sexta-feira, julho 30, 2010

Fatos para serem lembrados 6: Sexo oral na Casa Branca

Lembro-me que ainda na faculdade de administração no final dos anos 90, um assunto que estava na boca de todo mundo era a história do boquete que a estagiária Monica Lewinski tinha feito no presidente Bill Clinton, que poderia lhe custar o mandato presidencial.

Mas a história não foi bem essa. O boquete existiu, mas ele era apenas um detalhe da história. O caso começou com uma moça chamada Paula Jones, que trabalhava com Clinton quando este ainda era governador do Arkansas. Ela alega que Clinton chamou-a no quarto dele de hotel e pediu favores sexuais, assim sem mais nem menos.
Mesmo sendo uma história difícil de acreditar, mas digamos que seja verdadeira, isso é crime? O cara perguntou se ela queria fazer sexo, ela disse que não, e foi embora. Isso é crime? Pode ser cara de pau, mas crime?

Bem, mas Paula Jones arranjou um advogado que como ela, queria aparecer. Eles encontraram uma outra despeitada (direi mais na frente porque) chamada Linda Tripp, que havia trabalhado na Casa Branca, que gravou 17 conversas telefónicas com uma “amiga”, que era justamente Monica Lewinski, onde contava detalhes do relacionamento com Clinton. Lewinski não sabia que estava sendo gravada e confessava e desabafava pra “amiga”.

Então os advogados de Paula Jones usaram as gravações pra mostrar como Clinton era mesmo um “assediador”. O cara diz: ei, pague aqui um boquete e antes dele se calar, ele já está no ato, isso é um assedio? Pelo que eu saiba, quando dois querem, como se diz…

Pra completar ainda mais a novela, surge um promotor que também queria estar sob as luzes dos holofotes, chamado Keneth Starr, que estava determinado a acabar com Clinton.

Sim, mas voltando a Linda Tripp. Essa senhora, que nunca levou cantada de Clinton e esse foi o problema dela, viu outra senhora chamada Kathleen Willey saindo do escritório de Clinton com a boca suja de batom e com blusa por fora da saia e com alguns botões abertos e toda sorridente. Tripp não gostou e enciumada por não teve essa chance, abriu a boca e contou pra todo mundo. Como ninguém acreditou, ela enrolou a menina Monica Lewinski e induziu-a a confessar ao telefone o caso com Clinton e então gravou, sorrateiramente.

Clinton contra-atacou e colocou em campo a mulher, os amigos e todo o seu charme e poder de convencimento pessoa, alem da autoridade do cargo que exercia, tudo com o objetivo de salvar o emprego. Pouco tempo depois do contra-ataque, 60% da população americana já achava que as acusações eram falsas.

Movida também pela vontade de aparecer e ganhar uns dólares a mais, aquela da blusa pra fora foi à TV ao vivo pra se fazer também de vítima. Mas ai Clinton mostrou os bilhetes dela pra ele e ela ficou com cara de bunda. E ainda uma amiga dela foi ao ar dizer que Kathleen estava mentindo.

No final das contas, uma mulher, a juíza Susan Webber Wright, ex-aluna de Clinton na faculdade de direito do Arkansas, republicana e Caxias, absolvia Clinton das acusações de assédio sexual movidas por Paula Jones. O processo foi arquivado.

A juíza entendeu que Clinton não assediou ilegalmente Paula Jones, pois ele não usou força física pra tentar subjuga-la, não usou seu poder como governador pra prejudicar a carreira dela e não causou sofrimento emocional. Causou sim, uma coceirinha no bolso, pra tentar pegar uma grana fácil e ficar famosinha. Se deram mal. Clinton saiu mais fortalecido do episodio.

quarta-feira, julho 21, 2010

O trabalhador perdido

Outro dia estava discutindo com alguns amigos aqui sobre o governo Fernando Henrique e Fernando Collor e o povo só faltou me matar quando disse que eles foram bons presidentes. Ora, entre as coisas que falo sempre que eles trouxeram de bom pro país, como abertura para as importações e a venda de todos os elefantes brancos e cabides de empregos, o país entrou numa era de modernidade, numa era bem diferente daquela que se encerrava com Sarney.

