Eu tenho um amigo cujo apelido é simplesmente “Matuto”.
Pouca gente fora do Rio Grande do Norte e estados vizinhos sabe o que é um
matuto. Na região sudeste acho que o matuto é conhecido como caipira. Na Bahia,
estado que não é do nordeste e nem do sudeste e nem de nenhuma região, chamam o
matuto de tabaréu.
Pois bem, pensando na matutice do meu amigo matuto, eu me
peguei pensando que eu sou muito mais matuto do que ele e nunca recebi esse
apelido. Eu me sinto um matuto de marca maior quando me deparo com um aparelho eletrônico.
Acho fantástica a matemática por trás daquilo.
Quando era pequeno, já era matuto. Meu pai, que sempre
foi intimamente ligado com as tecnologias de informação, me deu de presente um microcomputador
chamado TK-85. Era preto, pequeno e com essas teclas de borracha, péssimas pra
teclar. Você ligava-o à televisão, através daqueles dois ganchos, acoplados à
entrada da antena e ele aparecia na televisão, apenas um cursor piscando.
Caso você quisesse fazer algo surpreendente, como uma
linha cruzar a tela, teria que digitar umas 200 linhas numa programação chamada
Basic. Ou então pegar um gravador, desses toca-fitas, e colocar uma fita pra
tocar, própria do computador, e ligá-lo ao computador. Essa fita iria gerar
algum jogo idiota, tipo aquele das duas barras com a bolinha, pra você ficar
jogando de um lado pro outro.
Eu ficava impressionado. Olhava pros outros e eles todos
achavam aquilo a coisa mais normal do mundo. Aí hoje existe o Xbox Kinect, que
o cara parece que tá dentro do jogo. Aliás, o cara tá dentro do jogo. Fico mais
impressionado ainda. Todos acham aquilo a coisa mais normal do mundo.
Da mesma forma que me sinto um matuto com o comportamento
das pessoas de hoje em dia. Me sinto um matuto diante da impessoalidade das relações
humanas. Me sinto um matuto quando percebo que as pessoas não prezam mais pela
amizade, não se abrem com os amigos, não se deixam aquietar por um segundo.
Me sinto um matuto diante do desperdício de comida,
diante desse consumo excessivo, dessa mania de usar uma coisa e jogar fora pois
já está obsoleta no minuto seguinte. É pior do que a obsolescência programada.
É a obsolescência desleixada.
Me sinto um matuto porque tenho uma televisão que comprei
em 2007 e ainda não comprei uma modelo 2011. E mesmo essa 2007 foi comprada após
muito custo, pois a modelo 2004 que eu tinha ainda funcionava bem. Me deixei
vencer. E por sinal, a 2004 ainda funciona e muito bem. Por falar nisso, até
pouco tempo atrás eu tinha uma modelo 2000, pequena de 13 polegadas, que ainda
funcionava muito bem. Aposto que funciona ainda, mas minha mulher deu de
presente.
Na verdade, disse tudo isso pra dizer que eu odeio o
homem moderno. Aquele que não se espanta mais com nada. Aquele que pra ele tudo
tá “ok”. Aquele que usa gel no cabelo e sabe responder as perguntas das
entrevistas de trabalho. Eles são todos os uns robôs programados que não sentem
emoção em nada. Nem choram ao ouvir uma boa música.
Como disse Carlos Drummond de Andrade, isso não é civilização,
isso é uma porcaria!!!
Ninguém age mais com a própria cabeça. É tudo baseado num
pensamento pré-estabelecido de uma massa. Todo mundo é informado e ao mesmo
tempo não sabe de nada. A superficialidade das conversas reflete a
superficialidade das relações.
Que a terra nos seja leve!!!
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