte aéreo, pois com a melhoria das estradas e com os caminhões refrigerados, era mais barato fazer o transporte por terra. Em 2001, depois da morte de Omar Fontana, a Transbrasil quebrou.

Attilio morreu em 1989. Em 1994, o comando da companhia foi transferido pra terceira geração da família, a dos netos de Attilio. Luiz Fernando Furlan, o neto predileto, assumira a presidência do conselho de administração. Walter Fontana Filho, assumia a presidência executiva. Eles foram escolhidos pelas nove famílias dos filhos do fundador, alem dos sobrinhos, que juntos somavam quase 100 herdeiros.

Então, entre 1994 e 2003, Luiz e Walter não se falavam, o gerava muita confusão entre ordens e contra ordens, deixando os executivos perdidos. Luiz não falava com Walter pois esse denunciou falcatruas do pai dele, Osório Furlan, um genro de seu Attilio que fora colocado pra fora da empresa em 1983. A raiva de Luiz por Walter nunca passou.

Por isso o crescimento da empresa foi meio desviado. As últimas filiais de peso que a Sadia abriu, que foi em Tóquio, Milão e Buenos Aires, foram abertas no começo dos anos 1990. E fizeram também poucas aquisições. Em 1999, compraram a Miss Daisy, de sobremesas geladas e a Granja Rezende, de pesquisa genética e produção de aves e suínos.

Mas apesar das brigas, a Sadia crescia. As exportações saltaram de 500 milhões de dólares em 1994 pra 2,3 bilhões de dólares em 2007. O valor de mercado da empresa passou de 450 milhões de dólares pra 3,8 bilhões de dólares no final de 2007. Em 2007, a Sadia pagou 74 milhões de dólares em dividendos.

Por outro lado, a Perdigão, maior concorrente e originária também de imigrantes italianos, estava a beira da falência em 1994, quando foi comprada por 9 fundos de pensão, entre eles o Previ dos funcionários do Banco do Brasil. A Perdigão foi oferecida à Sadia, que não se interessou. Os fundos contrataram Nildemar Secches, um executivo vindo do BNDS. Em 2007, a Perdigão reestruturada atingiu o valor de 4,6 bilhões de dólares, superando a Sadia pela primeira vez na história das duas companhias.

Em 2002, o economista Oscar Malvessi mostrou aos executivos da Sadia que desde 1996, o lucro da Sadia vinha em grande parte de transações com papel e não mais com frango e peru. O seu Attilio já havia dito que não desejava que isso acontecesse. E foi por isso que as coisas deram errado.

quarta-feira, setembro 08, 2010

Vale a pena ler 31:desmistificando o transplante

Quando a nova lei de transplante foi aprovada, no governo FHC, as pessoas saiam dizendo que estavam com medo de ter seus órgãos retirados durante uma fase de coma, sem que a morte tivesse ocorrido. Esse medo não tem fundamento algum. Ninguém será prejudicado ou terá a morte acelerada por causa dessa lei. Gostaria de deixar isso bem claro. A comunidade médica entende o instante da morte como aquele momento em que o cérebro do doente deixa de funcionar. Não comanda mais as funções vitais do organismo. É o que se chama de morte encefálica. O coração bate, existe pressão arterial, os rins ainda funcionam. O corpo está quente. Mas o quadro é irreversível. Ainda assim, com lei nova ou sem ela, com direito a transplante ou sem, o cérebro já se foi e essa pessoa está morta. Quando há interesse no transplante, essa pessoa tem seus órgãos mantidos em funcionamento por meio de aparelhos, de forma que sejam preservados.

Não há a menor possibilidade de haver uma confusão entre a morte encefálica e o coma profundo. Seguindo padrões internacionais, um protocolo do Conselho Federal de Medicina recomenda uma série de provas clínicas antes do anúncio da morte. Esses exames são realizados duas vezes: no momento da morte encefálica e seis horas depois. São provas de que o cérebro realmente ficou indisponível, de que se encontra em situação irreversível. Para garantir a fidelidade, os testes são feitos por dois médicos. Um deve ser neurologista e nenhum deles pode fazer parte da equipe de remoção de órgãos ou da de transplante. Exige-se também um teste complementar para justificar a morte encefálica. Um exame gráfico, como tomografia ou eletroencefalograma, mede por imagens ou gráficos a atividade cerebral.