Mas alem de tudo isso, foi conseguido uma estabilidade da moeda, uma abertura económica, avanços tecnológicos, e entramos na globalização dos mercados. Tivemos também um aumento do desemprego, e todos esses fatores combinados, fez com que o trabalhador, o operário brasileiro, se visse de calça curta. Tornou-se menos combativo, mais organizado e com uma disposição quase zero pra greve. Se tornou mais favorável à negociação com os patrões. Em outras palavras, fez greve? Vai pra rua que o dono coloca outro no lugar.

Essa postura menos radical tornou-se uma questão de sobrevivência pro metalúrgico do ABC Paulista, que somente entre 1991 e 1995, perderam 100 mil postos de trabalho. Eram 230 mil metalúrgicos em 1991 e em 1995, tinham somente 135 mil no time deles.

Diante da faca no pescoço, o trabalhador se encontrou numa completa crise de identidade. Não sabia se brigava por melhores salários, por mais empregos, pela redução da jornada de trabalho ou pela diminuição dos encargos sociais. Que problema, hein?

Se na época de Sarney, o trabalhador não tinha dúvidas de que o patrão era o explorador e o operário o explorado, na época de FHC o dono da fabrica aparecia muitas vezes como o parceiro, inclusive tendo empresas que dividiam seus lucros com os empregados. Numa pesquisa feita pelo Cebrap, 73,8% dos trabalhadores disseram que preferiam uma negociação do que um confronto com os patrões.

Na Fábrica da Ford, que na época era a mais moderna do país, tinha 96 robôs na linha de montagem, que soldavam e movimentavam materiais com maior precisão, rapidez e menor risco de acidente de trabalho. E principalmente, não fazia greve.

Por isso a manutenção do emprego tornou-se a grande cruzada dos trabalhadores. E acredito que essa tendência chegou até agora, o ano de 2010. Até porque Lula, no que pôde, copiou FHC. Só se superou na canalhice e nos roubos e assaltos e sacanagem pura e direta. Os antes valentes e combatentes trabalhadores, estavam aceitando uma redução da jornada de trabalho de 44 pra 36 horas, limitações de horas extras e transformando as horas extras em folgas ou ferias coletivas e também redução dos encargos sociais.

Era uma nova postura de fazer sacrifícios pessoais em favor de manter a empresa aberta ganhou força no ABC Paulista. Porem, isso se aplicava somente no dia-a-dia das grandes empresa, vale salientar. Os das pequenas empresas, ganhavam quase 40% a menos do que o dos trabalhadores das grande empresas, além de ter um risco maior de ser demitido.

terça-feira, julho 20, 2010

O bicho pegou

Enquanto comemorávamos o aniversário de quatro anos das minhas filhas gêmeas, no sossego do quintal da minha casa em Oakville, a poucos kilometros dali, no centro de Toronto, o bicho pegava, o cacete comia e o zaralho era tocado. No sábado, 26 de Junho, um grupo de violentos manifestantes deixou um rastro de destruição no Downtown da maior cidade do Canada, onde era realizado o encontro do G20. Lojas foram destruídas e saqueadas e carros da polícia foram destruídos e ainda por cima queimados por completo.

Os marginais, planejaram muito bem o que eles chamam de “protesto pacífico” contra o G20 e tudo o que ele representa. Ou os baderneiros acham que um encontro dessa natureza representa. Organizados, cerca de 70 canalhas comandaram o tumulto. Os criminosos, que alguns chamam de manifestantes, forçaram o uso de máscara de gás pela polícia pela primeira vez na história de Toronto, pra você ter uma ideia do tamanho da anarquia gerada. No intervalo do jogo entre Estados Unidos e Gana, víamos os flashes do que estava acontecendo bem pertinho de casa.

