quarta-feira, maio 12, 2010

O dinheiro verde

Em meados dos anos 90, começou a moda de tudo ser ecológico, de tudo ser “verde” e lógico, junto com essas modas, sempre surgem os “ecopentelhos”, como dizia Roberto Campos e os “ecoladrões”. Começava uma tentativa, necessária até certo ponto, diria eu, de unir economia e ecologia. A ideia inicial soou bem no meio empresarial, que via uma oportunidade de “parecerem” ou “serem” bonzinhos aos olhos da massa e soava bem também pros dirigentes das ONGs, que viam ali uma oportunidade de arrecadar mais algum e não dar satisfação pra ninguém, como elas aprenderam bem a fazer.

Mas pra usar essa união ao máximo, de economia e ecologia, porque não passar a explorar os parques de preservação ambiental? Gera divisas pra economia local e empregos e os turistas politicamente/ecologicamente corretos, adoram fazer esse tipo de programa e mais, contar pros amigos que fizeram um turismo ecológico. Tipo aquele cara que diz que só come orgânicos pros amigos e se acha quase um espírito de luz por fazer isso.

Deu-se o nome desse segmento de “ecoturismo” e o pioneiro nesse tipo de exploração no Brasil foi o Parque do Iguaçu, no Paraná. Dos turistas que vinham ao Brasil nesses meados dos 90, 12% iam pra lá pra ver as cataratas. Nessa época, o Parque do Iguaçu recebeu mais turistas do que o Parque da Tijuca, no rio de Janeiro, que tem como atracão o Corcovado, que vem a ser um cartão postal do país.

Outro segmento desse tipo que surgiu era formado por empresas que reciclavam latinhas. Aqui no Canadá, você junta as suas e coloca num lixo especial. O governo leva e recicla. No Brasil, como se sabia que ninguém ia fazer isso, eles pagavam pra você juntar as latinhas. Tinha um menino que todo mês ia lá em casa buscar umas latinhas. Meu pai juntava todas e entregava todo feliz pro rapazote. Fantástico, não? Os meninos limpavam as ruas de graça pro governo, fazendo o trabalho dos garis e ainda tinha uma empresa privada que pagava por esse serviço. Como vivemos sem isso antes?

O projeto Tamar, aquele das tartarugas, tinha 60% recursos oriundos do Ibama e da Petrobras, 10% de doações e os 30% restantes, arrecadavam quando vendiam camisetas, buttons, chaveiros e CD Roms. Hoje tem tanta tartaruga que virou praga, pior do que a quantidade de cangurus na Austrália. Daqui a pouco vai ter mais tartaruga do que gente. Mas engraçado, um projeto de tartaruga na Bahia. Baiano preguiçoso, tartaruga aquela lentidão toda. Será que tem algo a ver?

Mas rapaz, nesse negócio lucrativo de ser “verde”, mesmo que se você quiser criar animais silvestres pra ter lucro, você pode, basta ter uma autorização do Ibama e ainda dizem que você é visto com bons olhos, pois está ajudando a acabar com a extinção de algumas espécies, como o jacaré do pantanal e a capivara, que chegavam ao mercado somente através dos clandestinos. Você criava jacarés e vendia a carne pra restaurantes, Frigoríficos e supermercados. O negócio é chegar perto deles sem eles morderem.

O mesmo começou a ocorrer com os produtos que não usavam agrotóxicos. Quem entrasse nesse ramo, tinha um público que estava disposto a pagar mais caro só pra se ter um produto com um selo de qualidade ecológica. Era bom pra ecologia e pra mostrar aos seus amigos que você é “cool”. A loucura era tão grande que foi lançado um certificado ISO 14000, que garantia que os detentores desse certificado era uma empresa saudável do ponto de vista sócio-ambiental.

Novamente os baianos. Uma empresa de papel e celulose baiana, a Bahia Sul, foi a primeira empresa a receber o ISO 14000 em todas as Américas. Já pensou? Os baianos são invocados mesmo. Para obter essa certificação, monitora-se desde o número de reclamações da comunidade ao consumo de água e a quantidade de resíduos gerados por produto.

Eu só sei que daqui a pouco tempo, até os filhos vão nascer com o selo ecológico. Feito sem ajuda de químicos ou remédios. De forma natural de acasalamento, sem qualquer ajuda externa. Ô desgraça.

Eu agora estou começando a lidar com o jardim da minha casa, num primeiro sinal de que a velhice está tomando conta de mim. Mas vejam, as ervas daninhas e o mato que teima em crescer na grama não podem ser exterminados com ajuda química, pois não é ecologicamente correto e o governo baniu esses produtoes de serem vendidos nas lojas. Tem-se que arrancar um por um. E aí vamos vivendo, salvando o planeta, enriquecendo os verdes e acabando com o resto do nosso tempo livre, que seria pro lazer, agora só serve pra trabalhar de graça em prol do planeta. E haja paciência.

2 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Ótimo artigo, Fabiano!
Dos ecochatos do Greenpeace,montados nuns barquinhos infláveis e saindo em rede televisivas mundais, entraram em ação os 'que vendem o lenço'(enquanto os outros choram...) e estão ganhando dinheiro a rodo!!!
Haja ISO 14000...