As pessoas que acham que vão entrar no hospital e acordar sem os rins, o fígado ou as córneas estão com um receio infundado. Mas esse medo todo deixa uma lição, que é a falta de confiança de parte da sociedade nos médicos e no sistema de saúde. Quem pode acreditar que a saúde funciona quando vê as imagens de pessoas jogadas nos corredores dos hospitais sendo tratadas de forma improvisada porque faltam médicos e leitos? Cenas como essas poderiam produzir até mesmo outra pergunta. Por que devo acreditar que o médico não vai simplesmente me deixar morrer apenas para tirar meus órgãos? Outras tantas perguntas desse tipo podem ser feitas, mas as pessoas precisam ter claro que os médicos têm ética, guiam-se por ela e não ganham nada fazendo o que é errado. São pagos para salvar a vida dos doentes que lhes caem nas mãos e, em caso de óbito, devem lutar para que seus órgãos não sejam desperdiçados.

Quando assumi a chefia do serviço de procura de órgãos do Hospital das Clínicas, em São Paulo, fiquei muito chocado com o caso de um jovem de 20 anos, vítima de acidente de carro. Ele foi atendido num hospital municipal e ali se tentou um hospital melhor, que dispusesse de um aparelho de tomografia. Enquanto os funcionários procuravam por uma ambulância, o jovem teve morte encefálica na maca, no corredor do hospital. Procurados, os pais do rapaz aceitaram a doação, mas ninguém explicou a eles que, para que os órgãos fossem retirados, o corpo teria de ser removido. Um médico de nossa equipe foi até lá para fazer a captação do cadáver. Os pais do rapaz entraram em parafuso quando viram chegar uma ambulância toda equipada e souberam que o filho seria transferido para um hospital de grande porte onde ficaria na UTI para ser submetido a todos os exames que não foram feitos enquanto ele estava vivo e agora, com ele morto, se realizariam. Em crise, os pais acabaram recusando a doação. Afinal, como convencer o pai de um menino que morreu por falta de recursos que ele vai beneficiar outros doentes? Fica no ar a impressão de que a luta pelo órgão é mais importante do que a luta pela vida. Mas não é assim. Para salvar uma vida, às vezes o médico dispõe de minutos, e o relógio é seu maior inimigo. Quando acontece a morte, consegue-se a doação bastando para isso manter o corpo ligado a aparelhos e o coração bombeando. Com isso se ganham horas. O programa de transplante é muito bonito, mas é preciso olhá-lo com frieza porque ele convive com a ineficiência do sistema de saúde.

Sou obrigado a reconhecer que isso mexeu comigo. Quase fiquei maluco. De repente, posso estar colocando um cadáver na UTI, ligo o que tem de mais complexo e moderno em termos de aparelhagem para cuidar de um morto, enquanto, ao lado, há um paciente morrendo. Gastei muito dinheiro com meu terapeuta. Temos de lembrar que pegaremos a rebarba dos doentes que estão sendo malcuidados nos prontos-socorros. Será que a gente não está pegando doentes que poderiam ter sido mais bem atendidos? O que me conforta é que cada doador pode salvar a vida de, em média, oito pessoas. É o que me faz continuar. Além disso, uma quantidade enorme de pessoas vive, hoje, num estado de debilidade permanente. São doentes passíveis de ser tratados. E esse tratamento é o transplante. Essas pessoas têm uma restrição à vida muito importante. Sem o transplante, morrerão. A maioria tem entre 20 e 50 anos, uma faixa etária produtiva para a sociedade. Costumo citar a frase de um rabino de Israel: "Salvar uma vida está acima da dignidade dos mortos".

Só podemos convencer as pessoas sobre a importância da doação com campanhas de esclarecimento. As pessoas devem ser informadas sobre o que é a morte encefálica, a importância da doação, que a retirada dos órgãos não desfigura o cadáver. Se isso tivesse sido feito, não haveria tanta revolta e recusa a doar. Além disso, alguém que se declara hoje "não doador" imagina que jamais precisará de um órgão. Ninguém está livre de pegar uma virose, desenvolver uma doença cardíaca e ser obrigado a entrar numa fila de transplante de coração. As pessoas não entendem isso. Ninguém tem certeza se algum dia não será o último na fila de um transplante. Essas pessoas que estão carimbando seus documentos para evitar a doação deveriam também mandar carimbar que não querem ser receptoras. O egoísmo é inerente ao ser humano, mas deve ser repensado em algumas situações. A doação de órgãos é uma delas.