Bill Blair, o comissário chefe da polícia, disse nunca ter visto um nível tão grande de destruição na cidade. A marcha de protesto continha mais ou menos 4 mil pessoas e estava tudo relativamente calmo. Mas quando eles se encontraram com a polícia, dezenas de anarquistas vestindo preto, colocaram suas mascaras pra esconder seus rostos e saíram das linhas de frente, pra não ficarem tão perto da polícia.

Quando eles saíram da frente, os comunistas do quebec, um grupo organizado em prol do vandalismo, começaram a cantar hinos de protestos. Então às 4 da tarde, veio o sinal. E armados com martelos, bolas de sinuca e qualquer objeto que encontrassem pela frente, começaram a destruição, pegando a polícia de surpresa.

Atacaram um carro da polícia, com um policial dentro e quebraram o parabrisa com pedaços de pau e pedras. Um grupo pequeno de policiais correu pra salvar o colega dentro do carro, mas mal conseguiram tirar o policial do carro, tiveram que recuar novamente, pois estavam em menor numero e o carro foi totalmente destruído. O mesmo ocorreu com outros carros da polícia ao longo da manifestação.

Antes de destruírem os carros, porem, subiam em cima do teto dos carros e usando o rádio da polícia, gritavam palavras de ordem, e assim como ligavam a sirene, pra aumentar o pânico. Então saíram de cima das sucatas dos carros e começaram a destruir todas as vitrines das lojas que viam pela frente e pegar as coisas que estavam dentro delas. Os empregados das lojas sofreram com os objetos entrando na loja. E começam a escrever nas paredes com sprays e frases como “No Corporation Greed” eram espalhadas por todos os lados.

Quando foi pego, um dos manifestantes de merda, dizia que “o que estava acontecendo ali não era violência, e sim vandalismo contra as corporações violentas. Nós não machucamos ninguém. As corporações sim, que machucam as pessoas”. É mole? Eu queria saber até que ponto vai a imbecilidade humana. Humana não, de um animal desses. Outro dizia que protestava contra “a máquina de guerra masculina e machista em que vivemos”.

Destruíram uma BMW estacionada, dizendo que os “yuppies” eram também inimigos. Quando a policia colocou os violentos manifestantes num canto, eles foram trocando de roupa e se misturando de volta aos manifestantes mais normais. A música deles dizia: “No justice, no peace, fuck the police”.

O fato é que, mesmo existindo os baderneiros de Toronto, a grande maioria veio do Quebec. Eles se diziam anti-policia, anti-colonialismo e anti-capitalistas. Por ai você tira a qualidade da massa. Diziam que os lideres não ligavam pros protestos calmos, que teriam que arrepiar pra se fazerem ouvidos. Que mentalidade.

Até aí tudo bem, os imundos quebraram tudo, tocaram fogo nos carros da polícia, destruíram tudo. Tudo bem. Massa. Então os policiais começaram a baixar o pau, desde a madeira pra cima, aí começam a reclamar, que isso é uma violência. É pra baixar o pau mesmo. Vagabundo é pra apanhar. Mas sabe como é, quebrar eles sabem. Serem quebrados não sabem não e choram chamando Mamãe.

Mas a policia daqui foi até calma. O problema mesmo foi quando chegou a polícia de Montreal, que atacam em marcha, com os escudos em uma mão e o cassetete batendo na canela, todos ao mesmo tempo, fazendo um barulho assustador. Quem não correu com medo da marcha sinistra, apanhou até dizer basta. Foi o verdadeiro bonde do terror. De dar inveja ao BOPE. Querem bagunçar? Então vamos bagunçar nessa porra.

Engraçado foi o policial chefe dos meninos policiais de Montreal, quando indagados porque eles não tinham dialogo, somente pau. O sujeito falou que eles falavam, mas as pessoas não entendiam, eles não podia fazer nada. Numa alusão ao fato deles falarem francês e os daqui falarem inglês.

Fico pensando como essas coisas ainda acontecem nos dias de hoje. E olhe que foram gastos mais de 1 bilhão de dolares em segurança pra este evento. Melhor seria ter chamado uns batalhoes de choque brasileiros pra segurar tudo bem direitinho. A grana nao seria nem um decimo disso e a segurança seria garantida.

segunda-feira, julho 12, 2010

Vale a pena ler 29: O médico destemido

O médico é quem fica mais chocado com a minha técnica de cortar um pedaço do coração do paciente porque, para ele, o coração sempre foi um órgão intocável. Tirar um pedaço do ventrículo esquerdo, que injeta sangue na artéria aorta, seria impensável. É mesmo surpreendente, uma coisa muito louca. Mas o paciente mesmo não se assusta: quando a gente fala que a cirurgia é boa, que a taxa de sobrevida é de 95%, ele aceita. Minha técnica é uma alternativa simples e barata para doentes de insuficiência cardíaca que não podem se submeter a transplantes ou não têm tempo de vida suficiente para ficar na fila de espera. Eu pego o coração grande, inchado e cansado, corto um pedaço e costuro o que sobrou. O coração volta a bater, menor e mais forte. Quando souberam que faço isso, começaram a falar que eu era louco. Podem falar: sou doido mesmo, mas dou uma chance para as pessoas viverem.

Schopenhauer falava que toda verdade passa por três estágios. No primeiro, ela é ridicularizada. No segundo, é veementemente antagonizada. Mas no terceiro estágio ela é aceita. Foi isso que aconteceu comigo. O duro foi levar as bordoadas que vieram antes. Dois médicos de Porto Alegre diziam que era impossível um paciente melhorar com essa cirurgia, e que se eu estivesse certo seria necessário reescrever todos os livros de cardiologia. Esses imbecis podem preparar as canetas, porque eu estou certo e eles estão errados.

Minhas ideias foram aceitas primeiro nos Estados Unidos e somente depois no Brasil. Toda essa repercussão aconteceu graças a um outro brasileiro, o Tomas Salerno, diretor da divisão de cirurgia cardiotorácica da Universidade Estadual de Nova York, em Buffalo. Ele veio aqui, viu umas dez cirurgias e quase caiu de costas. Foi ele quem me deu força e me levou aos Estados Unidos para promover a técnica. Mas lá o negócio também foi brabo. Um dia eu cheguei a um congresso americano e ninguém queria me deixar falar de jeito nenhum. Aí me inscrevi para comentar um artigo a respeito de redução do pulmão. Parabenizei o médico pelo trabalho, disse que estava muito bonito, que concordava com sua abordagem. Depois prossegui falando que estava fazendo o mesmo com o coração. Foi um escândalo.

Eu já me acostumei a ser chamado de louco. É muito mais fácil me chamar de louco do que alguém admitir que foi idiota durante toda sua carreira. Alguns têm até coragem de admitir. Um cirurgião veio me dizer que já teve uns 10000 corações na mão e nunca percebeu uma coisa tão simples.

A curiosidade faz a gente descobrir as coisas, foi assim que tive esse estalo. Quando eu era criança, meu pai fazia geléia de mocotó em casa, para vender lá em Minas. E quando ele ia ao abatedouro comprar mocotó, eu ficava mexendo em uma tina onde eles jogavam os corações dos bois mortos. Sempre fui fascinado por aquilo, por manusear aqueles corações de animais. Um dia, bem mais tarde, encontrei na minha chácara um búfalo morto. Tinha sido picado por uma cobra, que também morrera esmagada pelo corpo do animal. Eu dissequei os dois e percebi que, apesar de algumas diferenças de circulação, os corações eram iguais. Dissequei coração de cachorro, gato, carneiro, vaca, de tudo quanto era bicho que eu encontrava morto por aí. Assim eu cheguei a uma fórmula matemática que resume as dimensões de um coração saudável: a quantidade de massa muscular tem de ser igual a quatro vezes o seu raio elevado ao cubo. É uma aplicação da lei de Laplace sobre a tensão de parede, que a gente estuda durante a residência em cirurgia geral. Ficou fácil, qualquer paciente que não esteja dentro dessa proporção terá insuficiência cardíaca.

