sexta-feira, setembro 09, 2011

Eu sou muito matuto

Eu tenho um amigo cujo apelido é simplesmente “Matuto”. Pouca gente fora do Rio Grande do Norte e estados vizinhos sabe o que é um matuto. Na região sudeste acho que o matuto é conhecido como caipira. Na Bahia, estado que não é do nordeste e nem do sudeste e nem de nenhuma região, chamam o matuto de tabaréu.

Pois bem, pensando na matutice do meu amigo matuto, eu me peguei pensando que eu sou muito mais matuto do que ele e nunca recebi esse apelido. Eu me sinto um matuto de marca maior quando me deparo com um aparelho eletrônico. Acho fantástica a matemática por trás daquilo.

Quando era pequeno, já era matuto. Meu pai, que sempre foi intimamente ligado com as tecnologias de informação, me deu de presente um microcomputador chamado TK-85. Era preto, pequeno e com essas teclas de borracha, péssimas pra teclar. Você ligava-o à televisão, através daqueles dois ganchos, acoplados à entrada da antena e ele aparecia na televisão, apenas um cursor piscando.

Caso você quisesse fazer algo surpreendente, como uma linha cruzar a tela, teria que digitar umas 200 linhas numa programação chamada Basic. Ou então pegar um gravador, desses toca-fitas, e colocar uma fita pra tocar, própria do computador, e ligá-lo ao computador. Essa fita iria gerar algum jogo idiota, tipo aquele das duas barras com a bolinha, pra você ficar jogando de um lado pro outro.

Eu ficava impressionado. Olhava pros outros e eles todos achavam aquilo a coisa mais normal do mundo. Aí hoje existe o Xbox Kinect, que o cara parece que tá dentro do jogo. Aliás, o cara tá dentro do jogo. Fico mais impressionado ainda. Todos acham aquilo a coisa mais normal do mundo.

Da mesma forma que me sinto um matuto com o comportamento das pessoas de hoje em dia. Me sinto um matuto diante da impessoalidade das relações humanas. Me sinto um matuto quando percebo que as pessoas não prezam mais pela amizade, não se abrem com os amigos, não se deixam aquietar por um segundo.

Me sinto um matuto diante do desperdício de comida, diante desse consumo excessivo, dessa mania de usar uma coisa e jogar fora pois já está obsoleta no minuto seguinte. É pior do que a obsolescência programada. É a obsolescência desleixada. 

Me sinto um matuto porque tenho uma televisão que comprei em 2007 e ainda não comprei uma modelo 2011. E mesmo essa 2007 foi comprada após muito custo, pois a modelo 2004 que eu tinha ainda funcionava bem. Me deixei vencer. E por sinal, a 2004 ainda funciona e muito bem. Por falar nisso, até pouco tempo atrás eu tinha uma modelo 2000, pequena de 13 polegadas, que ainda funcionava muito bem. Aposto que funciona ainda, mas minha mulher deu de presente.

Na verdade, disse tudo isso pra dizer que eu odeio o homem moderno. Aquele que não se espanta mais com nada. Aquele que pra ele tudo tá “ok”. Aquele que usa gel no cabelo e sabe responder as perguntas das entrevistas de trabalho. Eles são todos os uns robôs programados que não sentem emoção em nada. Nem choram ao ouvir uma boa música.

Como disse Carlos Drummond de Andrade, isso não é civilização, isso é uma porcaria!!!

Ninguém age mais com a própria cabeça. É tudo baseado num pensamento pré-estabelecido de uma massa. Todo mundo é informado e ao mesmo tempo não sabe de nada. A superficialidade das conversas reflete a superficialidade das relações.

Que a terra nos seja leve!!!

Nenhum comentário: