terça-feira, julho 03, 2012

Mirassol


Antes de pegar o beco geral, eu fiz dois pit stops, sendo um curto e um longo. O primeiro pit stop foi em Mirassol. Fiquei por lá entre 1975 e 1978. Não, não é a cidade paulista, é um conjunto de Natal, parte do bairro de Capim Macio. E foi justamente nesse Mirassol que meus pais haviam adquirido a casa que eu iria tao logo que saí da Januário Cicco. Eles haviam tomado posse da casa em 6 de dezembro de 1973, um dia após o casamento deles.

O conjunto de Mirassol foi fundado no ano de 1973, ou seja, meus pais fazem parte dos primeiros moradores de lá. O conjunto tem 26 hectares de área total e aproximadamente 900 residências. Conta com apenas 16 ruas e 6 praças.

O conjunto é situado entre a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e a BR-101. No começo, as ruas eram denominadas por letras, ou seja, eram ruas A, B, C, D e daí por diante. Só depois é que mudaram para nomes de flores. A casa foi financiada pela COHAB. Na época, meu pai trabalhava no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o INPE. Como o bairro foi erguido para abrigar os professores e funcionários da Universidade e como o INPE era ligado à Universidade, meu pai estava dentro da lista. Só depois é que foi aberto à população.

Em 1978, com a construção de uma nova casa, meus pais venderam a casa ao meu avô paterno, vovô Oliveira, que depois repassou-a à uma irmã da minha mãe, minha tia Nalba, que até hoje habita na mesma residência, no número 830 da rua dos Antúrios. A diferença é que depois de 2 mil reformas, a casa não lembra nada a que eu nasci, somente as coordenadas globais de latitude e longitude.

Hoje em dia Mirassol possui um dos mais novos cartões postais da cidade, uma gigantesca arvore de Natal, que fica acesa todos os dias do ano. Mas, na época em que minha família se mudou para lá, Mirassol era o fim de Natal pro lado da zona sul. Ninguém queria morar por lá.

A nossa casa tinha um jardim na frente e era cercada por um muro baixo, que atingia a altura da cintura de um homem de estatura mediana. O portão era de ferro, da mesma altura. Os tempos eram outros. Ah, como eu queria ter vivido naquele tempo. Eu vivi, é verdade, mas queria ser adolescente naquela época.

A rua dos Antúrios tem uma parte que faz um “U” invertido e a nossa casa era mesmo no cume desse “U”. Certa feita fui levado para passear com uma babá e a mesma se deparou com um cachorro. O cão não gostou da jovem ou gostou demais, e pôs-se a correr atras dela. Ela por sua vez não sabia das intenções do cachorro com ela e correu também, tentando proteger suas próprias vísceras.

Acontece que no meio disso tudo, estava eu. Dentro de um carrinho de bebe, daqueles que ficamos deitados e lógico, naquela época ninguém pensava nem em cinto de segurança pra carro, imagine então pra carrinho de bebê? A moçoila correndo pra salvar-se, e eu descendo a ladeira dentro desse caixão de rodas, sem tampa, solto, sem freios e sem motorista.

Não se sabe o que ocorreu depois disso, pois a ré nunca irá contar tudo, uma vez que já notamos que ela não era besta. Mas o fato é que, de acordo com o psicólogo da família (minha mãe), com certeza é por isso que até hoje eu tenho ojeriza por cães.

Da minha memoria, eu lembro de alguns vizinhos. Do lado esquerdo era Dona Rodes e seu Nico e seus zilhões de filhos, todos adultos já. Do lado direito era a casa dos amigos André e Iran. André passou uma temporada nos Estados Unidos e Iran tocava bateria na noite natalense, inclusive chegando a tocar na banda Arapuca, que tinha também como integrante Thennius Britto, amigo do Jiu-Jitsu. Acho que a família deles ainda mora lá.

Foi nessa casa de Mirassol que tive o primeiro contato com minha maravilhosa tia Zilene Tavares Meira. Na verdade ela não é minha tia, ela é tia da minha mãe, pois ela é irmã da minha avó materna, Vovó Vanda.

A minha vizinha Dona Rodes perguntou quem era aquela senhora que tinha vindo para tomar conta de mim. Com a espontaneidade infantil, eu respondi que não sabia quem era, só sabia que era uma mulher de Patu. Evidentemente que eu não sabia o que era Patu e nem sabia que Patu era uma cidade. Eu devo ter ouvido ela falar que veio de Patu e decorei isso. Eu só sei que essa resposta foi piada interna daquele trecho de rua e da família por muito tempo. 

Na foto, papai e mamãe na nossa casa de Mirassol, no final dos anos 1970s.