terça-feira, outubro 11, 2011

Humanos, contra ou a favor da terra?

Nesse final de semana, conversando com um canadense pai de uma amiguinha das minhas filhas, descobri que o conceito de conviver com os bichos aqui é tão recente quanto no resto do mundo. Pelo menos em termos de lei. Na época de criança dele, que deve estar no meio da década dos 30, ninguém ligava caso um sujeito desse um tiro num guaxinim que bagunçasse seu quintal todos os dias em procura de comida. 

Hoje em dia, caso alguém pense em fazer isso, e for pego, vai pra cadeia no ato. Assim, vivem de maneira mais civilizada possível com os animais, mesmo sem gostar em muitos casos. Eu mesmo aprendi a conviver melhor com certos bichos, mesmo sem ter amor por nenhum deles. Já até salvei da morte um filhote de guaxinim, que estava preso em uma grande lata de lixo sem conseguir sair de lá. 

Na verdade, a vida humana depende dos outros seres vivos pra se manter no planeta. Não podemos deixar desaparecer espécies de animais e plantas sem serem estudadas e catalogadas antes. Nós, seres humanos, somos apenas um elo da cadeia biológica, e não podemos viver isolados dos animais e vegetais. Hoje muita gente sabe disso, mas nem sempre foi assim. Por milénios, o homem viveu em combate com a natureza e só sobreviveu porque derrotou os perigos do mundo natural. 

Só começamos a parar de destruir o planeta quando do advento das sociedades industriais e das formas globais de destruição da natureza, que nos despertaram para a necessidade de conservar o meio ambiente. Mas não só isso. Ao longo da existência humana no planeta, foi-se firmando em nossos genes uma predisposição hereditária da espécie humana para a convivência pacífica com os demais seres vivos. 

O nosso lado animal não é necessariamente selvagem e predatório. Mesmo tendo produzido grandes catástrofes e extinções de vida em massa na terra, lá dentro, algo nos diz que isso é um erro, que estamos jogando contra o nosso próprio património. 

Fatores sociais e econômicos determinam quando a predisposição de viver em harmonia com a natureza prevalece ou se a agressividade com a natureza predomina na historia humana. No momento, parece que a predisposição de salvar o planeta está predominando, embora ainda estejamos sob o impacto das formidáveis agressões que desencadeamos contra as cadeias de vida do planeta. 

Há um grande bafafá em torno da importância da preservação da Amazônia no mundo todo, o que percebo as vezes irrita até a o pensamento de soberania nacional. Mas na verdade, a preocupação mundial com a floresta Amazônica se dá justamente pela sua fragilidade e não por ela ser o pulmão do mundo, como se diz por ai. 

Em muitos pontos, as matas tropicais ainda estão sendo danificadas de forma tão indecente que mesmo as mais modernas tecnologias de reflorestamento não poderão traze-las de volta à vida. Dezenas de milhares de animais e plantas são extintos sem que tenhamos a chance de estuda-los. E por consequência, sem saber se eles contem ou produzem substancias que poderiam minorar os sofrimentos humanos. Matamos espécies numa velocidade muito maior do que elas podem ser criadas naturalmente. Gastamos o património natural sem que ele possa ser reposto com a mesma intensidade. 

Pra resolver essa equação, precisamos acelerar o nosso lado estudioso e conservacionista e conter o nosso lado destruidor. Conhecer uma espécie é o primeiro passo para sua conservação, pois só conservamos o que amamos e só amamos o que conhecemos e só conhecemos aquilo que nos é ensinado. 

As florestas tropicais são exuberantes apenas na aparência. Na verdade, são desertos úmidos. Possuem uma vasta e complexa cobertura vegetal fincada num solo arenoso, fertilizado apenas por uma delgada capa de material orgânico. Essa capa é mantida por um regime de chuvas acima dos 100 milímetros anuais. Entre todos os ecossistemas do planeta, o deserto úmido é o mais frágil. Ninguém sabe ainda como reconstrui-lo. 

Mas entre mortos e feridos, sobrou uma coisa positiva, que ninguém pode negar que tenha sido bom. Hoje em dia, nenhum projeto vai adiante sem que alguém tenha de esclarecer quais serão os efeitos das obras sobre a natureza. Isso não existia nos meus tempos de criança, nem na ideia do mais bem-intencionado esquerdista. 

Assim, mesmo sendo chato ou dispendioso pra alguns, nenhum projeto é aprovado sem que tenham um aval do órgão público que regula o meio ambiente. Isso é um avanço e tanto no que diz respeito à conservação do meio ambiente. Se eu falasse que existiria um órgão assim quando o meu pai tinha 20 anos de idade, ele iria cair na risada e dizer que se tratava de uma utopia. Não é mais.

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