Não foi muito mais do que uns seis meses entre minhas descobertas com animais e com um ser humano. Mas eu nunca tinha feito essa cirurgia nem em animais. Mas estava operando um paciente com insuficiência cardíaca terminal e vi que ia perdê-lo. Existem duas maneiras de fazer um coelho correr: cenoura no nariz ou chumbo no rabo. Eu estava levando chumbo no rabo e decidi meter o facão e tirar um pedaço do coração do paciente. O que me fez fazer isso? Desespero. Eu estava com o paciente morrendo na mesa, tinha de fazer alguma coisa. A mesma coisa aconteceu quando nasceram os meus filhos mais velhos, gêmeos. Nós estávamos em Boston, já na clínica, mas o obstetra não conseguia chegar por causa de uma nevasca. Eu mesmo fiz a cesárea, e os dois nasceram bem. Hoje estão com 19 anos.

Fizeram o diabo comigo pois eu não tinha testes antes de operar um ser humano. Meus colegas me denunciaram no Conselho Regional de Medicina por estar fazendo cirurgia experimental em seres humanos. Eu disse que estava mesmo e mostrei meus resultados. "Se tiverem um tratamento melhor", falei, "eu mando todos os meus pacientes para vocês atenderem." Desde aquela época rezo todas as noites para Deus me proteger dos meus amigos. Um dia a Sociedade Brasileira de Cardiologia mandou uma comissão até aqui, talvez para fechar o hospital, e encontrou com uma equipe de americanos da Universidade Yale fazendo fotos e filmando.

Minha taxa de sobrevida é de 95% na sala de cirurgia. A chance de sair do hospital vivo é de 80% e a de viver dois ou três anos, 60%. Depois de um ou dois anos a sobrevida dessa cirurgia é igual à do transplante cardíaco. Com uma diferença: se você adicionar aos resultados do transplante cardíaco a quantidade dos pacientes que morrem na lista de espera, o resultado fica muito pior do que o nosso.

Em alguns casos, minha técnica é melhor do que um transplante porque tem muita gente que não pode se submeter ao transplante por estar com a pressão pulmonar muito baixa, por exemplo. E tem paciente que entra no hospital com insuficiência cardíaca e sai imunodeprimido, porque os transplantados tomam drogas para reduzir a imunidade e evitar a rejeição. O doente fica na corda bamba: ou é infecção ou é rejeição. Ou ele toma muita droga contra a rejeição e fica sujeito às infecções ou reduz a quantidade de medicamentos e pode ter rejeição. Já a ventriculectomia pode ser aplicada em qualquer doente que tenha insuficiência cardíaca terminal e um coração grande. Isso corresponde à maior parte da clientela do transplante.

Muitos visitantes estrangeiros ficam chocados quando vêem minhas condições de trabalho de Campina Grande do Sul. Em uma dessas universidades me disseram: "Fica aqui que nós vamos te deixar rico". Eu respondi que já era rico, porque rico é quem tem 1 dólar além de suas necessidades. Vou guardar para que, se meu caixão não vai ter gavetas? Eu acho o lado social da medicina muito importante, e aqui eu posso exercê-lo. Aqui eu tenho liberdade para aplicar tudo o que eu aprendi e também posso me dedicar a melhorar as coisas que eu aprendi. Aqui você tem o direito de fazer algo melhor, nos Estados Unidos não.

