quinta-feira, janeiro 31, 2013

A primeira eleição direta da minha vida

No dia 17 de dezembro de 1989, o povo brasileiro votava no segundo turno de uma eleição direta, depois de muitos anos em que não se era permitido exercer esse direito. A eleição de 1989 entrou pra história do país como sendo a mais democrática de todas as eleições já realizadas no país até então, pois em nenhuma delas a liberdade fora tao ampla, e em nenhuma delas a participação popular tinha sido tao grande.

Fernando Collor de Mello, o vencedor, era o menos credenciado dessa corrida. Leonel Brizola já havia sido governador de dois estados, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, e era assim, o único político brasileiro a conseguir esse feito. Paulo Maluf havia sido governador de São Paulo. Ulysses Guimarães era o “senhor diretas” e o santo padroeiro da Nova República. Mário Covas era dono de 8 milhões de votos em São Paulo em 1986 e Luís Inácio Lula da Silva era o líder do PT, que havia conquistado as prefeituras de São Paulo, Campinas, Santos e Vitória em 1988. Collor por sua vez era um ilustre desconhecido fora de Alagoas.

Luís Inácio assistiu atónito ao depoimento de uma ex-namorada chamada Mirian Cordeiro, que dizia para o Brasil inteiro que Lula tentou convencê-la a fazer um aborto para impedir o nascimento de uma menina, filha do casal. A menina, chamada Lurian, tinha 15 anos em 1989. Com essa revelação, Lula viu sua campanha dar a primeira estremecida.

Mas o golpe final, a pá de cal na sua campanha, veio há 72 horas da eleição, no último debate da disputa. Os números diziam que 90 milhões de brasileiros estavam acompanhando esse debate. Foi ali, especialistas afirmam, que a campanha se decidiu à favor de Collor. O desempenho de Lula foi péssimo. Lula passou as quase três horas do debate tentando dizer que Collor foi um mal governador de Alagoas, lugar esse onde Collor obteve 57% dos votos no primeiro turno.

Começou então a fazer acusações contra Collor que não tinham sustentações e nem provas. Collor o desafiou à provar e disse que tinha provas contrárias à tudo o que Lula estava falando e o senhor Luís Inácio não teve sequer uma palavra pra contra-argumentar, ficando calado, numa situação que hoje poderíamos dizer, que o Brasil inteiro sentiu uma vergonha alheia por ele.  

Em duas oportunidades, Collor disse que Lula não sabia a diferença entra uma fatura e uma duplicata. Lula ficou calado nas duas vezes, dando a entender que de fato ele não sabia. Collor então perguntou à Lula se ele concordava com Brizola, que dizia que João Paulo Bisol, vice na chapa de Lula, não passava de um corrupto. Lula nem defendeu Bisol e nem atacou Brizola, apenas disse que os dois tinham divergências que seriam resolvidas depois da eleição. A impressão que deu ao Brasil foi que ele, Lula, havia feito mesmo uma péssima escolha pra ser seu vice.  

Eu ainda não podia votar, devido à idade, mas aquela euforia da época fez com que todo mundo se envolvesse nessa disputa. A falta de preparo do PT e o comportamento esquerdista rebelde assustou grande parte da população votante. Lula era de fato uma pessoa assustadora. Até então, Collor era uma grande esperança pro país. E quanto a Lula? Todos pensavam que ele iria sair de cena e nunca mais botar a cara no país. Enganos em ambos os casos, aprenderíamos mais tarde.

Nenhum comentário: