sexta-feira, fevereiro 15, 2013

Gestos valem mais do que palavras


Trata-se de um anúncio publicitário interessantíssimo que atesta sobre como o mundo era muito diferente há quarenta e poucos anos atras. Mas não era diferente, diferente. Era muito diferente mesmo. As mudanças nessas últimas quatro décadas atingiram uma velocidade nunca antes detectada na história da humanidade. E acredito que essa velocidade só vem aumentando.

Tipo, se nos últimos quarenta anos tivemos um coeficiente de velocidade de 20 pontos, metade desses pontos foi somente nos últimos 10 anos. E aumentará ainda mais.  

Olhem esse anúncio da União Brasileira dos Bancos, de fins dos anos 60, que diz que a melhor maneira de você confiar na sua mulher é abrindo uma conta conjunta com ela. Primeiro, até então não existia conta conjunta no Brasil. Segundo, o anúncio deixa a entender que só os homens tinham conta em banco e que deveriam abrir uma conta conjunta pra esposa. Terceiro, se fosse hoje, ainda estariam zombando da mulher, pois adicionar a mulher na conta conjunta seria o ato máximo de confiança.

Já pensou o diálogo?

- Olhe meu amor, eu confio muito em você, vou até colocar você junto comigo numa conta chamada conjunta que inventaram agora!

- Oh, que emoção!

O anúncio falava ainda em “repartir a responsabilidade de administrar o dinheiro da família com a esposa”, ou seja, até então, a pobre coitada só entendia mesmo de lavar, cozinhar, passar, fofocar e se deitar.

Ainda, “Você não vai precisar sair de casa pra pagar as contas de água, luz, telefone, impostos, carnês e etc, a sua mulher poderá fazer isso pra você”, não é uma maravilha? Alem do que, ela não precisará mais ficar com grandes quantidades de dinheiro pra pagar o armazém, a costureira, o tintureiro, a escola das crianças, pois irá usar o seu cheque e tudo estará anotado no canhoto, pra você saber exatamente quanto, como e quando ela gastou.

O anúncio ainda mandava pensar nela, pois é muito mais elegante pra uma senhora pagar com um talão de cheques do que com dinheiro vivo, sujo. Também serve pra quando você for viajar e não ter que deixar dinheiro com a esposa, ou caso fique doente de repente.

No final, o anúncio vaticinava: “Abra uma conta conjunta com sua mulher. Um simples gesto vale mais que mil palavras”.

Bem, os tempos mudaram. Hoje em dia, muitas delas já se cansaram das contas conjuntas e mesmo casadas, mantem contas separadas dos maridos. Principalmente se ela tiver mais dinheiro ou ganhar mais. O grande presente que o homem dava, foi tomado até mesmo dele.

Essas coisinhas do cotidiano são realmente um retrato fiel dos costumes. E não aqueles encontrados nos questionários da vida, todos com maquiagens e respostas politicamente corretas. E dá-lhe conta conjunta.

quinta-feira, fevereiro 07, 2013

A grande sacanagem

Uma das maiores sacanagens a que fui acometido na minha vida só vim descobrir hoje. Olhando uma revista antiga, de 1968, descobri essa propaganda acima. Trata-se de um antiseptico líquido, que pela embalagem diz que "Não arde", "Previne e combate infecções" e "Quase não mancha a pele". 

Agora eu pergunto, porque cargas d'água eu passei a minha infãncia inteira sofrendo com o tal do Mertiolate? Que ardia mais do que a porra? Por quantas e quantas vezes eu escondi um machucado, prolongando a sua cicatrização e minha dor, somente pra evitar o uso do tal de Mertiolate?

Mas espere, você está sendo injusto. Isso aí só devia ter em São Paulo ou no Rio de Janeiro, em Natal essas novidades nao chegavam assim tão rápido. Rápido um cacete, essa novidade tinha no Rio e São Paulo 7 anos antes de eu nascer. Será que não deu tempo de chegar? Contando que eu comecei a me machucar quando comecei a andar, acrescente aí mais um ano nessa equação. 

Só fui começar a ter um sossego quando arranjaram um tal de mercúrio cromo, que fez com que o mertiolate fosse abolido lá em casa. Quanta maldade os pais faziam com as crianças nascidas nos anos 70s. Somos verdadeiros guerreiros. Suportamos todos os mertiolates da vida, o que nos fez mais fortes, acho.

Hoje em dia até os remédios tem gosto de frutas. Não tem uma boa Novalgina, pro nego ficar bom bem rápido, antes de ser obrigado a tomar a segunda dose daquela desgraça. Hoje os meninos ficam doente somente pra tomar remédio, de tão bom que é o gosto. 