O sistema americano é muito castrativo e os médicos não tem liberdade pra fazer nada. Há médico que vem conhecer a minha técnica e volta para os Estados Unidos com medo de utilizar o que aprendeu. Ele opera, melhora a saúde de um paciente que está morrendo. Quando o paciente sai do hospital, vem um advogado e propõe entrar com uma ação para ganhar 5 milhões de dólares. O sujeito ganha a ação, o médico vai à bancarrota. Se, ao contrário, você deixar o doente morrer e for jogar golfe, não acontece nada com você. Ainda vão bater palmas se você fizer um buraco com uma tacada só. É por isso que o golfe é tão popular nos Estados Unidos. Eu não estudei quarenta anos para ter de telefonar para um advogado antes de decidir se vou operar ou não. Esse sistema não protege o doente, porque em uma situação de risco o médico vai deixar o doente morrer.

Eu acho que o SUS é ótimo. Acho que faz até mais do que deveria. Para mim, o SUS deveria atender apenas aos indigentes. Qualquer paciente que não fosse catalogado dentro do espectro do indigente teria de pagar um seguro ou ter algum tipo de programa de saúde. Profissionais liberais, gente de classe média não devem internar-se por conta do SUS. Reduzir a clientela para dar um atendimento decente aos brasileiros carentes é a saída para o SUS.

Eu não aceitaria se fosse convidado pra assumir uma secretaria ou ministério da saúde. Eu entendo um pouco da saúde individual, dentro da minha especialidade. Mas para tratar da saúde como um todo, a partir de um cargo como esse, é preciso entender muito de política. Não me sinto preparado para isso, mas apenas para fazer cirurgias cardíacas. É o que eu gosto de fazer. Há muito dinheiro mal gasto quando se trata de governo. O primeiro investimento tem de ser nas pessoas. Não adianta nada investir tanto em obras. Eu digo aqui para o meu pessoal que um hospital é feito de neurônios, não de tijolos. Nosso hospital não poderia fazer mais pelos seus doentes se tivesse paredes de brilhante e chão de ouro. Um bom neurônio leva uns quarenta anos para construir, ao passo que um bom hospital eu levanto em seis meses.

Eu recebi um convite pra tratar do ex-presidente russo Boris Yeltsin. Eu estava em Praga, quando me procuraram para falar que Yeltsin estava com insuficiência cardíaca e precisava ser operado. Eu falei que não tinha como ir até Moscou porque já tinha compromissos, ia viajar para Houston, nos Estados Unidos. O Michael Debakey, americano, e o Renate Akchukin, russo, chefes da equipe médica que acompanhava o então presidente, marcaram um encontro comigo em Houston. Mostraram os dados, explicaram as condições do paciente, disseram que ele estava com o coração grande. Eu ia indicar a cirurgia do naco, mas o Debakey me alertou para os riscos. "Se der certo, ótimo", ele me falou. "Mas se não der nós vamos todos para a Sibéria." Aí eu vi que o negócio era indicar as quatro pontes de safena e pronto. Foi o que fiz. O caso dele era limítrofe. Eu, se tivesse um paciente nas condições dele aqui no Angelina Caron, tirava um pedaço. Mas se eu opero Ieltsin e por alguma circunstância qualquer ele morre, a culpa fica sendo da cirurgia. Se ele viesse a morrer durante uma operação consagrada, não teria problema.

Os meus pacientes e colegas as vezes estranham o meu linguajar duro e as vezes eu sou mesmo meio agressivo, mas isso é normal. Se eu chamo alguém de macaco dentro da sala de cirurgia, é porque ele está fazendo alguma macaquice. Eu não quero ofender ninguém, eu quero estimular as pessoas. As pessoas estranham. Se elas não são capazes de entender isso, o problema é delas, não meu. Como bom mineiro, eu falo de maneira simples, não gosto de ser pedante. Não vou buscar um palavreado mais complicado só porque eu sou médico. Não nego a minha mineirice, não tenho vergonha da minha infância em Minas, que foi muito boa. Vivi em fazenda, tomando o leite quente da vaca. Para ser feliz na vida, o homem não pode negar a sua raça, por mais simples que seja a sua origem.

