segunda-feira, setembro 13, 2010

Fatos para serem lembrados 8: A devolução do Canal do Panamá

As terras onde fica o Panamá hoje em dia foram arrancadas da Colômbia pelos Estados Unidos na base da diplomacia do canhão e foram levados à independência em 1903.

Quase 100 anos depois, no final dos anos 1990, O Canal do Panamá, que une os dois maiores oceanos do planeta, foi devolvido ao Panamá. Os americanos devolviam ao governo panamenho uma das maiores obras de engenharia do século 20.

A assinatura de devolução do Canal foi assinada em 1977 e dava o direito dos Estados Unidos intervirem militarmente na região caso a livre navegação nessa passagem estratégica seja ameaçada por algum ditador maluco.

A vontade de passar pelo Istmo do Panamá existia desde do tempo dos navegadores que descobriram o Novo Mundo. Quando chegaram à região, os espanhóis não se conformavam com a sacanagem da natureza: uma faixa de menos de 100 quilômetros impedia a navegação entre os oceanos, o que evitaria uma volta continental.

Em 1534, o imperador Carlos V encomendou um plano pra retirar a faixa de terra. Com a tecnologia disponível na época, tudo não passava de um sonho. Mas em 1879, a França disse que conseguiria tal feito. A França havia acabado de abrir o Istmo de Suez, no Egito, e construído com isso um canal com o dobro da extensão do que pretendido no Panamá. Por isso estavam tão confiantes.

Ferdinand de Lesseps, que chefiou a construção do Canal de Suez, subestimou a tarefa no Panamá. Morreram ali 20 mim trabalhadores. Eles chegaram ali em Janeiro de 1881 e encontraram um cenário hostil, com aranhas, cobras peçonhentas, e logo descobriram que uma coisa era escavar no terreno desértico do Egito e outra era tentar cortar ao meio uma montanha tropical pra fazer um canal no nível do mar. as chuvas torrenciais no Panamá que duram dois terços do ano causavam deslizamentos de terra soterrando trabalhadores e equipamento.

Se isso não fosse o suficiente, os trabalhadores morriam feito moscas, devido à febre-amarela e malária. E não só eles. Os administradores e seus familiares também morriam dos efeitos dessas doenças.

Os franceses concluíram 25% das escavações e em 1888, a Companhia Universal do Canal Interoceanico quebrava e os franceses deixavam a obra inacabada. Foi quando chamaram os Estados Unidos pra entrarem em cena. O país tinha o maior interesse em reduzir os 14 mil quilômetros que separavam Nova York de San Francisco, que tinha que ser feita pela Terra do Fogo, na extremidade da América do Sul. Assim como, queriam dominar essa passagem de ligação entre Pacifico e Atlântico.

O então presidente americano Theodore Roosevelt decidiu comprar a história e mandou bala. De quebra, conseguiu a independência do Panamá e criou bases para as operações militares americanas no continente.

Em 1904, os americanos sofriam tanto quanto os franceses com a chuva e a febre-amarela. Porem, John Stevens, o engenheiro chefe da obra, com 52 anos de idade, tinha experiencia em terras hostis pois houvera trabalhado em muitas construções de estradas de ferro no oeste dos Estados Unidos.

Havia enfrentado índios, matilhas de lobos e condições primitivas de sobrevivência. Ele percebeu que antes de continuar cavando, ele teria que erradicar as doenças. Deu carta-branca ao médico William Gorgas pra erradicar a febre-amarela.

Os franceses, apesar de terem construídos modernos hospitais, cometeram o erro de deixar baldes de água perto das camas dos pacientes pra afastar as formigas. E com isso espalhavam pelo hospital os focos de atracão dos mosquitos transmissores das doenças. Gorgas encontrou o erro e no final de 1905, a febre-amarela estava controlada.

Ainda assim, o total de mortos americanos foi de 5000, a maioria por soterramento. Em 1906, chegaram a um consenso: se o clima, o relevo e a vegetação tornam inviável fazer o talho no continente, porque não fazer com que os navios escalassem os obstáculos?

Decidiram então construir as oclusas e só assim o projeto deslanchou. Stevens abandonou a obra, que passou a ser tocada por um tenente-coronel chamado Thomas Goethals. A Passagem Culebra, hoje chamada de Gaillard, foi vencida com seus 12,6 quilômetros de extensão. O Rio Chagres foi represado, dando origem ao lago artificial Gatun e assim, em 1914, a navegação mundial ganhava um importante atalho.

Com 33,5 metros de largura e 306 metros de altura, as oclusas são o grande segredo do canal, que chegam a levar os navios a 26 metros acima do nível do mar. o sistema é baseado apenas na força da gravidade, que faz com que a água do Lago Gatun vá enchendo os degraus formados pelas oclusas, elevando o navio de patamar.

Separando cada estágio, estão outros pontos fortes da obra, que são as majestosas portas de aço, que na eclusa de Miraflores chegam a ter 25 metros de altura e pesam mais de 700 toneladas. Para que suas dobradiças não fossem sobrecarregadas, entrou em cena o princípio de Arquimedes. Impermeáveis e ocas, as portas abrem e fecham sobre as águas, recebendo um empuxo que alivia o seu peso monumental.

A represa que possibilitou o nascimento do canal, é responsável por gerar energia elétrica pra própria sustentação do Canal e assim como, para municípios vizinhos. Com a devolução dos Estados Unidos, o dinheiro do pedágio, que soma quase 2 bilhões de dólares por ano, passou a ser todo do governo do Panamá, que está engajado numa obra de alargamento do Canal, iniciada pelos Estados Unidos.

Um comentário:

Anônimo disse...
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