sábado, dezembro 05, 2009

Meu velho

Hoje, dia 5 de Dezembro de 2009, meu pai estaria completando 61 anos caso estivesse ainda vivo. Ele se foi no final de Abril desse ano e dessa forma, esse é o primeiro aniversário dele que ele não está mais entre nós. A última vez que eu o vi ainda com vida foi em Janeiro de 2004. Esse é o outro lado de moeda de se morar fora. Na foto acima, eu, minha mãe e meu pai, na minha Primeira Comunhão, no Colégio Nossa Senhora das Neves, em 1984. Clique na foto que ela aumenta.

Não tenho arrependimentos quanto a isso. Todas as vezes que eu falava da distância, ele me dizia que eu não fizesse a asneira de voltar pro Brasil jamais, pois a bagunça estava generalizada. Ele tinha um verdadeiro pavor de Lula e sua corja. Segundo o próprio, mais conforto eu trazia pra ele estando aqui, dando uma vida decente pras minhas filhas, do que se estivesse por lá, no corre-corre pra tentar escapar.

Nós também não nos falávamos semanalmente ao telefone, mas quando nos falávamos, chegávamos às vezes há quatro horas de conversa. Estava olhando pra algumas contas de telefones antigas e pude constatar essa informação.

Por causa dessa distância, as pessoas que me conhecem hoje possuem a impressão que meu pai foi um pai distante e ausente. Totalmente infundado. Meu pai sempre foi um cara totalmente devotado aos filhos e nunca tive um problema em que ele não estivesse à minha inteira disposição. Sempre compreensível, sempre pronto a escutar o que eu tinha a dizer, meus argumentos. As vezes aceitava, mesmo sem concordar, numa demonstração de humildade e vontade de que eu aprendesse pelas minhas próprias quebradas de cara.

Meu pai adorava sentar-se junto aos meus amigos quando estes iam beber lá em casa. Lá ele escutava histórias, ria e se divertia à Beça. Contava algumas de suas histórias, sempre fazendo comparações entre os tempos, as meninas, as festas, os amassos.

Dos meus amigos do Neves, lembro-me bem de Ranyere, Tapuru e Alberto sempre conversando com ele. Da ETFRN, Alexandre. Da Combate Real, o saudoso Geraldo Segundo e Cristiano Couceiro. Depois que eu vim pro Canadá, do Queima, Kiko ficou bem amigo dele, Bruno encontrava-o de vez em quando em Pedro, assim como Tatá e logo em seguida, nos seus últimos anos de vida, Frederico ficou bem proximo.

Meu pai possuía uma elegância que só posso ligar aos genes, pois toda a sua família é elegante. São pessoas que nasceram pobres e conseguiram crescer na vida, mas carregam uma educacao e uma elegância impares. Poucas as vezes vi meu pai levantar a voz.

Uma vez apenas que lembro de tê-lo visto chorando. Grande parte da família da minha mãe é de Patu. E se não me engano, nessa época, minha tia Iolanda, irmã da minha mãe, estava namorando com Epitacinho, filho do nosso tio Epitácio Andrade, casado com nossa tia, Lourdinha Holanda, e que na época era prefeito de Patu. Não sei que tipo de arranjos se fizeram, pois eu devia ter uns 8 anos de idade e não tinha ideia, mas eu tive que acompanha-la na viagem.

Naquela época, a viagem de onibus de Natal a Patu durava quase 24 horas, com a gente saindo de manhã e chegando lá de madrugada. Meu pai devia estar com algum pressentimento, pois não queria de jeito nenhum que eu fosse. A família ficou convencendo-o, minha mãe brigando e no fim, ele permitiu que eu fosse. E foi até a rodoviária me deixar. Quando eu ia entrando no onibus, e ele chorava, chorava, como se eu não fosse mais voltar. Sentei na janela e fiquei olhando o onibus dando ré e indo embora e ele chorando copiosamente. Aquilo me abalou bastante, nunca tinha o visto chorando e nunca mais vi novamente.

Em um dos nossos últimos telefonemas, ele ainda não estava doente, eu tive a oportunidade de dizer a ele, que sorte meu Deus a minha, que tinha muito orgulho dele. Que mesmo ele não estar gozando de fartura financeira no final de vida, que pelo menos eu nunca havia encontrado ninguém nessa vida pra dizer que papai era desonesto, safado ou filho da puta. E ele rebateu dizendo que se orgulhava muito de mim, pois mesmo com toda a minha brutalidade (palavras dele), eu tinha amigos fieis e que gostavam muito de mim e, quem tem amigos assim, significa que tem grandeza. Me disse que encontrava com pessoas na rua que perguntavam se ele era o pai de Fabiano e ele não tinha a mínima ideia de quem se tratava. Ai o cara dizia que já tinha ido lá em casa, e que gostava muito de mim e isso enchia a alma dele.

Quando descobrimos que seu estado de saúde estava piorando, resolvemos ir ao Brasil. Mas eu ligava pra ele e ele mentia, dizendo que tudo estava bem, que estava melhorando. Marcamos de ir, minha irmã no dia 02 de Maio, meu irmão no dia 11 e eu no dia 12. Ele não esperou nem a minha irmã chegar lá. Acho que não queria que os filhos o vissem naquela debilidade.

Meu pai, fica com Deus, meu querido. Se você tiver certo e de fato existir um plano superior, pode ter certeza que a gente vai se encontrar. Por enquanto, vá tomando umas cervejas geladas com vovô Juvenal e mande ele contar umas poesias e charadas pra Segundinho, que ele vai gostar e dar uma gargalhada daquelas.

Um beijo bem grande e pode ter certeza que tentarei ao máximo passar os ensinamentos que você me ensinou pras suas netas. E evidentemente, estou tomando uma em sua homenagem.

Um comentário:

iolanda disse...

Meu amado sobrinho...Realmente vc é um homem de sorte, teve um pai e um amigo que o amava muito. A nossa viagem de férias a Patu, foi dificil de sair, pois ele não queria de jeito nenhum que vc fosse, mas eu tinha te prometido leva-lo comigo, vc queria ir de todo jeito...depois de prometer comer direitinho, pois só queria arroz branco e carne de sol...dava "um certo" trabalhinho para comer, lembra?
Suas filhas tb um dia se orgulharão de vc!!
Te amo!
Iolanda