Eu vim parar nessa cidadezinha do interior por acidente. Eu sempre quis ter um cachorro Labrador, e em Curitiba, onde moro, não tinha nenhum criador. Em 1984 eu vi um anúncio no jornal de uma pessoa vendendo uma ninhada em São Paulo e fui lá ver os animais. Quando eu estava voltando, o meu carro derrapou em um lugar que é até apelidado de "curva do óleo". Eu capotei sete vezes. Cheguei aqui com cinco costelas e a omoplata quebradas. A primeira coisa que eu fiz depois que acordei foi perguntar se o hospital não estava precisando de um cirurgião cardíaco. No começo eles não estavam acreditando, mas acabaram topando. O cachorro também sobreviveu. O nome dele era Dafi e ficou conosco por um bom tempo.

* Por Randas Jose Vilela Batista, mineiro, entrou pra historia da cardiologia por ter criado uma inovação na cirurgia cardiovascular, intervindo diretamente no musculo do coração e retirando um pedaço, pro coração voltar a ficar forte.

quarta-feira, julho 07, 2010

A dimensão do sabor

Os vinhos possuem sabores ou pra ser mais preciso, aromas da boca, mas os vinhos não vêm com um sabor específico. Enquanto que você pode ter sentido um gosto de chocolate num vinho tinto que você está degustando, você não vai até uma loja de vinhos e pede por um vinho de chocolate, a não ser que você goste de ser motivo de chacota.

Ao invés disso, você deve se referir a família de sabores do vinho. Você terá os vinhos frutificados, ou seja, aqueles que fazem você pensar em frutas quando cheira ou quando ingere os mesmos. Você tem os vinhos earthy, ou seja, que fazem você se lembrar de minerais, pedras, floresta, jardim, folhas secas. Você tem também os vinhos spicy, que teriam cheiro de canela, pimenta, ou ervas indianas, por exemplo. Tem também os vinhos herbais que tem cheiro de grama, menta, alecrim, entre outros. E muitos outros tipos.

Se você gosta de um vinho e quer tentar outro que seja similar mas sendo diferente, (pois todos os vinhos são diferentes uns dos outros) um método é decidir qual família de sabores que estão no vinho que você gosta e dizer isso pra pessoa que está vendendo o vinho pra você.

Outra questão importante sobre o sabor é conhecer a sua intensidade, independente de quais são esses sabores. Alguns tem a intensidade de um Big Mac, enquanto outros tem a intensidade de um filet de um peixe quase sem gosto. A intensidade do sabor é um dos fatores que precisam ser levados em conta quando se vai colocar o vinho pra fazer par com uma comida. E também ajuda a dizer o quanto você gosta de um vinho.

Uma coisa interessante a respeito dos iniciantes de vinho (como eu) é que sempre se confundem ao descrever os vinhos secos como sendo vinho doce porque eles confundem o gosto de fruta com o gosto doce. Um vinho é frutificado quando possui aromas e gosto de frutas. A parte frutificada é sentida pelo seu nariz e pela passagem retronasal dentro da boca. Doçura, por sua vez, é uma impressão da sua língua. Quando estiver em dúvida, segure o seu nariz quando estiver degustando o vinho. Se o vinho for mesmo doce, você irá sentir sem se confundir, com o sabor de frutas.

Assim como, ser soft ou firme são também impressões texturais que um vinho dá a você quando você o degusta. Da mesma forma que a sua boca sente a temperatura na língua, também sente a textura. Alguns vinhos de fato parecem soft e macios quando descem dentro da sua boca. Enquanto alguns parecem duros, crus, ásperos. Nos vinhos brancos, a acidez é geralmente responsável pelas impressões de dureza ou firmeza.

Nos vinhos tintos, o tanino é que geralmente é o responsável. Baixos níveis de acidez ou taninos podem fazer o vinho parecer agradavelmente soft, ou muito soft, dependendo do vinho e de suas preferências.