Eu peço uma autorização à família do morto, pois se não retirar os órgãos, serei processado por quem está na fila. Por outro lado, seu eu retirar os órgãos de todo mundo, alguma família reclamará que não autorizou a retirada. O que me faz pedir a autorização é um sentimento de ordem moral, que para mim vem antes da ética. Ao retirar os órgãos sem o consentimento dos parentes, posso piorar a dor deles. Eu informo sobre a lei. Tento convencer a família de que infelizmente o paciente morreu. Que isso não era a vontade de ninguém, mas ele está morto. E, agora, a gente precisa desses órgãos. A gente precisa preparar a população para não recusar a doação. Mas é a família que tem de tomar essa decisão. A lei me dá esse direito. Ter todo o poder nesse campo é complicado. Por que tenho de assumir esse ônus sozinho?

É preciso definir o que é oferta. Nem todos os hospitais têm meios de manter um corpo em condições de transplante. Portanto, ainda que haja uma nova lei, ainda que a doação seja maçiça, há um limite inevitável, que é o da falta de estrutura. Acontece que, com a lei, os médicos poderão contar com os órgãos dos pacientes que morrem em hospitais com estrutura. As chances de arrecadação de órgãos aumentam, portanto.

É uma lei correta, bem-feita, que cobre tudo. Diz que todo mundo é doador, a não ser que se recuse por escrito na carteira de identidade. Estabelece que cada Estado brasileiro tem de montar uma lista de pessoas que precisam de doação deste e daquele órgão. E ninguém pode furar essa fila, a não ser que os testes apontem uma incompatibilidade qualquer entre o órgão do doador e o organismo do receptor. A lei regula como se fará a retirada do órgão, para onde esses órgãos devem ser mandados, e também atinge os médicos e os hospitais que farão o transplante. Pela lei, os hospitais que retiram os órgãos devem ser cadastrados nas secretarias de Saúde. Os que não fazem parte do cadastro são obrigados a notificar a existência de um possível doador. As equipes médicas só podem fazer transplantes quando autorizadas. A vigilância é contínua. Não há o perigo de um médico sair arrancando órgãos por aí.

Com a lista única, a família perde o direito de decidir que o órgão de um filho seja usado pra um irmão. É um ônus, sem dúvida, mas é a figura do direito coletivo se sobrepondo ao direito individual. Se a captação é única, a oferta de órgãos aumenta e a fila de espera diminui. Todo mundo será beneficiado porque a lista rodará mais rápido. A lista única é um dos melhores pontos da lei. As equipes de transplantes têm agora de cadastrar seus doentes nas secretarias estaduais de Saúde e aguardar a vez.

Acho pouco provável que essa lei facilite o comércio de órgãos. A tecnologia para o transplante é muito cara e a mão-de-obra precisa ser muito especializada para alguém montar um serviço paralelo. Mas quem o fizer estará amparado legalmente. Isso por conta da brecha deixada a respeito daquele transplante que é feito entre dois seres vivos. Antes, esse tipo de procedimento só tinha autorização para ser realizado entre parentes. Agora, qualquer pessoa considerada capaz pode dispor de tecidos, órgãos e partes de seu corpo para fins de transplantes e terapêuticos.

Solicitei à Polícia Federal uma pesquisa sobre esses mitos urbanos que contam histórias de tráficos de órgãos. Não encontraram uma só ocorrência. O Brasil não tem estrutura para isso. Para fazer um transplante é preciso ter um local físico com no mínimo dois centros cirúrgicos e um laboratório de imunogenética para cruzar o sangue do doador com o do receptor para ver se o órgão não será rejeitado. Além disso, é preciso dispor de um número enorme de doadores para acertar um que tenha o perfil genético parecido com o do receptor. Não é coisa que se monte no boteco da esquina.

