quinta-feira, junho 16, 2011

Será que ele sobrevive?

Um dos maiores orgulhos da província de Ontário, no Canadá, é a Research In Motion, firma que criou o Blackberry em 1999. Localizada na cidade de Waterloo, a RIM, como é conhecida, revolucionou a produtividade móvel. Por quase uma década, a empresa liderou facilmente este mercado, pois provia o melhor gadget do mercado. A RIM silenciou todos os críticos e literalmente aposentou a Palm, que era a líder anterior dos Gadgets. E claro, transformou todos os shareholders em pessoas muito ricas.

Porem, agora, a RIM está com os dias contados, segundo metade dos críticos. Tudo porque a RIM perdeu a liderança do mercado e a sua porcentagem de mercado está caindo rapidamente. E muitos dos viciados em Blackberry estão trocando seus aparelhos por iPhones ou Androids.

A RIM argumenta que o deslize da companhia é apenas temporário, que dentro em breve eles estarão novamente no topo. Mas, grande parte do mercado não está acreditando nisso. Acham que a RIM se transformará numa Nokia ou como eu disse antes, na Palm. E eles enumeram três razoes pra que isso aconteça. Elas são:

1) O produto da RIM não é o melhor do mercado. Acham que essa é a principal razão. Acham que a grande maioria dos usuários agora preferem a maior capacidade dos iPhones e Androids, especialmente os apps e os navegadores de Web. E muitos dos que precisam da segurança do Blackberry, agora andam com dois telefones, para poderem também usar as benesses do iPhone e Android.

2) O mercado de Smartphones se transformou num “Platform Market”, da mesma forma que o Windows fez na era do PC. Ou seja, mercados tecnológicos onde companhias terceirizadas criam seus programas ou aplicações para rodar em um determinado sistema operacional ou outro produto. E essas empresas terceirizadas tendem a ficarem parceiras de apenas um ou dois líderes de mercado. Graças a explosão de apps disponível pra iPhones e Androids, o mercado de Smartphones está cada vez se transformando num Platform Market. A RIM tem uma quantidade bem menor de firmas desenvolvendo apps pro seu telefone do que a Apple e a Google.

3) A segurança sempre foi o maior atrativo do Blackberry, mas as companhias agora estão deixando seus empregados usarem o aparelho que quiserem. E muitos não estão escolhendo os Blackberries. E mais, muitas companhias estão dando produtos da Apple pros funcionários, coisa que não acontecia há alguns anos atrás. O que era considerados telefones para brincar, agora estão sendo considerados bons pelas empresas. E isso é ruim pra RIM.

Alem de tudo isso, alegam os críticos, ainda tem a perda de credibilidade do management da RIM, especialmente de um dos CEOs, o Jim Balsillie. A RIM vem prometendo que os novos produtos vão ser maravilhosos e não renderam tanto fogo quando chegaram ao mercado. O Torch, por exemplo, não agradou e nem vendeu mais do que o iPhone. A mesma coisa aconteceu com o Playbook, o competidor do iPad.

Mas, do outro lado da rua, existem os que dizem que a RIM vai dar a volta por cima e vão continuar a ser o orgulho de Ontário. A obsessão da Rim com segurança pode dar uma vantagem à companhia, tendo em vista os vexames dados pela Amazon, Apple e Sony, com vazamentos de dados de usuários. Alem do que, a RIM está muito bem financeiramente e possui uma situação fiscal invejável. Ao contrario do que pensam, a RIM pode estar se preparando pra dar outro bote.

A RIM não possui dividas e está sentada num paiol de 2 bilhões de dólares em cash, somente esperando pra ver onde vão ser colocados. Só pra se ter uma ideia, o retorno do investimento da RIM foi de 38%. Google, Microsoft e Exxon tiveram retorno da ordem de 20% no mesmo período.

Assim, os observadores mais incautos, ficarão surpresos ao saber do incrível crescimento da empresa nos últimos 3 anos. Entre os anos fiscais de 2008 e 2011, o faturamento da RIM quase triplicou. Era da ordem de 6 bilhões de dólares e pulou pra 20 bilhões de dólares.

Claro, esse número é apenas um terço dos 65 bilhões de dólares que a Apple faturou em 2010, mas cavando um pouco mais fundo nos livros contabeis das empresas, vemos uma coisa curiosa. No mais recente ano fiscal, a Apple gastou 1,78 bilhões de dólares em pesquisa e desenvolvimento, o que é 2,73% do seu faturamento. Em contraste, a RIM gastou 1,35 bilhões de dólares, o que é 6,78% do seu faturamento.

O que isso quer dizer? Que a RIM pode mudar sim a maré de sorte. Comprou 14 pequenas companhias, incluindo a QNX Software, que faz os sistemas operacionais de trens de alta velocidade e plantas de energia nuclear. O QNX está sendo cotado pra ser o novo sistema operacional do Blackberry.

O negócio do QNX é gigantesco. Esse software vai dar uma nova vida ao antigo sistema operacional do Blackberry. Isso pode ser um grande passo, pois a segurança do Blackberry pode ser o fator que o diminui frente aos mais “sofisticados” smartphones. Se conseguirem empatar com os competidores e garantirem um sistema operacional de ponta, vão estar de novo na frente.

Eu mesmo fico irritado com o meu Blackberry pois não aceita “Flash” e a maioria dos websites usam “Flash”. Mas a segurança é uma coisa vital. Recentemente, dois usuários de iPhone tiveram detalhes de sua localização e arquivos não criptografados revelados. Estão processando a Apple.

A preocupação com a segurança dos iPhones está aumentando e aparecendo mais na mídia, o que pode ser bom pra RIM. E o iPad tem o mesmo problema de fraca criptografia do iPhone. Alguns até acham que o governo monitora o trafico de informações dos iPhones, devido à facilidade de acesso.

Em suma, com uma grana preta nas mãos, um robusto e poderoso novo sistema operacional e um mercado global de smartphones que cresce em passos frenéticos, a RIM aposta que não ficará pra trás nessa corrida.

E quem aposta o contrario, pode ficar surpreso quando o quesito segurança passar de novo a valer mais do que a quantidade de apps que se pode usar. Esperemos pra ver quem tem razão.

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