Açúcar sem ser fermentado contribui pra essa impressão de ser muito soft, assim como pouco álcool. Mas álcool em excesso, como ocorre nos vinhos de hoje em sua maioria, dá ao vinho uma firmeza excessiva.

Um vinho é ácido ou tânico? Os vinhos tintos possuem ácido assim como taninos. E diferenciar os dois pode ser um desafio. Quando você não tem certeza, preste atenção de como sua boca se comporta quando você acaba de beber. O ácido faz você salivar, pois a saliva é alcalina e sai pra neutralizar o ácido. O tanino por sua vez, deixa sua boca seca.Essa é a diferença entre os dois.

segunda-feira, julho 05, 2010

Fatos para serem lembrados 5: A visita do Papa à Cuba

A chegada de João Paulo II à Cuba no final dos anos 90 foi envolta na mística de ser um desses momentos históricos. A Igreja sofria e ainda sofre restrições em Cuba, que um dia, antes do golpe de poder do Satanás barbudo, já foi um país católico. Mas quando por lá o Papa aportou, contava com um número insignificante de seguidores da palavra de Roma.

Quando o papa chegou no curral cubano, o carniceiro de Havana já estava com 71 anos, só a bosta. Hoje a praga já está com 83 anos e ainda está por aí, dando suas opiniões e pitacos pros outros presidentes cretinos, tipo Lula, Chavez, Moralez e Correa. O Papa foi à Cuba tentar fazer um projeto de transição política do regime totalitário da ilha. Tentou fazer como fez anos antes na Europa Ocidental e procurou um diálogo diplomático e negociador em Cuba com o objetivo de evitar o derramamento de sangue e até mesmo uma guerra civil no período após a morte de Castro. O único problema foi que o Papa morreu antes do coisa ruim.

Castro, por sua vez, agindo de forma realista, viu na Igreja Católica uma opção estratégica de que podia se valer pra preservar o seu próprio nome na história. O esforço das duas partes foi comum. Durante a visita do Papa, Fidel decretou feriados, convocou a massa e providenciou transporte gratuito para que a população comparecesse às cerimônias religiosas. Tenho curiosidade de saber o tamanho do problema que um sujeito teria caso se recusasse a ir. Iria rezar um Pai-nosso antes de receber um bala na cabeça. Mas que rezava, ah ele rezava.

As vantagens dessa visita do Papa pro regime castrista foram logo exibidas. A ultima vez que o mundo havia olhado pra Cuba com tanto interesse foi quando da ocasião da crise dos mísseis soviéticos na ilha, na época do governo Kennedy. Fidel, lógico, capitalizou a oportunidade pra dizer que o mundo lá fora é todo uma merda e que Cuba é uma beleza, que trata-se de um paraíso social incomparável.

Os exilados cubanos de Miami é que não gostaram dessa visita, pois o Papa indo por lá, estava como que dando legitimidade ao governo totalitário castrista. Mas o Papa não queria perder seu tempo tentando convencer Fidel a virar um democrata cristão, pois o homem além de ter um ditador, ainda tem parte com o demo. Um Hitler das Américas.

O Papa caiu na conversa mole de Fidel, que alegava que a pobreza de Cuba se devia ao embargo econômico dos Estados Unidos. Pura balela. Cuba só está na merda porque segue com o sistema socialista e antes só não era tão ruim pois recebia uma pesada mesada da União Soviética. Como hoje não recebe mais a esmola, vive ruim e quer culpar os Estados Unidos e o embargo.

Ora, o dia de Natal só virou feriado em Cuba um ano antes da chegada do Papa. Das 212 escolas católicas existente em Cuba antes de Fidel, todas foram fechadas. É nesse inferno que o Papa pretendia se fazer ouvir? Como eu disse, antes de Fidel, o Papa foi ter com o chefe lá em cima e o filho do Cão continua vivo e pouca coisa se mudou. A intenção do Papa foi boa, mas como dizem por ai, de boas intenções, Cuba está cheia.