sábado, outubro 16, 2010

Imigração 2: os problemas dos dekasseguis

Os brasileiros que trabalhavam no Japão no final dos anos 1990 enfrentavam problemas que contradiziam as impressões dadas pelas maravilhas da imigração. Na verdade, a vida de um trabalhador brasileiro no Japão naquela data nada tinha de confortável ou próspera.

O dia-a-dia das fábricas era pesado, repetitivo e autoritário. O relacionamento com os japoneses era geralmente formal e restrito ao local de trabalho. A maioria dos dekasseguis, como são chamados os trabalhadores estrangeiros, só se atreviam a gastar o essencial, guardando o dinheiro suado para o dia de voltar pra casa. Sem luxos, sem eletrônico, sem lazer, somente poupança.

A única coisa que os fazia trabalhar todo dia nesse ambiente hostil de autoritarismo e discriminação social era o sonho de abrir um negócio por conta própria ou comprar a casa própria, quando voltassem pro Brasil.

No final da década de 1990 esse sacrifício não estava valendo tanto a pena. Talvez tenha valido quando a prosperidade nipónica estava de vento em popa e se podia dobrar o salário com horas extras. Mas a situação havia mudado e a recessão fez minguar a oferta de empregos e praticamente acabaram-se as horas extras.

A procura por trabalhadores estrangeiros havia caído quase que 80% e os salários que facilmente chegavam a 5 mil dólares, nessa época não chegavam a 3 mil dólares mensais. Isso era muito pouco, pois só pra se ter uma ideia, na mesma época, uma laranja custava 1 dólar. E pra piorar, eles ganhavam em Ienes, que estavam se desvalorizando à passos largos com relação ao dólar.

A saída em massa dos brasileiros pro Japão se deu no começo dos anos 1990, quando se vivia no Brasil um período de grande falta de esperança. No final da década de 1990, havia 220 mil brasileiros trabalhando no Japão, na sua maioria, descendentes de japoneses.

A maioria deles entrava no Japão seguindo o seguinte esquema: empresas de mão-de-obra pagam a passagem do trabalhador e vivem num sistema de vales e contas que nunca são pagas, escravizando os pobres diabos que vão em busca de uma vida melhor. E ainda moram nos alojamentos e tem que pagar gás, luz, aluguel e até o aluguel da bicicleta. Nada é de graça. Lembra muito aqueles trabalhadores do garimpo ou da borracha, que nunca conseguiam pagar duas “dívidas” com os donos do local.

Chegando lá, o trabalhador aprende logo duas palavras: Hayaku (mais rápido) e damê (está errado). Os japoneses são metódicos e inflexíveis e pecam pela falta de criatividade. O sistema japonês detesta reclamações por parte dos funcionários e detesta também qualquer mudança. Só falavam com os funcionários estrangeiros aos berros e pra mostrar um trabalho, as vezes, os estrangeiros são puxados pela gola.

Li há algum tempo um artigo no Toronto Star que dizia que o Japão estava com enormes problemas por causa da força de trabalho que está envelhecendo e eles não estão conseguindo preencher essa lacuna por se recusarem a criar leis de imigração decentes, que respeitem o estrangeiro. Tomara que se fodam, pra deixarem de ser intransigentes.

No meu trabalho, um japonês derrubou um pote de café no chão da cozinha. Uma senhora canadense estava ao lado dele. Ele começou a sair e a senhora perguntou se ele não iria limpar aquela sujeira, no que ele respondeu que não, que ele era homem e homem não limpa porra nenhuma. A mulher disse só se for no seu país, pois aqui não importa se quem sujou é homem, mulher ou macaco. Sujou tem que limpar.

Ele abaixou-se e limpou com papeis toalha. Eu que assistia a tudo quieto, só aumentava o constrangimento daquele sujeito, que por estar limpando o chão, acho que iria se matar de tanta vergonha. E a mulher ao lado dele supervisionando. No final ele ainda disse: se minha mulher me visse limpando o chão iria ficar altamente ofendida, pois o marido dela não foi feito pra isso. É brincadeira? Eu só tinha vontade de chutar a cabeça dele enquanto ele estava abaixado. Eu pensava se ele é arrogante assim aqui, imagine então essa belezura lá no Japão, na casa dele?

Outro japonês do trabalho criticou um canadense pois o mesmo estava de papo com a faxineira. Ele queria saber como era possível um cara que era engenheiro abrir a boca pra falar com uma faxineira? Aquilo pra ele era inadmissível.

Vou dizer. Temos que ter um saco do tamanho do de papai noel.

2 comentários:

Anônimo disse...

O Japão hoje é uma ilusao, empresas grandes exploram os trabalhadores estrangeiros. Nao pagam ferias e cobram alugueis mais caros para voce morar em seus apartamentos.
Grandes empresas fazem isso como Suzuki, sony e etc.

Fabiano cavalcante disse...

foi o que eu ouvi falar. só doido vai pra lá hoje. ou entao está muito desesperado...