segunda-feira, outubro 04, 2010

A Sadia – Parte 2

Bem, dando continuidade à história da Sadia. Quando o neto predileto do seu Attilio Fontana, Luiz Furlan era o presidente do conselho, foi que começaram as aplicações financeiras. Em 2003, ele deixou o cargo pra se tornar ministro do Desenvolvimento de Lula e antes de sair, ele colocou o seu pai, Osório Furlan como seu representante no conselho. Osório este que havia sido demitido pelo próprio Attilio, em 1983.

Na apresentação que Oscar Malvesse fez na Sadia em 2007, ele disse que o lucro operacional (que vinha das vendas dos produtos) representava apenas 57% dos ganhos da empresa e que os outros 43% provinham de transações financeiras. Nas grandes empresas, esses ganhos com operações financeiras não passam de 10% do lucro total.

Entre 2002 e 2007, as vendas da Perdigão cresceram 73% a mais do que as da Sadia.

Em Setembro de 2008, o presidente Walter Fontana Filho, estava tentando comprar o Frangosul, do grupo francês Doux, o maior produtor europeu de aves e embutidos. A Sadia iria desembolsar 1,2 bilhão de reais por essa empresa. Pouco tempo depois, o diretor financeiro, o baiano Adriano Ferreira mandou cancelar a compra da Frangosul, pois havia perdido o controle das operações de câmbio e que a Sadia estava com 5 bilhões de dólares a descoberto no mercado de derivativos.

A Sadia tinha fechado posições de câmbio a 1,60 real e apostado que o dólar não subiria. Mas naquele dia, a moeda chegou a pouco mais de 1,80 e essa diferença, pelo contrato com os bancos, tinha que ser paga em dobro. São as chamadas operações 2 por 1. Com isso, a cada subida do dólar, a Sadia tinha que fazer um depósito na BMF para honrar seus compromissos. Como era obrigada a zerar diariamente essas posições, o caixa da empresa e sua liquidez estavam ameaçados.

A sangria começou com a implosão do mercado imobiliário americano, que fez com que o dólar começasse a subir. Adriano estava mantendo o quadro em segredo e já havia gasto mais de 500 milhões de reais pra cobrir as posições, usando o capital de giro da Sadia.

Walter Fontana então convocou uma reunião emergencial com membros da direção. Entre eles estavam Cassio Casseb, ex-presidente do Banco do Brasil, Eduardo D’Ávila, vice-presidente do conselho de administração, Roberto Faldini, conselheiro responsável pelo comité de auditoria, José Antônio Gragnani, da corretora Concórdia e João Ayres Rabello, executivo contratado poucos meses antes pra tocar o projeto da abertura de um banco da empresa, chamado Banco Concórdia.

Trabalharam duro até a noite e conseguiram reduzir a exposição da Sadia de 5 pra 3,4 bilhões de dólares. Morria ali quase um terço do problema. Mas as coisas iriam piorar ainda mais. Tentaram pegar 1,5 bilhão de reais da Fundação Attilio Fontana, mas o presidente da fundação não deixou, alegando que ali Attilio tinha colocado 30% do seu património pessoal, que não seria tocado. Os familiares foram então avisados que, do dia pra noite, a maior empresa de alimentos do país estava a beira da falência.

Walter, engolindo o orgulho, foi pedir ajuda ao primo Luiz. Luiz era dono de 23% das ações da Sadia, havia saído do governo meses antes e em vez de retornar a Sadia, se envolveu num projeto ambientalista na Amazônia. No momento da bomba, Luiz estava no Japão participando de uma reunião do conselho da Panasonic. O prejuízo total com os derivativos foi de 2,5 bilhoes de dólares.

Aí entra o PT. Furlan, que havia sido ministro de Lula, procurou o presidente pra pedir ajuda. Eles queriam um empréstimo do BNDS. Lula entregava de bandeja a Sadia para as mãos da concorrente Perdigao. Do mesmo jeito que forçou a venda da Brasil Telecom pra Oi, Lula viu a oportunidade de criar uma grande empresa nacional no setor de alimentos.

Surgia assim a Brasil Foods, com 25 bilhoes de reais em vendas, sendo 10 bilhoes somente de exportacoes. Contava com 4,2 bilhoes em investimentos e 120 mil funcionários, espalhados por 64 fábricas.

A Sadia tinha 32% da nova empresa, onde 12% eram da família, contra 68% da Perdigao, que tinham também a presidência executiva da empresa.

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