Ah, sem ser injusto, o gosto do AAS infantil era bom demais. Se deixassem uma caixa perto de mim, eu devorava todo. Mas o mertiolate hein? Sacanagem da porra!!!

domingo, fevereiro 03, 2013

O país que Collor encontrou


Collor pegou um país que vinha de uma estagnação desde o início dos anos 1980, e pegou o país depois de Sarney, que teve quatro ministros da Fazenda, aplicou quatro choques econômicos, teve três moedas e que no último mês de governo, dezembro, a inflação chegou à 50%. No início do governo Figueiredo, essa inflação era de 50% ao ano. Se anualizar esses cinquenta por cento, ela dá um monstro de 12,874% ao ano.

Collor herdou a maior massa falida da história do Brasil até então. A divida externa brasileira era de 120 bilhões de dólares, o que nos colocava como o maior devedor do mundo. E isso era uma conta informal, pois em 1987 Sarney declarou uma moratória internacional. Por causa da inflação nos píncaros, o empresariado brasileiro continuava com suas reservas no Over ou no dólar, em vez de usa-las pra produzir.

E o governo permanecia pagando juros ferozes pra obter os empréstimos para cobrir seu rombo de caixa. Isso era uma estagnação no setor privado e no setor público ao mesmo tempo. Traduzindo, isso era falta de transporte, escola, hospitais e até comida pro povo.

O Brasil tinha 70 milhões de cidadãos que viviam com menos de dois salários mínimos, 35 milhões que não sabiam ler e 65 pessoas de cada 1000 já vinham condenadas a morrer antes mesmo do primeiro ano de vida. Os brasileiros queriam mudança, por isso a falta de sucesso das siglas maiores do país, que eram PFL e PMDB.

Em resumo, a situação que Collor pegou quando chegou ao governo era mais ou menos assim:

Inflação – Era a pior doença do país, pois tem efeitos colaterais que se espalham por todos os pontos do tecido social. Os sinais de hiperinflação já podiam ser sentidos quando Sarney estava deixando o mandato.

Deficit público – As contas públicas tinham um débito de 27 bilhões de dólares. A incapacidade de Sarney de administrar suas contas e despesas iria causar uma bomba que iria estourar posteriormente.

Serviço público – O Brasil tinha um serviço público ineficiente que consumia entre 60 a 80% da receita disponível. Havia no país 181 empresas estatais, que abrigavam 1 milhão de funcionários. Isso era um fardo pesado pro governo e impedia o desenvolvimento do país.

Educação – O Brasil era a oitava economia do mundo ocidental, mas tinha índices de alfabetização piores do que Uruguai e Paraguai. Havia no Brasil 35 milhões de analfabetos. De cada duas crianças que entravam na escola, uma era reprovada na primeira série. 

Saúde – De cada 1000 crianças que nasciam, 65 morriam antes de completar um ano de vida. O Brasil não havia conseguido acabar com doenças de pobreza, como o Mal de Chagas, que afetava 5 milhões de pessoas e a esquistossomose, que atingia 10 milhões de brasileiros.

Habitação – O déficit habitacional atingiu 10 milhões de moradias. E quarenta milhões de pessoas viviam em péssimas condições, amontoando-se em favelas, cortiços e outras formas precárias de moradia.

sexta-feira, fevereiro 01, 2013

A primeira “derrota” de Lula



O cidadão Luís Inácio Lula da Silva saiu também como um azarão no início da corrida presidencial de 1989 e chegou até o final do segundo turno praticamente empatado com Collor nas pesquisas. Mas tudo isso foi uma surpresa até mesmo pro PT, que pensava em lançar Lula em 1989 somente pro nome dele pegar no país e só depois em 1994, concorrer de fato à uma vaga na presidência.

Contra a sua candidatura, tínhamos a falta de preparo intelectual de Lula, o radicalismo do PT, que deixava muitos eleitores na defensiva e a falta de experiencia administrativa, tanto de Lula quanto de sua equipe de sustentação.

Lula era ate então, além de líder do PT, um deputado bom de voto mas de participação inexpressiva na Assembleia Nacional Constituinte. Saiu da disputa como um político capaz de crescer durante a campanha, de tecer acordos como os que fez com Brizola e Covas para o segundo turno e que possuía bastante carisma, comprovado pelo desempenho dele nos palanques e na votação final.

Podemos concluir então que, apesar de uma derrota, essa disputa foi muito positiva pra Lula e o PT, como poderíamos comprovar três eleições depois dessa. Pra um candidato que tinha intenção apenas de se mostrar ao país e com poucos recursos, que fazia Lula ficar horas e horas nos aeroportos, pois fazia sua campanha em voos de linha, Lula saiu mais do que vitorioso. Muito mais do que ele merecia.