domingo, setembro 12, 2010

A Sadia - Parte 1

Uma das maiores empresas brasileiras levou um baque no ano passado. Anos e anos de história e esforço do seu fundador, Attilio Fontana, foram por água abaixo. Em 1986, abriram uma corretora, a Concordia, em homenagem ao nome da cidade onde a empresa foi fundada. A intenção era apenas operar com as ações da empresa, mas com óptimos resultados, passou a oferecer os serviços à terceiros. Sem saber, esse foi o primeiro passo pra derrocada da Sadia.

A história da Sadia começava em 1943, quando o gaúcho Attilio Fontana anunciou a sua saída da empresa que era sócio, a Moinho Concordia. Como ele era um comerciante conhecido e tinha bom nome na redondeza, atendeu a um pedido do prefeito pra entrar na sociedade e evitar a falência do moinho, que incluía também um frigorifico. Com a entrada de Attilio, o negócio saiu do vermelho.

Os sócios imploraram pra que ele não saísse e Attilio disse que ficaria se lhe dessem mais de 50% do negócios e fosse o controlador. E que todos os sócios teriam que lhe vender suas ações pela metade do preço e que se quisessem poderiam sair que ele pagava o dinheiro à vista, mas que poderiam continuar como sócios minoritários, caso desejassem. A maioria concordou e escolheram permanecer na sociedade. Naquele dia, Attilio decidiu o passo fundamental da sua carreira de empresário. Deixava de ser comerciante pra se tornar industrial.

Attilio nasceu em 1900, em Santa Maria da Boca do Monte, no Rio Grande do Sul. Descendente de italianos, falava com carregado sotaque e só vestiu sapato pela primeira vez aos 15 anos.

Bem, o primeiro desafio de Attilio no Moinho Concordia foi comprar maquinário pro frigorífico, mas como o mundo estava em guerra e o comércio oceânico havia parado, ele comprou o maquinário de um frigorífico que havia falido em Guaporé, RS.

Em Novembro de 1944, as máquinas entraram em operação no frigorífico e o produto principal era o porco, que virava linguiça, salsicha, salame e banha. Em seis meses, já abatiam 200 porcos por dia e Attilio mudou o nome da empresa pra Sadia, onde as duas primeiras letras eram de SA (Sociedade Anonima) e DIA eram as três últimas letras de Concordia.

A empresa começou a usar técnicas novas de higiene e conservação através de um sobrinho de Attilio, chamado Victor, que se formara em engenharia química. Também investiu em frangos e perus e mandou empregados estudarem técnicas de alimentos semi-prontos e congelados nos Estados Unidos e Europa. E abriram escritórios em São Paulo e no Paraná. Attilio entrou pra política, chegando a senador da república.
No começo dos anos 50, a Sadia sofria com as perdas de produtos perecíveis, por causa dos longos trajetos dos caminhões entre Concordia e os grandes centros consumidores e os produtos chegavam aos consumidores quase na data de validade.

Omar, filho de Attilio, teve a ideia de transportar a carga de avião e alugou um Douglas DC3 da Panair. A Panair só cedia os aviões aos domingos, então a Sadia o comprou. Outro problema surgia: o alto preço da gasolina dos aviões. Assim para ter acessos aos benefícios fiscais que o governo dava às companhias aéreas, entre eles a redução do preço do combustível de avião, Omar Fontana sugeriu que se arrendassem mais dois aviões, caracterizando assim a existência de uma empresa aérea. Com essa pequena frota foi criada em 1955, a Sadia Transportes Aéreos.

O transporte por avião deu uma vantagem competitiva à Sadia. Seus produtos chegavam aos consumidores mais rápido do que os produtos dos concorrentes. Nas horas ociosas, os aviões eram usados pra servir a terceiros. Com o tempo, a Sadia Transportes Aéreos virou a Transbrasil, que chegou a ter mais de 20 jatos e rotas pro exterior. Mas quando isso aconteceu, a Sadia não usava mais o transporte aéreo, pois com a melhoria das estradas e com os caminhões refrigerados, era mais barato fazer o transporte por terra. Em 2001, depois da morte de Omar Fontana, a Transbrasil quebrou.

Attilio morreu em 1989. Em 1994, o comando da companhia foi transferido pra terceira geração da família, a dos netos de Attilio. Luiz Fernando Furlan, o neto predileto, assumira a presidência do conselho de administração. Walter Fontana Filho, assumia a presidência executiva. Eles foram escolhidos pelas nove famílias dos filhos do fundador, alem dos sobrinhos, que juntos somavam quase 100 herdeiros.

Então, entre 1994 e 2003, Luiz e Walter não se falavam, o gerava muita confusão entre ordens e contra ordens, deixando os executivos perdidos. Luiz não falava com Walter pois esse denunciou falcatruas do pai dele, Osório Furlan, um genro de seu Attilio que fora colocado pra fora da empresa em 1983. A raiva de Luiz por Walter nunca passou.

Por isso o crescimento da empresa foi meio desviado. As últimas filiais de peso que a Sadia abriu, que foi em Tóquio, Milão e Buenos Aires, foram abertas no começo dos anos 1990. E fizeram também poucas aquisições. Em 1999, compraram a Miss Daisy, de sobremesas geladas e a Granja Rezende, de pesquisa genética e produção de aves e suínos.

Mas apesar das brigas, a Sadia crescia. As exportações saltaram de 500 milhões de dólares em 1994 pra 2,3 bilhões de dólares em 2007. O valor de mercado da empresa passou de 450 milhões de dólares pra 3,8 bilhões de dólares no final de 2007. Em 2007, a Sadia pagou 74 milhões de dólares em dividendos.

Por outro lado, a Perdigão, maior concorrente e originária também de imigrantes italianos, estava a beira da falência em 1994, quando foi comprada por 9 fundos de pensão, entre eles o Previ dos funcionários do Banco do Brasil. A Perdigão foi oferecida à Sadia, que não se interessou. Os fundos contrataram Nildemar Secches, um executivo vindo do BNDS. Em 2007, a Perdigão reestruturada atingiu o valor de 4,6 bilhões de dólares, superando a Sadia pela primeira vez na história das duas companhias.

Em 2002, o economista Oscar Malvessi mostrou aos executivos da Sadia que desde 1996, o lucro da Sadia vinha em grande parte de transações com papel e não mais com frango e peru. O seu Attilio já havia dito que não desejava que isso acontecesse. E foi por isso que as coisas deram errado.

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