* Por Milton Glezer, 52 anos, ex-coordenador da Organizacao de Procura de Orgaos do Hospital das Clinicas de Sao Paulo, o maior centro de transplantes do Brasil.

terça-feira, setembro 07, 2010

Muddy Waters

Todo ultimo dia do mês estarei fazendo um top ten das musicas mais acessadas no site Discografia Obrigatória. Interessante ver como continua um alto interesse nas músicas de Muddy Waters. Hoochie Coochie man continua sendo a mais acessada do site no mês de Agosto teve 31 acessos. Deu uma caída com relação ao mês de Julho, pois teve 46 acessos no mês passado. Porem, continua sendo a líder do top tem por dois meses seguidos.

Bill Haley and His Comets continuam também na mesma posição, o segundo lugar, com Rock Around the clock, repetindo o feito de Julho. Só que tiveram mais acessos, chegando ao número de 28, quase encostado na primeira colocada.

The Platters e sua Only you também permaneceu em terceiro lugar, repetindo a proeza do mês passado, mas também aumentou pra 20 acessos, quando em Julho teve 18 acessos.

A partir da quarta colocação do top ten a coisa começa a se alterar. The Drifters com Money honey ocupam a quarta colocação de Agosto, com 17 acessos. Em Julho estavam na sexta posição com apenas 9 acessos. A quarta colocada de Julho, Too much monkey business, com 16 acessos em Julho, saiu do top ten de Agosto.

A primeira novidade do top ten é Elvis Presley, com Love me tender ocupando a quinta posição, também com 17 acessos. Não constava no top tem de Julho. A quinta colocada de julho era Carl Perkins com Blue Suede Shoes, que teve 10 acessos.

A sexta colocada do mês de Agosto é Ray Charles com I got a woman, que obteve 12 acessos. Era a oitava do mês passado, quando obteve 7 acessos.

Muddy Waters novamente com Mannish boy conseguiu alcançar a sétima posição com 11 acessos. No mês passado ela foi a nona colocada com 7 acessos.

A oitava colocada foi Little Richard com Tutti-Frutti, que caiu de posição, teve 10 acessos. No mês passado teve 7 acessos, mas era a sétima colocada. Estão precisando de mais acessos pra se manterem no top ten.

A nona foi Carl Perkins com Blue suede shoes com 10 acessos. No mês passado ela era a quinta colocada com o mesmo número de acessos. E por fim, pra fechar o top ten, outra estreante: Crazy arms, com Jerry Lee Lewis, com também 10 acessos.A décima do mês passado era justamente The Penguins, com Earth Angel.

Por fim, notou-se que:

Mantiveram-se na mesma posição: Hoochie Coochie man, Rock around the clock e Only you.

Subiram de posição: Money honey, I got a woman e Mannish boy.

Caíram de posição: Tutti-Frutti e Blue suede shoes.

Sumiram do top ten: Too much monkey business e Earth angel.

Apareceram no top ten: Love me tender e Crazy arms.

Até agora, tivemos 12 canções que apareceram no top ten. No mês de Agosto, os acessos somados do top tem chegaram ao número de 166, uma ligeira subida em relação aos 150 de Julho, ou seja, 11.1%.

Muddy Waters foi o único artista a ter duas músicas no top ten nos dois meses computados até agora. 53 em Julho e 42 em Agosto, totalizando 95 acessos em dois meses.

1 – Muddy waters com Hoochie Coochie man, 31 acessos (10)
2 – Bill Haley and His Comets com Rock around the clock, 28 acessos (6)
3 – The Platters com Only you, 20 acessos (12)
4 – The Drifters com Money Honey, 17 acessos (3)
5 – Elvis Presley com Love me tender, 17 acessos (36)
6 – Ray Charles com I got a woman, 12 acessos (15)
7 – Muddy Waters com Mannish boy, 11 acessos (21)
8 – Little Richard com Tutti-Frutti, 10 acessos (13)
9 – Carl Perkins com Blue suede shoes, 10 acessos (26)
10 – Jerry Lee Lewis com Crazy arms, 10 acessos (41)

quarta-feira, setembro 01, 2010

O que é um bom vinho?

Um bom vinho é, antes de tudo, um vinho que você goste de beber. Até porque a única proposta do vinho é dar prazer pra aquele que está bebendo-o. Mas, indo mais profundamente, o quão bom um vinho é depende de como é mensurado, baseado em padrões mais menos estabelecidos, gerando resultados dados por experts treinados e experimentados.

Esses padrões envolvem conceitos misteriosos como equilíbrio, duração, profundidade, complexidade e tipicité, ou seja, é verdadeiro ao tipo. A propósito, nenhum desses conceitos são mensurados objetivamente.

Equilíbrio - Comecemos com o equilíbrio. Nesse quesito, usaremos três palavras: doçura, acidez e taninos, pois elas representam os três maiores componentes do vinho. O quarto é o álcool. E mesmo sendo uma das maiores razoes pelas quais queremos beber um copo de vinho, o álcool é um elemento importante na qualidade do vinho.

O equilíbrio é a relação entre esses quatro componentes. Um vinho é equilibrado quando nenhum desses gostos se acentuam em detrimento dos outros, como um tanino muito amargo ou um gosto muito doce. Muitos vinhos são equilibrados, pra maioria das pessoas. Mas se você tem um gosto diferente pra comida, tipo se você não gosta de nada doce, você pode achar que um certo vinho não é equilibrado. Se você acha que ele não esta em equilíbrio, então ele nao estará em equilíbrio pra você. Os profissionais que testam vinhos sabem das suas peculiaridades e fazem um ajuste pessoal pro resultado.

O tanino e a acidez são elementos endurecedores do vinho, pois fazem o vinho parecer mais firmes na sua boca, enquanto o álcool e o açúcar (se existir algum), são elementos amolecedores. O equilíbrio de um vinho é a relação harmônica entre os aspectos firmes e os moles de um vinho e um indicador chave da sua qualidade.

Duração – quando nós chamamos um vinho de longo ou curto, nós não estamos nos referindo ao tamanho da garrafa ou em quanto tempo iremos termina-lo. A duração é uma palavra usada pra descrever um vinho que dá a impressão de descer ao longo do seu paladar, que você ira saboreá-lo em toda a extensão da sua língua, em vez de parar de sentir o gosto ainda na metade do seu aproveitamento.

Muitos vinhos de hoje são sentidos logo no seu paladar, dando uma boa impressão logo que você experimenta-os, mas eles não vão à longa distancias dentro da sua boca. Eles são curtos. Geralmente, altos níveis de álcool ou de taninos são os culpados. A duração é um sinal certo de boa qualidade.

Profundidade – este é outro atributo subjetivo e imensurável de alta qualidade de um vinho. Diz-se que um vinho é profundo quando ele parece ter uma dimensão de verticalidade, isto é, não tem um gosto sem graça e em uma dimensão na sua boca. Um vinho sem graça não pode ser um bom vinho.

Complexidade – não tem nada errado com um vinho simples e direto, principalmente se você gosta dele. Mas um vinho que mantém elementos diferentes que vão se revelando, sempre trazendo pra um novo sabor ou impressão, é um vinho que tem complexidade e é geralmente considerado de melhor qualidade.

Alguns especialistas usam o termos complexidade especificamente pra indicar que um vinho tem uma multiplicidade de aromas e sabores, enquanto outros usam esses aromas e sabores de forma mais holística e menos precisa, para se referir a impressão total que o vinho dá a você.

Acabamento – é a impressão que o vinho deixa na parte de trás da sua boca e na sua garganta depois que você engoliu. Também é chamada de pós-gosto. Em um bom vinho, você pode ainda perceber os sabores do vinho, como se é frutificado ou mais spicy. Alguns vinhos terminam quentes, por causa do alto nível de álcool ou amargo, por causa do tanino, mas que passam logo. Outros vinhos não tem nada a dizer sobre eles mesmos depois que vocês os engole.

Tipicité – com a intenção de julgar se um vinho é fiel ao seu tipo, você deve saber qual tipo de vinho você supostamente está indo testar. Assim, você tem que saber as características do vinho feito pelas mais importantes variedades de uvas e as clássicas regiões de vinhos do mundo.

Só pra terminar, voltemos a questão do equilíbrio. Para uma primeira experiencia sobre como a questão do equilíbrio funciona, tente isto. Prepare um copo de chá bem forte e bote ele pra gelar. Quando você bebe-lo, o chá forte irá ter o sabor amargo, porque é muito tânico. Agora adicione suco de limão e o chá irá ter sabor adstringente (comprimindo os poros da sua boca), por causa do ácido do limão e o tanino do chão que estão acentuando um ao outro. Agora adicione muito açúcar na sua mistura. A doçura deve contrabalancear o impacto acido-tanico e o chá irá ter o gosto mais soft do que antes.